• Sylvain Justum
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Silvia Fu  (Foto: Júlia Rodrigues)

Silvia Fu (Foto: Júlia Rodrigues)

Conteúdo na veia

Líder de conteúdo scripted HBO e HBO Max Brasil, Silva Fu adquiriu experiência para entregar ao público brasileiro produções pautadas pela qualidade visual e pela diversidade de narrativas. Símbolo de crescimento da mulher no segmento audiovisual, ela acredita, no entanto, que o futuro é não-binário.

Silvia Fu tem o cinema correndo nas veias. Com quase 30 anos de experiência em empresas de comunicação nacionais e internacionais, ela sempre se pautou por uma busca obstinada pela qualidade visual. Viciada em televisão e fã da trajetória de Oprah Winfrey, Fu – como é conhecida na área – construiu uma relação íntima com a tela desde a infância, marcada pelo fascínio que a cerimônia do Oscar lhe causava anualmente. Depois de ter estagiado na HBO nos anos 1990, quando a TV a cabo ainda preparava uma revolução nos hábitos do público brasileiro, ela experimentou o que chama de “aprendizado de guerra na TV aberta”. Hoje, ela está de volta às suas origens, como responsável pela produção de séries de ficção do grupo Warner Bros. Discovery, além dos conteúdos realizados com dinheiro incentivado no Brasil. De natureza multitask, Fu aponta essa característica como uma virtude feminina, ainda que a sua rotina semanal precise ser muito bem construída para equilibrar as funções executiva e artística, nas quais brilham o seu olhar apurado sobre o público nacional e a sua percepção sobre a evolução da mulher no audiovisual.

Com tradição em ter mulheres na produção executiva, o Brasil derrubou barreiras em outros espaços nos últimos anos. “As vozes de comando eram masculinas, o set era um ambiente muito masculino; essa dinâmica mudou, sobretudo nas áreas técnicas”, analisa Fu. “Por que a mulher não pode gostar de tecnologia? Hoje temos ótimas profissionais em áudio, câmera... Esse preconceito diminuiu muito de cinco anos para cá. Em projetos 100% femininos, era uma luta para montar as equipes. Ainda temos poucas mulheres nessas posições, mas elas existem.”

Para Fu, o maior progresso no segmento brasileiro é mesmo o respeito pelas opiniões femininas, atrás das câmeras e na frente delas. Ela lembra de situações durante as gravações da série Rua Augusta (2018), com a atriz Fiorella Mattheis interpretando a protagonista stripper Mika, em que ficou evidente que nada ali seria gratuito. “Ela disse que não queria ser apenas a loira engraçada e sexy, e botou a mesma intensidade nas cenas de dança e em momentos dramáticos. A sensualidade foi menos imposta, tivemos avanços enormes nos textos a partir do momento em que as atrizes puderam ter voz ativa e defender seus pontos de vista sobre o roteiro”, conta Fu. Segundo a executiva, existia antes uma abordagem muito maniqueísta, porque só os homens escreviam. “As mulheres hoje têm abertura para propor as suas ideias; elas estão muito melhor representadas.” De forma geral, Fu aponta essa mudança na qualidade do texto como fator fundamental para a evolução das produções audiovisuais brasileiras. “Tecnicamente sempre estivemos muito bem, o problema estava na narrativa. Não tínhamos uma tradição tão grande com séries; levou alguns anos para termos roteiros muito bons e, hoje, fazemos séries maravilhosas .

Os atores também entenderam que o ritmo e o jeito de atuar eram diferentes da TV aberta”, analisa. Em relação à audiência, ela encara a diversidade do público brasileiro como um universo de oportunidades e estratégias. “Nas séries podemos falar de assuntos mais nichados com profundidade. Estamos preocupados em conversar com ‘todos os Brasis’ ao mostrar diferentes prismas e pensar regionalmente. Fizemos Pacto de Sangue, em Belém, vamos fazer Torto Arado, que é super regional também. Acredito que quanto mais fiéis formos ao mundo real, mais interesse vamos despertar no público, que não aceita qualquer coisa; ele quer se sentir representado e ver verdade na tela”, diz Fu, que enxerga o espectador nacional como sofisticado, apesar de complexo. “Todo mundo tem que ver algo para se relacionar, essa é a ideia.”

Complexa também é a rotina de Fu, já que divide metodicamente a sua semana em: momentos “executivos”, compostos por reuniões virtuais ou almoços profissionais, durante os quais conhece novos projetos e pessoas; e “artísticos”, que envolvem idas a sets de filmagens, além de tempo para ler roteiros e assistir aos conteúdos da HBO Max. “Não abro mão desse equilíbrio e sou obrigada a bloquear a agenda para fazer a parte artística, caso contrário, o lado  executivo passa por cima.”

Filha de pai cinéfilo, Fu já realizou o sonho de menina de conhecer o red carpet do Oscar in loco e trabalhou com o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, ícone da cobertura televisiva da cerimônia. Em uma vida profissional que se confunde com a pessoal, Fu é casada com a roteirista Fernanda Leite, mas não acredita na frase feminista “The Future is Female”, surgida nos anos 1970. “Não acredito que o futuro seja feminino ou masculino, é de todes. O que eu mais gosto no audiovisual é que é praticamente impossível trabalhar sozinho, todo mundo se complementa, é um organismo sem gênero.”

Paula Kirchner (Foto: Divulgação )

Paula Kirchner (Foto: Divulgação )

Liderança multicultural

Diretora de conteúdo não-roteirizado da Warner Bros. Discovery Latam, Paula Kirchner está há mais de 20 anos no universo do entretenimento. Buscando sempre desafiar o público, que para elab nunca está ganho, a executiva argentina está sem eterna construção, e traz esse desafio para sua equipe

Paula Kirchner é uma líder com visão de futuro, que usa boas ideias e inovação para se conectar com os mais diversos públicos, incentivar experiências e promover o trabalho em equipe. Com esses atributos, ela é responsável atualmente pelos times de produção de conteúdo não-roteirizado na América Latina para a HBO Max. Tamanha responsabilidade vem acompanhada de uma obsessão pela qualidade e por contar histórias que emocionam. “Queremos seguir consolidando o conhecimento da indústria e as tendências, gerando ideias e contribuindo com a força da marca”, diz a executiva, que reconhece ter encontrado lugar para a sua voz e para as de outras mulheres na Warner Bros. Discovery.

Kirchner começou sua carreira na TELEFE, emissora de TV aberta líder na Argentina. Durante 20 anos, adquiriu arcabouço e ferramentas de liderança com visão de futuro. E atribui muito de seu sucesso a algumas pessoas do setor. “O Tomas Yankelevich e o Richi Pichetto sempre me incentivaram com ideias e inovação para conectar com a audiência; fomentando experiências e impulsionando sempre o trabalho em equipe”, admite ela. Ainda assim, a executiva presta reverência às mulheres que vieram antes dela e derrubaram estereótipos e preconceitos para preparar o terreno para as gerações futuras. “Admiro aquelas que, há 15 ou 20 anos, chegaram num lugar importante dentro da indústria. Se hoje é difícil o trabalho que têm feito produtoras e diretoras, deve ter sido muito mais complicado e dolorido naquela época. A contribuição delas tem um valor inestimável, pois abriram o caminho para todas as mulheres que chegaram depois”. Por isso, Kirchner não faz distinção de gênero quando se trata de admiração profissional. “O que me provoca admiração são valores humanos e talento, e talento não tem gênero.”

Agregadora, a executiva cuja formação acadêmica plural inclui produção e direção para TV, fotografia, história da arte e curadoria, preza pela importância do trabalho em equipe – vital e imprescindível, segundo ela, para a indústria do audiovisual. “Escutar outras vozes, aprender com os mais novos, errar, começar de novo e absorver outros olhares são processos dos mais enriquecedores.” Nesse contexto, a diversidade e a inclusão tornaram-se pilares de sua estratégia de conteúdo. Paula cita os reality shows Queen Stars Brasil – competição focada no universo drag queen, apresentada por Pabllo Vittar e Luísa Sonza – e o mexicano 40 No Es Nada – reality de relacionamento em que mulheres de meia idade buscam encontrar um amor – como exemplos de programas que dão visibilidade a comunidades ou temáticas pouco representadas. “As histórias apresentadas ali desenvolvem um grande poder de nos aproximar como sociedade e nos ajudam a repensar o mundo.”

Outro grande desafio do cargo de Paula na companhia é conseguir criar projetos que funcionem localmente, levando em consideração diferenças culturais e do idioma na América Latina, mas que conectem com fãs de entretenimento do mundo todo. “Com a minha equipe, além de sempre estarmos procurando a excelência, nos preocupamos muito em ser assertivos em cada território. Cada país tem a sua idiossincrasia muito marcada. Tem conteúdo que precisa ser pensado e realizado com coração local, com a voz de cada lugar. Compartilhamos o continente, e isso nos conecta, mas somos apaixonados por pensar os conteúdos para cada país em particular. É uma tarefa superdesafiadora, mas gratificante”, explica. Um exemplo desse foco em produções locais é a série documental Pacto Brutal, baseada no processo criminal do caso Daniella Perez. A história do trágico assassinato que chocou o país no início dos anos 90 será contada a partir da perspectiva de sua mãe, a escritora e autora Gloria Perez, família e amigos.

É com esse foco na identidade cultural de cada país que Kirchner e sua equipe trabalham, garantindo conteúdo de alta qualidade e que cativa a audiência. “A HBO Max aposta em produções originais locais envolvendo talentosos criadores da América Latina que trazem histórias conectadas com a cultura local, mas também para fãs de entretenimento do mundo todo. Nosso objetivo será sempre cativar a nossa audiência com conteúdos surpreendentes e de alta qualidade, com personagens que as pessoas amem e com os quais possam se identificar através da emoção”, comenta. Mas a identificação não é o único objetivo, a equipe procura também a geração de uma discussão com a sociedade. “Estamos em busca de histórias novas, originais e relevantes, que contribuam para gerar diálogos essenciais na nossa sociedade. Sempre realizadas com alta qualidade, com o melhor do talento de cada lugar, com tramas poderosas e personagens cativantes.”

Perguntada se existe um público mais difícil de conquistar na América Latina, Paula responde com uma lição: “Nenhum público está conquistado nunca. Quando eu acreditar que algum público está ganho, estarei errada.”

Joana Jabace (Foto: Júlia Rodrigues)

Joana Jabace (Foto: Júlia Rodrigues)

Doce potência

Diretora artística de novelas da HBO Max Brasil, Joana Jabace assinará a direção da primeira novela da HBO Max. A carioca faz da experiência na TV aberta o seu trunfo para atualizar o gênero no streaming. De personalidade assumidamente forte, ela equilibra as paixões por dirigir atores e pela família.

O porte franzino e a fala doce de Joana Jabace disfarçam uma potência capaz de impor o seu talento em um ambiente tradicionalmente masculino, equilibrar maternidade e grandes desafios profissionais e superar traumas com muita maturidade. A diretora de Segundas Intenções, nome provisório da primeira novela da HBO Max, com Camila Pitanga e Alice Wegmann no elenco, está pronta para gravar seu nome no streaming, assim como fez na TV aberta. Formada em jornalismo pela PUC-Rio, Joana começou a trabalhar como assistente de direção em documentários, ao lado de Eduardo Escorel e Eduardo Coutinho, na produtora dos irmãos Salles (Videofilmes), e encontrou ali o elo perfeito entre a sua formação acadêmica e o cinema. Com o tempo, através dos personagens dos documentários, descobriu que toda narrativa é calcada em personagens, pela troca entre diretor e ator. “Eu só sou diretora porque amo dirigir atores, essa relação é a minha grande paixão”, diz ela, que entrou na Globo aos 22 anos, depois de enviar seu currículo para a emissora e passar por diversas etapas de seleção. Seu estilo de direção deixa margem para o improviso e para o imprevisto, porque, segundo ela, “tem algo do momento que faz parte da beleza do trabalho.” Sempre aberta a escutar o que o outro tem a dizer, a mudar de ideia e de caminho no meio do processo, Joana absorveu a coragem e a personalidade forte de diretoras como Amora Mautner, de quem foi assistente por muito tempo. Juntas, fizeram novelas de sucesso como Paraíso Tropical e a inesquecível Avenida Brasil.

Joana chegou à Warner Bros. Discovery Brasil em 2021, e encara a responsabilidade de emplacar o formato das novelas em uma nova plataforma com entusiasmo. “Estamos no meio de uma mudança de costumes, e essa transição, da TV aberta para o streaming, faz todo o sentido. A estrutura do melodrama e do folhetim, baseada na emoção e em personagens empáticos, é muito forte para os brasileiros. Vivemos no país das novelas; o desafio, agora, é atualizar o conceito para as novas gerações”, reflete. O roteiro mais enxuto e objetivo, em sua visão, é um trunfo na missão. “Uma novela em TV aberta tem 160, 180 capítulos, no streaming, de 40 a 60. A trama se repete menos, dá menos voltas, tem menos histórias e núcleos caminhando em paralelo.” Temas contemporâneos, sobre aflições e situações inerentes a qualquer cultura também são importantes. “Tentamos ter um faro apurado para identificar o que o brasileiro quer ver; aí entra a habilidade do autor em pescar o assunto do momento. Só não pode ser muito nichada, porque aí deixa de ser novela”, afirma. Nessa primeira novela da HBO Max, por exemplo, o debate sobre a indústria da beleza não poderia ser mais amplo.
A maturidade da diretora carioca, que começou a trabalhar muito jovem na área, lhe permitiu identificar a evolução feminina na luta por espaço e reconhecimento no audiovisual.

“Caminhamos a passos largos nos últimos anos. Quando olho para trás, tenho certeza de que sofri com machismo estrutural, mas eu nem conseguia identificar direito, de tão enraizada que essa cultura estava. Tive de provar muitas vezes que era capaz de estar ali”, lembra. Joana acredita que a principal mudança está na educação. “Hoje as mulheres de 25 anos falam sobre o assunto. Mudamos para melhor, ainda que exista um longo caminho a ser percorrido.” A transformação é refletida nas telas, que acompanham a vida real para atualizar a arte. Mulheres frágeis e indefesas não encaixam mais no papel da heroína. “Hoje a mocinha é empoderada. Temos responsabilidade, enquanto artistas, de botar na tela uma história que converse com as pautas do mundo atual”, conclui a diretora cuja força está ajudando a transformar o maior trauma da sua vida em filme. Ela se prepara para adaptar para o cinema o livro Vista Chinesa, escrito pela amiga Tatiana Salem Levy, que narra o episódio de violência sexual vivido por Joana em 2014, durante uma corrida na Floresta da Tijuca. Joana já declarou acreditar que a decisão de filmar a sua terrível experiência faz parte de um “movimento de libertação” e é uma mensagem que manda para si mesma de que a vida vence.

Mas um dos maiores desafios de Joana hoje em dia é mesmo equilibrar a maternidade com a correria profissional. Workaholic assumida, ela é casada com o ator e roteirista Bruno Mazzeo, com quem tem dois filhos, os gêmeos José e Francisco, de 4 anos. “Minha vida consiste em equilibrar pratos, mas tento transformar os momentos em que estou distante dos meus filhos em um valor de educação. Quando estamos juntos, procuro ter um um tempo de qualidade com eles”, explica. As dificuldades da vida podem até servir de estímulo criativo. Durante o isolamento forçado pela pandemia, Joana e Bruno lançaram a série Diário de um Confinado, protagonizada por eles e encenada no apartamento em que vivem com os filhos no Rio. Para Joana, a arte, definitivamente, imita a vida.

Verônica Villa (Foto: Júlia Rodrigues)

Verônica Villa (Foto: Júlia Rodrigues)

Mágica da realidade

Expert em reality shows e true crime, Verônica Villa assume com responsabilidade a missão de ampliar os espaços de gêneros e raça no audiovisual. Gerente de desenvolvimento de conteúdo unscripted HBO Max Brasil, ela exerce uma liderança humana para quebrar paradigmas e conquistar parceiros.

Com mais de vinte anos de experiência em criação, produção, casting e liderança de equipes, Verônica Villa é atualmente Gerente de Desenvolvimento de Conteúdo Unscripted HBO Max Brasil. A executiva assume com habilidade a missão de ampliar a diversidade feminina, assim como a de gênero e a racial, seja nas telas ou atrás delas. Para Verônica, é fundamental que um cargo seja ocupado por uma mulher. “Nós trazemos uma nova perspectiva sobre as narrativas que, historicamente, foram construídas por homens brancos heterossexuais”
Segundo um levantamento da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), apesar de 40% da força de trabalho no audiovisual ser feminina, apenas 19% dos filmes são dirigidos por mulheres. “Se pensarmos que mais da metade da população brasileira é composta por mulheres, existe um claro desequilíbrio aí”, analisa ela, que sente falta dessa presença feminina, sobretudo em cargos de liderança.

Não à toa, duas de suas mentoras profissionais ocupam posições de alto comando no mercado atualmente: Maria Angela de Jesus, com quem Verônica trabalhou na HBO no início da carreira; e Mônica Albuquerque, Head de Talentos e Desenvolvimento de Telesséries na Warner Bros. Discovery Latam. “A Maria Angela tem um background parecido com o meu, viemos de famílias simples e tivemos garra para conquistar nosso espaço no segmento; ela é muito pé no chão. Com a Mônica, aprendi a ter diplomacia e a ser humana; entendi que um líder não precisa gritar para se impor. No grito você é só uma chefe, é um método de trabalho antigo e patriarcal. Você até conquista pessoas para executar tarefas, mas não conquista parceiros.”

Nas telas, o processo está acontecendo. “Me orgulha ver que a maioria das protagonistas da não- ficção são mulheres”, diz Verônica. De fato, na grade da HBO Max, a presença feminina é fortíssima. Luísa Sonza, em Queen Stars Brasil, ou Mônica Salgado, Zica Assis e Alessandra Ambrósio, em The Cut, são apenas alguns bons exemplos. Os reality shows, aliás, são especialidade da executiva. O bichinho a picou em 2004, quando saiu da HBO e foi trabalhar no Caldeirão do Huck, na Globo, e participou da produção dos quadros Lata Velha e Lar Doce Lar, entre outros.

“Aprendi muito ali, foi muito enriquecedor trabalhar com outro público e experimentar uma nova linguagem”, lembra. Durante um dos projetos do Caldeirão, ela visitou Barcelona, se encantou com a cidade e decidiu passar um período por lá. Retornou ao Brasil em 2008 direto para a MTV, onde fez o programa Hermes e Renato. De volta à HBO, foi gerente de produção e foi alçada ao posto atual no grupo Warner Bros. Discovery.

Outra paixão de Verônica é o gênero de true crime, cuja audiência é 70% feminina. “Acho que é porque o true crime funciona quase como uma ferramenta de conscientização das mulheres, que são maioria entre as vítimas. É como se aprendessem com as histórias das séries a se prevenir”, analisa. Além disso, ela credita o sucesso do gênero à natureza humana, de curiosidade, saciada do sofá de casa, sem nenhum risco. “Existe o fascínio de conhecer a mente de um criminoso e de perceber que a realidade muitas vezes supera a ficção, já que, em alguns casos, nem o melhor roteirista de Hollywood poderia criar uma trama daquelas.”

Na vida real de Verônica, a agenda foi organizada com disciplina durante o isolamento na pandemia, o que fez com que ela conseguisse equilibrar os objetivos no trabalho e os cuidados com corpo e mente. “No início do confinamento, pesei a mão; comecei a morar no trabalho e não a trabalhar de casa. O meu marido Fábio botou ordem na rotina e me obrigou a desligar para, ao menos, conseguir almoçar direito. A empresa também colaborou, bloqueando horários destinados à vida pessoal.” Com as coisas entrando nos eixos, a executiva, que gosta de estar presente física e mentalmente em tudo o que faz – seja supervisionando produções ou cuidando de suas plantas –, manteve- se fiel à rotina de wellness, fundamental para o seu bem-estar. Ela se exercita cinco vezes na semana, sempre pela manhã. “Na terça e na quinta faço yoga e, nos outros dias, treino com um personal. É catártico!”

A mesma pandemia que modificou os hábitos de Verônica potencializou o consumo de conteúdo no streaming e deixou evidente o fascínio dos brasileiros pela não-ficção. “A produção, neste caso, é mais ágil, feita com um budget menor e com equipes mais condensadas, o que foi essencial na pandemia”,explica. A entrega mais rápida e constante é que mantém o espectador ligado e engajado, somada ao desejo de uma maior conexão humana. Segundo a executiva, são quatro os motivos que justificam o sucesso do segmento: empatia, identificação, imprevisibilidade e aprendizagem. “Há um poder de renovação muito grande no gênero e, enquanto as pessoas quiserem essa conexão, a não-ficção vai seguir firme e forte.”