Você já disse 'sim' ao open finance? E dirá outra vez? Renovação de consentimentos desafia bancos

O sistema financeiro aberto prevê que todo consentimento é dado pelo cliente e para uma finalidade específica pelo prazo definido de 12 meses

Por Gabriela da Cunha, Valor Investe — Rio


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Todo usuário que adere ao open finance, o sistema financeiro aberto, permite que determinadas informações da sua vida financeira sejam conhecidas pelos bancos. Estas informações podem ser usadas para oferecer ao consumidor melhores ofertas de produtos e serviços personalizados e com melhores custos. Desde o lançamento do open finance, em fevereiro de 2021, até junho de 2023, ao menos 29 milhões de consentimentos ativos foram registrados, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Mas todo "sim" tem hora para acabar. E enquanto as instituições projetam os próximos passos do open finance, ainda se veem desafiadas a garantir que o "sim" dos clientes seja dado outra vez.

Como diretriz do open finance, todo consentimento é dado para uma finalidade específica e pelo prazo definido de 12 meses.

Do ponto de vista de praticidade, a proposta do open finance promete muito. Ao dar o consentimento e compartilhar um determinado conjunto de informações, os participantes trocam, entre si, esses dados. Com isso, produtos e serviços são criados ou aprimorados e oferecidos aos clientes em um único ambiente, onde ele consegue ver a gama de funcionalidades que lhe interessam e as tarifas disponíveis no mercado, por exemplo.

O interesse dos usuários em experimentar o projeto fez com que 28 bilhões de chamadas em APIs (interface usada para a troca das informações) fossem registradas dentro desse ecossistema. Só em 2022, foram 18,7 milhões de consentimentos ativos, conforme o monitoramento do Comitê do Open Finance Brasil, que se não expiraram ainda vão expirar até o final desse ano.

Segundo relatório do comitê, ao receber o "sim" dos clientes, os bancos e as instituições financeiras usaram, em sua maioria, o acesso para identificar comportamentos e aumentar o conhecimento sobre o consumidor. E com base na análise desses dados, o que mais se viu até agora são ofertas de mais produtos e serviços relacionados a melhoria do crédito (ofertas mais atrativas e maior valor disponível para concessão de crédito, por exemplo).

Na avaliação de Leandro Vilain, sócio de serviços financeiros da consultoria Oliver Wyman na América Latina, nesse contexto, nem sempre fica claro para o cliente quais as vantagens por ele ter dado a permissão. E isso pode dificultar a renovação.

"Está claro que o primeiro consentimento ja é um caso de sucesso e isso é perceptível pela quantidade de pessoas que deram mais de um consentimento. Mas muitas vezes o cliente não consegue tangibilizar o ganho dessa ação e aqui ainda temos um desafio. Precisamos comunicar melhor o open finance para atingir essa renovação", observa.

Cristina Pinna, diretora de TI do Bradesco , apontou o tamanho desse desafio durante o painel "Open finance e a evolução dos serviços agregados" no Febraban Tech, em São Paulo.

"A taxa de renovação ainda está baixa. O cliente ainda não está conseguindo ver o valor de escolher quais dados quer compartilhar e com quem. Precisamos trabalhar em conjunto para melhorar esse percentual", afirmou

Elcio Calefi, superintendente de tecnologia e operações do comitê do open finance e membro da Chicago Advisory Partners, consultoria responsável pela governança do ecossistema, defende que o número de consentimentos vem crescendo de forma constante e avalia que a tendência é que tanto a renovação quanto a criação de novos consentimentos cresçam, apesar de não mencionar qual é a meta buscada em 2023.

"O ambiente está se consolidando tecnicamente, e os participantes estão amadurecendo a relação com os clientes na educação sobre os seus dados. As estratégias de renovação [do consentimento] são missões dos participantes, mas o volume atual de compartilhamento e a qualidade dessa troca mostram que os resultados alcançados precisam ser celebrados", pondera.

Há, ainda outros pontos, como mostram os dados da consultoria Capgemini antecipados ao Valor. Em seu levantamento para acompanhar a evolução do sistema, 49% dos entrevistados demonstraram ter preocupação com a segurança dos dados, sendo essa a principal razão que desmotiva a autorização do acesso. Esse dado, somado a outros sete critérios, levaram a consultoria a chegar a nota 5,34, em uma escala que vai de zero a dez, em nível de maturidade do open finance junto aos consumidores.

Carolina Sansão, diretora adjunta de Inovação, Tecnologia e Cibersegurança da Febraban, reforça que o projeto está em uma evolução constante. "É importante seguirmos com a implementação de novas funcionalidade no open finance e também prosseguir com a manutenção do legado, com as funcionalidades que já estão no mercado, seja para manter a interação entre os participantes, como para fomentar novos negócios", diz, por meio de nota.

Dúvida — Foto: Getty Images
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