Pagamento de dividendos dispara 40% no 1º semestre. É momento de aproveitar?

Embora o salto no volume chame a atenção, o número de empresas que distribuíram dividendos diminuiu. O aumento na distribuição foi entre as empresas que tradicionalmente são pagadoras

Por Júlia Lewgoy, Valor Investe — São Paulo


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Apesar da bolsa estar desandando, as companhias estão distribuindo dividendos aos investidores em um ritmo muito mais forte neste ano em comparação ao ano passado. As empresas pagaram nada menos que R$ 165 bilhões em proventos no primeiro semestre de 2024, uma disparada de 40% em relação aos primeiros seis meses de 2023, conforme dados da fintech Meu Dividendo, que antecipa a distribuição de dividendos.

Os dividendos são a parte do lucro das empresas distribuída aos acionistas e eles estão na boca de influenciadores de investimentos, que recomendam reinvestir os proventos e multiplicar o dinheiro no longo prazo. Esse montante de R$ 165 bilhões — que soma R$ 90 bilhões em dividendos, R$ 60 bilhões em juros sobre capital próprio e R$ 15 bilhões em outros proventos já equivale a três quartos da quantia de proventos paga aos acionistas no ano passado inteiro, que alcançou R$ 224 bilhões.

Embora o salto no volume financeiro chame a atenção, o número de empresas que distribuíram dividendos diminuiu de 195 na primeira metade de 2023 para 136 no mesmo intervalo de 2024. Isso indica que aconteceu um aumento na distribuição dos dividendos das empresas que tradicionalmente são pagadoras boas, o que reflete a lucratividade dessas companhias, mas não do mercado como um todo.

“Estamos em um ambiente de bastante incerteza, com o dólar galopante e o equilíbrio fiscal em pauta. A aposta em dividendos deve ser feita nas empresas estáveis de setores perenes, cujo resultado não varia muito de acordo com o desempenho da economia do país”, afirma Wendell Finotti, presidente da Meu Dividendo. “Não basta se guiar somente pelos dividendos pagos no passado. O investidor deve analisar os impactos macroeconômicos e microeconômicos do momento nos negócios”, diz.

A Petrobras, a maior companhia da bolsa, foi a que mais distribuiu dividendos, atingindo R$ 55,5 bilhões, o que representa um terço do total. A decisão favorável ao pagamento de proventos extraordinários ajudou os acionistas a se darem bem, entre eles o controlador da estatal, o governo.

O Itaú Unibanco ficou em segundo lugar, pagando R$ 22,2 bilhões em proventos. Além do banco, outras companhias do setor financeiro ocuparam posições de peso no ranking das melhores distribuidoras de dividendos, como Banco do Brasil (R$ 7,4 bilhões), Bradesco (R$ 7,2 bilhões), Itaúsa (R$ 6,7 bilhões), Santander (R$ 4,5 bilhões) e BB Seguridade (R$ 2,5 bilhões).

Ainda, a Vale ficou em terceiro lugar, pagando R$ 12,4 bilhões em proventos. Aparecem no ranking também a Telefônica Brasil (R$ 3,1 bilhões) e a Cemig (R$ 2,9 bilhões).

Como as companhias que mais distribuíram dividendos já mostram, os setores que mais pagaram proventos foram petróleo, gás e biocombustível (R$ 61,2 bilhões), financeiro (R$ 55,8 bilhões), materiais básicos (R$ 17,1 bilhões), comunicações (R$ 12,1 bilhões) e energia (R$ 10,1 bilhões).

O prazo médio da distribuição de dividendos no primeiro semestre foi de 57 dias, em média, mas subiu muito em junho, para 99 dias. As companhias estão retendo o máximo possível de caixa para caso aconteça algum imprevisto em um momento duro como agora.

Altos dividendos em um momento incerto

Até em ambientes de elevados juros como neste momento, é comum que alguns bancos, companhias de commodities, empresas de energia e outras geradoras de muito caixa — que não contam com dívidas grandes, não dependem da economia local e não fazem muitos investimentos — , consigam distribuir dividendos satisfatórios.

Apesar das ações estarem muito voláteis, muitas companhias continuam melhorando a sua eficiência e dando lucros melhores do que a média histórica. Assim, estão conseguindo pagar proventos muito bons.

“Vivemos um semestre horroroso para as ações e os ativos em geral, mas mesmo nesse momento desafiador algumas companhias fogem da normalidade e performam muito bem. É uma continuidade do trabalho interno que já estavam fazendo antes”, afirma Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “O cenário de dividendos dessas empresas seguirá atrativo”, diz.

Ele aconselha ficar de olho nos bancos, que devem distribuir dividendos melhores à medida que a inadimplência das companhias e dos consumidores cair. Ainda, indica prestar mais atenção nas empresas que estão sendo ou foram privatizadas recentemente, como a Eletrobras e a Sabesp, porque elas devem pagar proventos melhores após cortarem despesas.

Além disso, a Petrobras e a Vale seguem entre as suas queridinhas quando se fala em dividendos. “Em todas as vezes que houve mudanças na presidência da Petrobras recentemente, ninguém conseguiu mexer muito nas políticas da estatal, e a companhia aumentou a sua produção significativamente”, afirma.

Contudo, com companhias além de Petrobras e Vale, bancos e companhias de energia, a recomendação é ter cautela quando se pensa em proventos. Não é momento de inventar, esperando dividendos altos de companhias mais endividadas ou menores.

Muitas empresas menores ou do setor de tecnologia, que precisam se endividar para avançar, estão mal das pernas. Elas estão apertadas por causa dos juros elevados, entregando piores resultados, e não estão conseguindo distribuir dividendos”, afirma Lucas de Caumont, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset.

“Aconselho continuar olhando para bancos e companhias de energia, mineração, petróleo e siderurgia, especialmente as empresas menos ligadas ao mercado local e mais ligadas ao dólar. Elas estão aumentando seu faturamento com a moeda valorizada”, diz.

Ele acrescenta que, apesar da renda fixa estar bastante atrativa com os altíssimos juros, ainda faz sentido construir uma carteira dedicada a dividendos com foco no longo prazo, pensando em diversificar as aplicações financeiras. “Os dividendos são somente o resultado de empresas boas, que sempre valerão a pena”, afirma.

— Foto: Getty Images
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