Quais ações ganham (e sofrem) com a disparada do dólar?

Produtoras de commodities e exportadoras estão entre as empresas que devem ganhar com a apreciação do câmbio; papéis de construção e varejo podem ser afetados pela pressão inflacionária

Por Laelya Longo, Valor Investe — São Paulo


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Com uma alta acumulada de 8% no ano, a cotação do dólar tem tirado o sono de quem planejava férias no exterior. A moeda norte-americana chegou a alcançar R$ 5,27, na terça-feira, maior valor em mais de um ano. Esse câmbio valorizado, no entanto, pode beneficiar alguns setores da economia e potencializar os ganhos de ações negociadas na B3.

Produtoras de commodities e exportadoras estão entre as empresas que devem ganhar com a apreciação do câmbio, seja porque seus produtos são cotados em dólar, seja por suas receitas obtidas com vendas no exterior.

“Algumas das ações que podem se beneficiar da alta do dólar são Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3), devido à sua exposição ao mercado internacional”, aponta Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos. “Como o preço da celulose, seu principal produto, é cotado em dólar, essas empresas tendem a se beneficiar quando a moeda norte-americana se valoriza.”

Além disso, segundo Bruna, por terem participação relevante de suas receitas na exportação de produtos, a valorização do dólar impulsiona o faturamento. “No último trimestre do ano passado, por exemplo,a Suzano obteve 77% de sua receita líquida gerada no mercado externo”, destaca.

Bruna cita outras empresas que também podem se beneficiar desse cenário por terem parte das suas receitas provenientes de exportações, como JBS (JBSS3), CSN Mineração (CMIN3), Gerdau (GGBR4) e Vale (VALE3).

A Vale, por exemplo, além de ter seus custos em reais, vende minério de ferro no mercado internacional, o que a torna favorecida pela valorização do dólar”, ressalta a analista da Nova Futura.

Phil Soares, chefe de análise da Órama, aponta ainda, nesse contexto favorável, as produtoras de petróleo, como Enauta (ENAT3) e Prio (PRIO3), assim como Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), do setor agropecuário. “Esse grupo de empresas que trabalham com exportação se beneficia porque vai ter o incremento de receita sem o aumento de custo proporcional, anotando uma margem melhor”, explica.

Sofredoras

Na ponta oposta, alguns papéis podem ser penalizados com a forte valorização do dólar, notadamente de empresas importadoras e das com dívidas atreladas à moeda americana.

Nesse grupo, Soares destaca as construtoras e incorporadoras, sem citar um papel específico. “Incorporadoras têm no aço um insumo muito importante, importado, com preço influenciado pela economia chinesa”, pontua.

No segmento de construção, um efeito secundário pode vir a afetar o desempenho das companhias. Bruna ressalta que a alta do dólar, além de aumentar os custos, pode gerar pressão inflacionária, podendo afetar empresas como Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Eztec (EZTC3).

No mesmo sentido, o varejo pode ser impactado negativamente pelo contágio do câmbio na inflação. “As empresas voltadas para o consumo doméstico, como Lojas Renner (LREN3), Magazine Luiza (MGLU3) e Grupo Casas Bahia (BHIA3), podem ser afetadas devido à possível pressão inflacionária resultante da alta do dólar, o que diminuiria o poder de compra dos consumidores”.

Em outro segmento muito focado em bens de consumo, Soares cita empresas como Multilaser (MLAS3) e Intelbras (INTB3), que “têm um viés de importação bem grande”.

Bruna, por sua vez, acrescenta que as empresas com dívidas em dólar podem enfrentar dificuldades. “Isso inclui companhias do setor aéreo, como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), cujos custos, especialmente combustíveis, estão atrelados ao dólar”, aponta.

— Foto: GettyImage
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