![Ernani Polo, secretário de Desenvolvimento Econômico: “Há tempos diferentes para cada um, mas a ideia é fazer que a retomada aconteça de forma ampla e rápida” — Foto: Joel Vargas/GVG](https://cdn.statically.io/img/s2-valor.glbimg.com/kN-DBxz0mlO6YW33dJ03f3eHyxU=/0x0:1548x1058/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/M/X/YgcFGoQkGFgr86zkz7HQ/28rel-100-reacao-f4-img01.jpg)
Contas foram feitas por governos, empresas, famílias são atualizadas a cada novo levantamento de prejuízos, sempre que há anúncios de apoios ou volta a chover. Poucos se arriscam a falar em velocidade de reconstrução da economia gaúcha. “Não estamos só preocupados com o produtor, mas com a sociedade”, diz Antonio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). “Temos percebido que os desafios são enormes e se somam a outros que já existiam”, afirma Giovani Baggio, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). “Todos foram atingidos, em todos os setores e tamanhos, e é difícil cravar prazos”, diz Ernani Polo, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico.
Relatório do Bradesco de maio mostrou que as enchentes terão consequências econômicas com implicações nacionais. Para o PIB do Estado, o banco projeta perda de até 4 pontos percentuais em relação ao previsto anteriormente, praticamente zerando o crescimento em relação a 2023. Para o PIB brasileiro, o documento mostra impacto de 0,2 a 0,3 ponto percentual. Na retomada, o banco cita que a construção civil, a indústria e o comércio podem ter impacto positivo nos meses subsequentes, em razão do esforço de reconstrução e da retomada da demanda.
Luz, da Farsul, prefere não falar em números, mas em quatro eixos de reconstrução (pessoas, emprego, governo federal e infraestrutura), que poderão definir crescimento em V ou em U. “Por maior que seja a solidariedade, a ajuda é um complemento. As pessoas encontraram lama na casa, nas fotos, nos documentos e, para se recuperarem, precisam de cuidado psicológico e econômico”, diz, lembrando que para haver emprego (e salário), é preciso manter empresas. “As pessoas precisarão comprar geladeira, fogão, móveis, o que o dinheiro pode pagar, porque as lembranças que perderam não têm preço”. Do governo federal, ele espera recursos para manter o Estado funcionando em áreas como segurança, saúde e educação.
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O que os brasileiros mais viram foram imagens de áreas urbanas alagadas, mas as perdas no campo estão estimada pela Farsul em R$ 3 bilhões, sem contar prejuízos em prédios, máquinas e benfeitorias, cujo número final vai depender de seguros e análise de estruturas. “O agro teve perdas importantes, mas não dá para comparar com outras áreas, as urbanas foram maiores. Quanto se perdeu, não sabemos”, afirma. Na opinião dele, a recuperação está acontecendo, mas o segundo e o terceiro trimestre serão difíceis, e no quarto trimestre poderá ser vista alguma reação. Para Luz, se os cuidados forem tomados e as demandas atendidas, o crescimento será em V e em um ano o Estado pode retomar as atividades. “É realista, acho que dá para fazer.”
Pesquisa da Fiergs com 220 empresas mostrou que 81% foram afetadas pelas águas e, destas, 63% sofreram com paralisação de atividades. Das que responderam, 31,3% informaram prejuízos em estoques de matérias-primas, 19,6% em máquinas e equipamentos, 19,6% nos estabelecimentos físicos e 15,6% em estoques de produtos finais. Quase dois terços permanecerão no mesmo endereço, enquanto 5% ficarão no mesmo município, mas em outro local.
A pesquisa traz dados preocupantes, comenta Baggio; 20,1% das empresas ainda não decidiram o que farão. Além disso, 6,7% pretendem fechar e 2,2% vão investir fora do Estado. “Hoje os problemas logísticos são os piores e afetam a todos. Mesmo os trechos liberados estão em piores condições e as rotas estão mais longas, o que acarreta custos”, diz. O economista avalia que problemas de competitividade que já existiam se agravaram, como distância de grandes centros consumidores, alta carga tributária, envelhecimento da população e questões estruturais. A pesquisa revelou que 52% das indústrias não tinham seguro contra perdas e danos decorrentes de enchentes. Entre as micro, pequenas e médias, 63,4% estavam sem cobertura.
A Fiergs apresentou 70 propostas de medidas consideradas urgentes e tem defendido ações de manutenção dos empregos, como os adotados na pandemia, e de incentivos para empresas, como postergação ou anistia do pagamento de tributos, crédito subsidiado e medidas específicas para prevenir novas enchentes. “Como voltar a trabalhar? Mais de 580 mil pessoas foram desalojadas, é difícil de contornar tudo isso”, afirma Baggio.
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Ele diz que a construção civil vai ser uma das primeiras a reagir, assim como as indústrias moveleira e de eletrodomésticos. Mas não são os principais geradores de emprego e renda. As cadeias de alimentos, metalmecânica e de químicos respondem por cerca da metade do faturamento da indústria gaúcha. “O essencial é que as empresas se sintam seguras para permanecer aqui e voltar a investir e produzir”, afirma. Ele acredita mais em recuperação em U, devido ao volume de empresas afetadas.
O governo gaúcho criou um gabinete de apoio e trabalha em várias frentes no Plano Rio Grande, em conjunto com a União, bancos, setor produtivo e instituições de apoio. “Acreditamos na capacidade empreendedora do povo gaúcho e no trabalho que vem sendo feito”, diz o secretário Polo. Ele cita que a construção civil e a pesada terão demanda nos próximos meses, assim como outros setores da economia. “Há tempos diferentes para cada um, mas a ideia é fazer que a retomada aconteça de forma ampla e rápida.” Uma das urgências, aponta, é a retomada de voos no aeroporto de Porto Alegre, para atender o turismo. O Estado também planeja estimular os segmentos de tecnologia e inovação.
No dia 20, a Fiergs mostrou que o índice de Confiança do Empresário Industrial gaúcho (ICEI-RS) subiu 2,5 pontos, para 46,9, recuperando parte da queda de 6,1 verificada em maio. Para a instituição, ele permanece abaixo dos 50 pontos e revela ausência de otimismo entre empresários.