Reconstrói Rio Grande do Sul
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Por — Para o Valor, de Curitiba


Aline Eggers, da Fruki Bebidas: “Temos buscado formas de trazer esperanças, mas está difícil” — Foto: Vini Dala Rosa
Aline Eggers, da Fruki Bebidas: “Temos buscado formas de trazer esperanças, mas está difícil” — Foto: Vini Dala Rosa

Um banner vermelho anuncia, no site da Lajeadense Vidros, que ela está em novo endereço. Nos últimos 22 anos, a empresa funcionou no município de Lajeado (RS) em um terreno que, em breve, deverá ser transformado em uma marina com rampa de acesso de barcos ao rio Taquari. Não muito distante, a fabricante de produtos de higiene Fontana busca novo local para levar parte de sua estrutura, depois de operar por 90 anos em Encantado (RS), no vale do Taquari, que abrange 36 municípios da região central do Rio Grande do Sul.

“De setembro para cá fomos atingidos três vezes”, conta Régis Arenhart, diretor da Lajeadense, citando as enchentes de setembro e novembro de 2023 e as de abril de 2024, quando as águas cobriram os telhados da empresa. Os prejuízos, segundo ele, somam R$ 70 milhões, com perdas de prédios, de vendas devido a paralisações, de máquinas e estoques (200 toneladas de vidros). Só não foram maiores porque, temendo novas cheias, já estava em andamento uma mudança provisória para o município de Estrela, distante oito quilômetros.

Mas a volta para Lajeado deve acontecer no fim do ano, quando será inaugurada uma área produtiva com o dobro do tamanho da anterior. “A ampliação já estava prevista”, explica o empresário, e seria feita perto do rio. Os planos mudaram e, no fim do ano passado, começou a busca por um terreno distante das inundações. Os investimentos na nova estrutura somarão R$ 20 milhões.

Já vimos anúncios de oferta de vagas aos gaúchos em Santa Catarina”
— Gustavo Rech

As enchentes também aconteceram em um período de crescimento da Fontana, que fez uma operação de retirada de equipamentos. O plano, agora, é trabalhar em duas etapas, conta o diretor Ricardo Fontana. A empresa de sabões, sabonetes e outros produtos vai alugar um espaço para dois anos. Parte da estrutura continuará no endereço atual e a intenção é encontrar outro terreno para instalação. “Estávamos com investimentos em andamento e as cheias reforçaram a necessidade de um local mais seguro”, comenta, citando perdas de R$ 30 milhões com enchentes em 2023 e de R$ 12 milhões em 2024.

Se, de um lado, empresas buscam maneiras de voltar a produzir, de outro, o governo gaúcho quer evitar a perda de investimentos, de postos de trabalho e a migração da população. “Há uma preocupação grande de as empresas pensarem em sair do Estado ou puxarem o freio e também nos preocupamos com perda de mão de obra qualificada. Já vimos anúncios de oferta de vagas aos gaúchos em Santa Catarina”, afirma Gustavo Rech, diretor do Fundopem/RS, fundo de incentivo destinado às indústrias, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

No ano passado, foram aprovados pelo fundo 104 projetos, com investimentos de R$ 2,8 bilhões. Até abril de 2024, havia 24 projetos, que somavam R$ 282 milhões, e 69 em análise. Segundo Rech, havia a intenção de ter resultado parecido com o de 2023, mas a meta foi reduzida para menos da metade. “Há empresas mudando de município, mas nenhuma manifestou intenção de desistência da atividade”, diz, acrescentando que em algumas regiões ainda nem foi possível calcular perdas. No que diz respeito às empresas, a primeira preocupação do Estado foi com a paralisação; depois, foram iniciados estudos para a concessão de benefícios para a recuperação.

E o trabalho de governo e empresas tem acontecido em meio a chuvas. “É inacreditável o que estamos vivendo. Estamos esgotados, porque as pessoas nem conseguem fazer a limpeza e vem mais uma. Fica a dúvida de quando será a próxima”, afirma Aline Eggers, diretora-presidente da fabricante centenária de bebidas Fruki. Ela conta que as instalações da empresa não foram atingidas, mas 77 dos 1,1 mil trabalhadores tiveram perdas, assim como 1,8 mil clientes, como bares, restaurantes e mercados. “Temos buscado formas de trazer esperanças, mas está difícil”, acrescenta.

Mesmo diante de um cenário complicado, os planos de ampliação da Fruki, que conta com duas fábricas e cinco centros de distribuição no Estado, estão mantidos. No fim de 2023 foi inaugurada uma planta em Paverama, no vale do Taquari, que teve aporte de R$ 178 milhões. Outros R$ 113 milhões em investimentos estão previstos até 2028, valor que pode ser maior. “Apesar da crise toda, enxergamos oportunidades, estamos crescendo”, explica Eggers.

O setor produtivo do Rio Grande do Sul vinha anunciando investimentos nos últimos meses. Em abril, na mesma semana em que começaram as enchentes, o governador Eduardo Leite (PSDB) apresentou o maior investimento privado no Estado. A chilena CMPC assinou protocolo para a instalação de unidade de produção de celulose orçada em R$ 24 bilhões. Ela ficará no município de Barra do Ribeiro, a 60 km de Porto Alegre.

A expectativa é que sejam gerados 12 mil empregos durante as obras. A capacidade anual de produção será de 2,5 milhões de toneladas de celulose branqueada de eucalipto. Procurada pelo Valor, a CMPC informou que os planos não mudaram e “o projeto segue normalmente”. A multinacional atua no Estado desde 2009, em Guaíba.

Em fevereiro, a fabricante indiana de tratores Mahindra informou que investirá R$ 55 milhões em uma fábrica no município de Araricá, no Vale do Sinos, uma das regiões mais afetadas pelas enchentes. A unidade atual fica em Dois Irmãos, 25 km distante do futuro endereço, e produz 2,6 mil tratores por ano, volume que saltará para 8 mil na nova estrutura. Nos próximos cinco anos, a empresa prevê que o investimento no Estado chegue a R$ 100 milhões.

“Os planos estão mantidos, não há nenhuma intenção de repensar o projeto”, afirma o CEO da Mahindra Brasil, Jak Torreta Júnior. Segundo ele, a fábrica atual não foi afetada por inundações, mas um parceiro logístico instalado em Canoas (RS) sofreu com as enchentes e os trabalhadores tiveram férias coletivas de 15 dias. O local onde será erguida a nova estrutura também não foi atingido. “Felizmente não tivemos problemas e nem chegou a ser cogitada alguma mudança.”

No varejo, as últimas semanas foram de reorganização. Com sede em Eldorado do Sul (RS), na região metropolitana da capital, a rede de farmácias Panvel teve 18 filiais afetadas, do total de 400 lojas no Estado, e até o fim do mês pretende reabrir quase todas, com exceção da que ficava no aeroporto Salgado Filho. A empresa informou que segue com a perspectiva de inaugurar, em 2024, 60 lojas nos três Estados do Sul e em São Paulo. “Mantemos o nosso compromisso de contribuir com a geração de empregos e de renda para o Estado, que vai precisar de uma união de esforços públicos e privados para se reerguer”, afirma Antônio Napp, CFO da Panvel.

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