Nos últimos anos, a crescente desconcentração dos serviços financeiros nos bancos tradicionais abriu espaço para o surgimento de bancos digitais, fintechs e instituições financeiras de nicho, além de uma grande variedade de prestadores de serviços nesse ecossistema. O movimento também representou uma nova oportunidade de crescimento por meio do franchising. Corretagem de seguros, venda de crédito consignado e distribuição de outros produtos e serviços financeiros são atualmente o negócio principal de várias redes de franquias, independentes ou vinculadas a instituições financeiras.
O franchising no setor financeiro tanto pode exigir um investimento mais robusto, como o que requer a implantação de lojas físicas abertas ao público, quanto permitir um aporte inicial bem modesto, com o franqueado inclusive trabalhando sozinho da própria casa - nesse caso, dentro de um modelo de microfranquias, que tem investimento inicial de no máximo R$ 135 mil.
De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), em linha com os demais segmentos de franquias, o de serviços e outros negócios (categoria na qual os serviços financeiros estão incluídos) teve alta de 9% no faturamento entre 2022 e 2023, com crescimento de 5,8% na quantidade de operações - um pouco abaixo da média geral de 6,2% de avanço, mas acima de outros segmentos tradicionais, como moda (4,1%), casa e construção (3,9%) e serviços automotivos (1,6%).
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Em operação há 20 anos, a rede CredFácil de correspondentes bancários se transformou em um marketplace de serviços financeiros. As franquias da marca, como explica o CEO e fundador, André Oliveira, distribuem produtos como empréstimos tradicionais, crédito consignado, financiamento imobiliário e de veículos, além de prestarem o serviço de recuperação de crédito para negativados. Para pessoas jurídicas, a CredFácil oferece, por exemplo, aconselhamento tributário e maquininhas de cartões.
“Por esses trabalhos de distribuição recebemos comissões dos bancos, e daí vem o faturamento da franquia”, afirma. Isso significa que o franqueado precisa ter um perfil proativo, já que quanto mais clientes tiver mais tende a faturar. Vale destacar que, como correspondentes bancários, as franquias não podem de fato emprestar recursos, o que só instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central (BC) podem fazer. Elas atuam exclusivamente na distribuição, e com sua capilaridade acabam sendo complementares às redes dos bancos. Hoje a CrediFácil tem cerca de mil franqueados, espalhados por todos os Estados brasileiros. O investimento inicial é de R$ 19,9 mil.
Em um modelo semelhante, a rede help!, lançada em 2006, trabalha com a oferta de uma ampla gama de serviços financeiros em suas 780 lojas - mas, nesse caso, são serviços fornecidos apenas pelo banco Bmg, que faz parte do mesmo grupo. “Nosso intuito é prestar um atendimento humanizado aos nossos clientes, unindo o físico ao digital e democratizando o acesso ao crédito no país”, diz a gerente executiva de franquias do banco Bmg, Loiane Andrade. O projeto, segundo ela, foi iniciado com a participação dos antigos correspondentes bancários do Bmg, parceiros que migraram para o sistema de franquias.
Uma loja help! oferece empréstimos consignados, crédito pessoal, cartões, seguros, antecipação de saque aniversário FGTS e conta corrente, entre outros produtos e serviços financeiros. O perfil do franqueado, afirma Andrade, é de um investidor com visão empreendedora, identificação com o segmento, comprometimento pessoal, habilidade de vendas e de relacionamento pessoal. O investimento inicial é de R$ 155 mil.
No ramo de seguros, a Prudential trabalha com três modelos diferentes de franquias, em uma rede que opera basicamente com a venda de seguros de vida. No primeiro, o franqueado é chamado de “life planner”, e pode trabalhar sozinho na captação de clientes, na venda de seguros e no acompanhamento das necessidades das pessoas que atende. Na máster franquia B, a atuação do franqueado é na identificação de potenciais investidores para a modalidade de “life planner”. Já na máster franquia A, o empresário - que já passou pelos dois passos anteriores - cuida das rotinas das demais categorias, oferecendo treinamentos, por exemplo.
“Essa estrutura nos permite ter um crescimento orgânico da marca no segmento de franquias. É uma cadeia de transferência de know how”, diz o vice-presidente de negócios life planner da Prudential do Brasil, Rodrigo Prosdocimi. Os investimentos iniciais são de R$ 30 mil (life planner), R$ 50 mil (master B) e R$ 77 mil (master A). A rede hoje conta com cerca de 1,8 mil franqueados, a maioria (1,6 mil) “life planners”.