Caatinga vai ganhar US$ 10 milhões para preservação

Bioma menos protegido, menos conhecido e um dos mais vulneráveis do Brasil recebe recursos do GEF para aumentar a preservação e as alternativas da população local

Por — De São Paulo


Iguana na Caatinga:425 espécies ameaçadas no bioma menos conhecido do Brasil — Foto: Erika Polverari/Funbio/Divulgação

A Caatinga, o bioma menos protegido, menos conhecido e um dos mais vulneráveis do Brasil, vai receber US$ 10 milhões para que se fortaleçam 4,5 milhões de hectares de unidades de conservação na Bahia, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Os recursos vêm do fundo global para a biodiversidade decidido na COP15, a conferência das Nações Unidas para a Biodiversidade, no Canadá, em 2022.

O dinheiro do Fundo para o Marco Global da Biodiversidade (GBFF, na sigla em inglês) também servirá para que o governo crie novas unidades de conservação no bioma. Dará impulso ao projeto Arca: Áreas protegidas da Caatinga, envolvendo comunidades locais para a elaboração de planos da manejo das áreas de preservação.

O novo fundo é do GEF, o Fundo Global para o Meio Ambiente, que é um dos mais conhecidos fundos globais ambientais, administrado pelo Banco Mundial com governança independente.

A iniciativa do MMA, com gestão do Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), deve apoiar algo próximo a mais de 50% da superfície protegida do bioma. Atualmente só 9% da Caatinga está protegida.

Em 10 de junho, em Petrolina, Pernambuco, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciou a seleção de 12 projetos prioritários para a criação de unidades de conservação federais no bioma, a serem implantadas até 2026.

“Os estudos da ciência estão nos mostrando que já temos uma ampliação das áreas que eram semiáridas e que estão ficando áridas. Isso é mudança do clima. Se a gente ‘descaatinga’ a Caatinga, a gente agrava o problema”, alertou Marina Silva na ocasião. Segundo dados do MMA, a desertificação atinge 13% do semiárido brasileiro.

“A Caatinga é um bioma especial do Brasil. Só existe aqui e é o semiárido mais povoado do mundo”, diz Rita Mesquita, secretária da Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do MMA. “Temos ali um compromisso. Precisamos, ao mesmo tempo proteger a biodiversidade - e ali há muitas espécies ameaçadas -, e trazer alternativas para as populações do bioma.”

Ela diz que na Caatinga se está muito longe de cumprir as metas que o Brasil assumiu internacionalmente para proteger a biodiversidade - 30% dos biomas, até 2030. “Ali precisamos aumentar a quantidade de áreas protegidas. O que temos não é suficiente”, diz.

Na Caatinga vivem mais de 600 espécies endêmicas como a ararinha-azul que foi reintroduzida na natureza depois de desaparecer por causa do tráfico de espécies e da perda de seu habitat. Estima-se que ali vivam mais de 500 espécies de aves, quase 180 de mamíferos.

“A Caatinga é um bioma muito pouco conhecido. Tem menos levantamentos de biodiversidade do que os outros biomas brasileiros”, diz Fernanda Marques, assessora de desenvolvimento de projetos do Funbio. “É também muito suscetível às mudanças climáticas, que agravam o processo de desertificação e perda de biodiversidade”, segue a bióloga. A desertificação é decorrente de um processo de degradação ambiental.

O Arca tem três eixos de atuação. O primeiro é apoiar unidades de conservação da Caatinga, tanto na criação de novas como no fortalecimento das existentes - com formação dos conselhos gestores que mobilizam as comunidades locais, provisão de equipamentos, planos de manejo.

Também se fará o levantamento de biodiversidade usando técnicas de DNA ambiental. Trata-se de mapear o material genético coletado no solo e na água e também de fezes e saliva de animais. “O eDNA otimiza o mapeamento das espécies ali presentes”, explica Fernanda. “A ideia usar essas informações para priorizar a criação de novas unidades de conservação ou formação de corredores”, explica.

Há um eixo que mira o apoio a espécies ameaçadas - são 425 no bioma -, com ações necessárias para evitar tráfico e conscientizar a população. O terceiro eixo busca engajar as comunidades tradicionais que estão nas unidades de conservação e no entorno, explica.

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