O dólar comercial encerrou a quinta-feira (11) em alta firme, o que fez com que o real se descolasse da tendência global e anotasse o pior desempenho diário ante a moeda americana dentre as 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor. Uma suposta intervenção cambial do Ministério das Finanças do Japão fortaleceu o iene e afetou moedas beneficiadas por operações de “carry-trade” com a moeda japonesa, em especial a divisa brasileira.
O dólar à vista fechou em alta de 0,55%, a R$ 5,4420, após tocar a máxima intradiária de R$ 5,453 e a mínima de R$ 5,3710. Já o euro comercial subiu 0,89%, a R$ 5,9125.
O movimento do real, hoje, foi na contramão da maioria das moedas globais, em um cenário de dólar mais fraco após o índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos mostrar deflação entre maio e junho, o que cristalizou a expectativa por cortes de juros do Federal Reserve (Fed). No exterior, o índice DXY, que mede o dólar em relação a uma cesta de seis moedas pares, recuava 0,55%, a 104,70 pontos, por volta de 17h40, puxado pela queda de 1,7% do dólar ante o iene. O real também se descolou da maioria das moedas pares, uma vez que o dólar exibia queda de 0,31% ante o peso mexicano e alta moderada de 0,18% ante o peso chileno.
Conforme explicaram participantes do mercado sob condição de anonimato, a moeda brasileira foi pressionada pela forte valorização do iene, após o Ministério das Finanças do Japão intervir no câmbio do país, de acordo com informações da imprensa local. A apreciação da divisa japonesa levou o mercado a desfazer operações de “carry-trade” (que consistem em tomar recursos em países com juros baixos para investir em países com rendimentos mais elevados), que beneficiam o real.
O iene costuma ser uma moeda de “funding” e é usado por participantes do mercado que desejam ficar comprados em moedas com “carry” elevado. Nesse sentido, uma forte valorização da divisa japonesa, como a que ocorreu hoje, pesa contra moedas como o real e ajuda a provocar movimentos de “stop-loss” (encerramento abrupto de posições), penalizando a divisa brasileira e outras na América Latina.
Vale ressaltar ainda que o real vem de uma semana de ampla valorização ante o dólar, em um movimento de recuperação após a moeda americana bater o nível de R$ 5,70 no começo do mês. Segundo o chefe da mesa de câmbio de uma importante gestora de investimentos, a valorização do iene, após a suposta interferência das autoridades japonesas, foi apenas o “estopim” para o mercado realizar lucros com a apreciação recente do real.
De acordo com ele, o movimento se deu ainda porque os riscos fiscais que afetam os ativos brasileiros ainda não foram solucionados. Na sua visão, isso explica o motivo de o real ter se descolado até de outras moedas de economias emergentes da América Latina. Segundo este gestor, também houve algum mal estar local com a inclusão de mais itens na lista de produtos isentos de impostos durante a votação na Câmara dos Deputados do projeto que regula a reforma tributária.
Nem mesmo a deflação de 0,1% do índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos foi suficiente para apoiar o real, hoje. Os números sugeriram uma perda de força da inflação americana e cristalizaram a expectativa por um corte de juros do Federal Reserve (Fed) em setembro, ao mesmo tempo em que aumentaram a chance implícita de duas a três reduções em 2024, conforme a precificação do mercado estimada pelo CME Group.
Embora uma inflação mais comportada nos Estados Unidos indique um dólar menos forte de forma geral, será necessário observar os próximos passos de outros bancos centrais, avalia o chefe de mesa de câmbio citado anteriormente. “Mesmo que o Fed comece a cortar juros em setembro, os juros nos Estados Unidos ainda vão ser altos. Vai ter que ser [analisado] caso a caso”, diz ele, sem definir um caminho mais tranquilo para o câmbio brasileiro diante do cenário americano aparentemente mais benigno.