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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou irritação na quinta-feira (27) com as análises sobre a alta do dólar frente ao real. Durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado Conselhão, Lula chamou de “cretinos” aqueles que o responsabilizaram pela elevação da moeda americana. Na avaliação dele, o dólar já havia subido 15 minutos antes da sua entrevista a um portal de notícias, fator que contribuiu para essa guinada.

“Vejam o que aconteceu ontem [quarta-feira]. Quando eu terminei a entrevista [ao UOL], a manchete de alguns comentaristas era que o dólar subiu pela entrevista do Lula. E os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista. Quinze minutos antes”, enfatizou o presidente diante de uma plateia formada por empresários, dirigentes sindicais e representantes de movimentos sociais, em Brasília.

Na sessão de quarta-feira, o dólar já abriu pressionado por conta do fortalecimento generalizado da divisa americana no exterior. No entanto, foi durante a entrevista de Lula ao portal UOL que o dólar acelerou o ritmo de alta e ultrapassou R$ 5,50 pela primeira vez desde janeiro de 2022, como contextualizou o Valor em sua reportagem.

Na entrevista em questão, Lula colocou em xeque a possibilidade de o governo efetivamente buscar um equilíbrio para as contas. Isso porque, na conversa, ele disse que o problema “não é ter que cortar [gastos], é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação”. A declaração foi mal recebida por agentes do mercado financeiro, um dos fatores por trás da disparada do dólar.

Após o estrago, o presidente tentou reparar sua opinião sobre a tendência de crescimento dos gastos do governo. Segundo Lula, ele aprendeu com sua mãe, a dona Lindu, que só deve fazer dívida se for para melhorar o seu patrimônio. Por outro lado, o presidente disse no mesmo evento do Conselhão que a dívida pública brasileira é “um troco” perto da dívida de outros países, como EUA e Japão.

“Eu não aprendi economia na USP, não aprendi na Unicamp. Aprendi com a dona Lindu. Eu só posso gastar o que eu tenho. Se eu vou fazer uma dívida, tem que ser uma dívida que vai melhorar meu patrimônio”, disse. “Como vamos fazer os empresários investir se o mercado não reage? Não estou falando do mercado da Faria Lima, estou falando do mercado mesmo. Se o mercado não tiver poder de compra, isso vai para onde?”, questionou.

Horas depois, durante entrevista para a rádio Itatiaia, de Minas Gerais, o presidente voltou no assunto da moeda americana e atribuiu o comportamento do dólar a pessoas que querem “viver de especulação financeira”. Sobre o estado das contas públicas, no entanto, o presidente reconheceu que há, sim, espaço para cortes no Orçamento, mas reafirmou que não vai tirar dinheiro de programas sociais.

Com a política econômica contestada, a reunião do Conselhão se transformou num ato de desagravo ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também presente no evento. Dirigentes da CNI, Febraban e também sindicatos elogiaram o chefe da equipe econômica e destacaram os números positivos da economia brasileira.

Haddad fez um balanço de sua gestão, reforçou o compromisso com o ajuste das contas públicas e tentou passar uma imagem positiva da economia, dizendo que o país crescerá mais de 2,5% ao ano e reduzirá a desigualdade nesse governo. Também afirmou que “as expectativas indicam” a menor taxa de inflação anual média “num ciclo de governo em toda a história do Plano Real”, abaixo de 4% ao ano, e a “expectativa de termos o maior nível de investimento público e privado da década”. “Vivemos o maior crescimento da renda das famílias e a maior redução da pobreza nos últimos dez anos”, contou o ministro.

Por fim, o ministro da Fazenda buscou amenizar as especulações em torno de divergências que teria tido com o presidente da República. Sobre isso, disse que nunca foi desautorizado.

“Estamos há dez anos com problema fiscal no Brasil. Começou em 2015 e não terminou até hoje. O senhor, presidente [Lula], resolveu enfrentar essa questão [desequilíbrio fiscal] e nunca desautorizou o Ministério da Fazenda na busca do equilíbrio das contas”, contou Haddad.

Na quinta, Lula também voltou a dizer que não tem pressa para indicar o sucessor de Roberto Campos Neto no Banco Central — o atual presidente encerra seu mandato em dezembro. A exemplo das críticas recentes, o presidente disse que Campos Neto “enveredou por um caminho equivocado”. Em seguida, sem mencionar nomes, o presidente disse que, para o BC, vai indicar alguém com “compromisso com o Brasil e com o povo”. “Não pode ser um cara que faça bobagem, que cometa erros”, ponderou o presidente petista.

Na esteira desse assunto, Lula foi questionado se considera indicar o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para o comando da autoridade monetária. Em resposta, ele elogiou Galípolo, mas disse não ter conversado com ele sobre a sucessão. “O Galípolo é um menino de ouro, competentíssimo, de uma honestidade ímpar”, disse.

Apesar disso, defendeu que o próximo presidente do BC tem que explicar quando for elevar ou baixar os juros. “Vamos ter um presidente do Banco Central sério, que não vai brincar em serviço. Na hora que disser que tem que aumentar a taxa de juros, ele tem que explicar porque vai aumentar”, acrescentou.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Ricardo Stuckert / PR
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Ricardo Stuckert / PR
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