A evolução demográfica, que tem ampliado o percentual de pessoas em faixas etárias mais elevadas, nas quais a participação no mercado de trabalho é mais baixa, ajuda a explicar o motivo de a taxa de participação no Brasil ainda não ter retornado ao nível pré-covid. É o que aponta um box do Relatório de Inflação (RI) trimestral de junho, divulgado nesta quinta-feira (27).
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“A taxa de participação na força de trabalho no começo de 2024 (62,1%) está abaixo de sua média histórica (62,9%). Todavia, um dos principais resultados do presente estudo é que isso em parte decorre de uma tendência demográfica que leva a uma diminuição lenta e persistente da taxa de participação, fenômeno que deve se acentuar nos próximos anos”, afirma o BC no relatório.
Segundo a autoridade monetária, aproximadamente metade do recuo de 1,3% na taxa de participação observado a partir do 4º trimestre de 2019 decorreu de mudanças na composição populacional.
O relatório destaca ainda que a magnitude do efeito composição cresceu ao longo dos anos: sua contribuição média para a variação da taxa de participação foi de -0,10 ponto percentual (p.p.) ao ano no pré-pandemia (1º trimestre de 2012 ao 4º trimestre de 2019) e de -0,17 p.p. ao ano no pós-covid (4º trimestre de 2019 ao 1º trimestre de 2024).
A taxa de participação no mercado é mais baixa em grupos etários mais altos, que têm crescido relativamente à população total, nota o BC. “Isso pode ser visto pela contribuição negativa do efeito composição nas faixas etárias acima de 60 anos, especialmente entre as mulheres”, afirma.
Excluindo o efeito composição analisado, o BC indica que a taxa de participação do primeiro trimestre de 2024 seria 63,6%, ante uma média histórica de 63,3%.
O BC pondera que esse efeito composição, contudo, não tem poder explicativo relevante para flutuações de frequência mais alta da taxa de participação. “Exemplos de oscilações deste tipo são a queda observada entre meados de 2022 e 2023, possivelmente associada à expansão de benefícios sociais, e a recente elevação desde o final de 2023, que estaria associada a um maior aquecimento do mercado de trabalho”, afirma.
Prospectivamente, diz o BC, o efeito da demografia sobre a taxa de participação deve continuar ganhando relevância.
Considerando-se as projeções populacionais do IBGE, o BC estima que alterações na composição populacional contribuirão com -0,24 p.p. ao ano para a variação da taxa de participação entre 2024 e 2028, e com -0,31 p.p. ao ano nos cinco anos seguintes. Ou seja, espera-se que, em dez anos, alterações na composição populacional contribuam com -2,8 p.p. de variação na taxa de participação.
“A combinação de crescimento mais baixo da população em idade ativa, evolução demográfica que dificulta a elevação da taxa de participação e taxa de desocupação em níveis historicamente baixos tendem a reduzir o ritmo de crescimento da população ocupada”, afirma.
Alguns fatores podem atuar para compensar esse efeito, segundo o BC, como a continuidade do processo de aumento da escolaridade da população em idade ativa, visto que a taxa de participação tende a ser mais elevada em grupos com maior escolaridade; a retomada do crescimento da participação feminina no mercado de trabalho; e a elevação da taxa de participação em faixas etárias mais elevadas, como consequência da reforma previdenciária e da ampliação gradual da expectativa de vida.
![— Foto: Luis Ushirobira/Valor](https://cdn.statically.io/img/s2-valor.glbimg.com/T7ofcW5Tejivl2IGx5Evb61SHes=/0x0:4288x2848/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/a/H/ALQIKLRdih3DErbEOCdQ/121212franca34.jpg)