Folha de S. Paulo


Federa��o faz 'mea culpa' ap�s abusos a menores na gin�stica dos EUA

Chang W. Lee/The New York Times
*** ALTA*** FILE -- A gymnast on the uneven bars during 2016 U.S. Women's Gymnastics Olympic Trials in San Jose, Calif., July 10, 2016. UA+SA Gymnastics, the national governing body of the sport, said on June 27, 2017, that it is adopting new recommendations intended to safeguard its athletes, after reports last year that it had routinely failed to notify law enforcement officials about allegations of sexual abuse by its coaches. (Chang W. Lee/The New York Times) ORG XMIT: XNYT188 ***DIREITOS RESERVADOS. N�O PUBLICAR SEM AUTORIZA��O DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Ginasta durante seletiva ol�mpica americana da modalidade, em San Jos�, na Calif�rnia

A Federa��o de Gin�stica dos Estados Unidos, que comanda a modalidade no pa�s, anunciou novas recomenda��es com a inten��o de salvaguardar seus atletas, em fun��o de reportagens publicadas no ano passado que a acusavam de deixar de notificar as autoridades e a pol�cia sobre acusa��es de ass�dio sexual por parte de seus treinadores.

"Um s� caso de abuso contra crian�as j� seria demais", disse Paul Parilla, presidente da federa��o, em declara��o divulgada na ter�a (27), em companhia de detalhes sobre as 70 novas recomenda��es propostas. "A Federa��o de Gin�stica dos Estados Unidos lamenta muito que qualquer pessoa tenha sido prejudicada durante sua carreira como ginasta, e expressamos nosso pesar a qualquer atleta que tenha sofrido abuso ou maus tratos enquanto participava do esporte".

O relat�rio surgiu depois de uma investiga��o publicada pelo jornal "Indianapolis Star" no ano passado. O jornal encontrou quatro exemplos de dirigentes esportivos da gin�stica que haviam sido avisados sobre suspeitas de abusos por parte de treinadores mas que optaram por n�o alertar as autoridades, e afirmou que os mesmos treinadores haviam posteriormente praticado abusos contra pelo menos 14 ginastas menores de idade.

No final do ano passado, a Federa��o de Gin�stica dos Estados Unidos encarregou uma antiga procuradora federal especializada em crimes de abuso sexual contra crian�as, Deborah Daniels, de conduzir uma revis�o independente de suas normas. Durante a revis�o, Daniels e os pesquisadores da Praesidium, uma empresa especializada em prevenir abusos sexuais em organiza��es que atendam a crian�as e a adultos em situa��o vulner�vel, realizaram mais de 160 entrevistas com pessoas do mundo da gin�stica; visitaram 25 clubes e o Centro Nacional de Treinamento de Equipes; e participaram de competi��es e programas de treinamento em per�odo integral, at� o m�s passado.

O resultado do trabalho foi divulgado online em um relat�rio de 100 p�ginas na ter�a-feira, em companhia das recomenda��es, que o conselho da federa��o anunciou que adotar� com o objetivo de prevenir abusos e adotar pr�ticas mais firmes em seu tratamento de den�ncias quanto a eles. As mudan�as incluem proibir que adultos fiquem sozinhos em companhia de ginastas menores de idade, o que inclui dividirem quartos de hot�is com eles. Os adultos tamb�m estar�o proibidos de manter contato com ginastas por e-mail, mensagens de texto e m�dia social, fora dos programas de treinamento.

Embora a Federa��o de Gin�stica dos Estados Unidos j� tivesse alguns regulamentos em vigor, o relat�rio afirmou que a organiza��o, que comanda a modalidade nos Estados Unidos e estabelece regras e diretrizes para atletas e treinadores, precisava colocar em pr�tica o que o texto define como �uma mudan�a de cultura�, em sua maneira de fazer as coisas.

As recomenda��es se dividem em 10 �reas, entre as quais administra��o, educa��o, treinamento e apoio aos atletas, den�ncia de poss�veis viola��es, e sele��o e verifica��o de credenciais de treinadores, volunt�rios e outros adultos que tenham acesso aos atletas. O relat�rio recomendou que a federa��o fosse espec�fica quanto a formas proibidas de comportamento, definindo o que � conduta "apropriada" e "inapropriada" nos clubes associados a ela e pelos indiv�duos que trabalham com atletas.

"A maioria dos clubes membros n�o tem regras escritas quanto a intera��es f�sicas e verbais apropriadas e inapropriadas", o relat�rio afirma.

A investiga��o destacou especialmente os problemas para den�ncia de abusos em casos de relacionamento entre um atleta e um adulto que talvez exer�a controle sobre a carreira do atleta. O relat�rio cita como exemplo que o procedimento da Federa��o de Gin�stica dos Estados Unidos para den�ncia de suspeitas de abuso sexual envolve uma queixa escrita pelos atletas ou seus pais, com o objetivo de promover uma solu��o para a disputa.

"� altamente improv�vel que os jovens atletas (adolescentes ou ainda mais jovens) e seus pais denunciem abusos a uma autoridade que tem tanto poder sobre o sucesso do atleta no esporte", o relat�rio afirma.
Mas um grande problema no mundo da gin�stica � sua natureza descentralizada. Os clubes s�o organiza��es privadas, o que torna dif�cil rastrear o comportamento de um treinador que se transfira a outra organiza��o.

"Se a dire��o de um clube for vigilante, verificar� refer�ncias e buscar� informa��es sobre os antecedentes do treinador", afirma o relat�rio. Mas buscas de antecedentes s� revelam condena��es criminais, o que significa que um novo clube pode n�o encontrar informa��es sobre casos pr�vios de abuso.

As acusa��es de abuso lan�aram uma sombra sobre a federa��o de gin�stica, especialmente no ano passado, quando o "Indianapolis Star" revelou que a Federa��o de Gin�stica dos Estados Unidos tinha em seus arquivos queixas contra mais de 50 treinadores suspeitos de abusos contra atletas, mas em muitos casos optou por n�o alertar as autoridades e a pol�cia quanto aos poss�veis delitos. Um dos nomes que constava do arquivo era o de um m�dico que serviu por muito tempo � equipe de gin�stica dos Estados Unidos, Lawrence Nassar, que em fevereiro foi indiciado com 22 acusa��es de conduta sexual indevida de primeiro grau, envolvendo pelo menos sete v�timas.

O relat�rio da Daniels tamb�m informa que um treinador acusado de abuso havia trabalhado em pelo menos 12 clubes, em quatro Estados. "Ele deixou uma trilha de sofrimento, na forma de mais de 15 meninas v�timas de abuso cujas vidas sofreram danos permanentes - mas clubes continuaram a contrat�-lo, ou porque desconheciam os casos de abuso ou, no caso de pelo menos um clube que era conhecedor do problema, porque supostamente prometeu mant�-lo `sob vigil�ncia'".

Stephen Drew, advogado que representa ginastas que dizem ter sofrido abuso por parte do Dr. Nassar e que se dispuseram a tornar p�blicas suas den�ncias depois da reportagem do �Indianapolis Star�, disse que algumas das novas recomenda��es, como a de notifica��o imediata de suspeitas de abuso, j� eram lei.

Mas ele disse que as recomenda��es devem ser usadas para criar "um protocolo claro para documentar e investigar passadas queixas de abuso - e para que a pessoa que faz a queixa mere�a cr�dito desde o come�o".

"J� � dif�cil o bastante que algu�m se exponha e fa�a uma queixa como essa�, disse Drew. �Todos os sinais deveriam indicar que a queixa est� sendo levada a s�rio".

Tradu��o de PAULO MIGLIACCI


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