• Beatriz Bourroul (@biabourroul)
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Roumer Canhães é preparador das atrizes Cris Vianna e Alinne Moraes (Foto: Priscila Amorim)

Roumer Canhães é preparador das atrizes Cris Vianna e Alinne Moraes (Foto: Priscila Amorim)

Roumer Canhães, preparador de atores como Alinne Moraes e Cris Vianna, conversou com Quem sobre o desenvolvimento de seu método e orientação aos profissionais das artes dramáticas. Coach, ator e professor, ele cursou especialização em direção de atores para cinema na Escola Internacional de Cine TV, em Cuba. Na volta ao Brasil, já deu aulas para nomes como José Loreto, Débora Nascimento e João Vicente de Castro.

Com Alinne Moraes, Roumer trabalha desde Coração de Estudante (Globo, 2002), primeira novela da atriz. "Alinne sempre foi uma atriz muito intuitiva", afirma o profissional, que a auxiliou para compor a personagem Bárbara de Um Lugar ao Sol. "Quando a Alinne me falou da Bárbara, que seria uma vilã, percebi que, apesar disso, não era uma personagem para o público amar ou odiar. Era para ela ser amada e odiada ao mesmo tempo. Esse é foi o nosso desafio. E acho que estamos conseguindo cumpri-lo", afirma ele sobre a atual novela das 9.

Desde 2014, o ator e coach, se dedica também ao Estúdio Roumer Canhães, localizado em Copacabana, no Rio de Janeiro, trabalho técnico dos atores, com foco em TV e cinema. "A base de trabalho é a mesma. O que muda é que cada ator, mesmo dentro de uma mesma abordagem, responde de maneira diferente exatamente por suas particularidades. Isso precisa ser respeitado, pois o trabalho do preparador é potencializar a sensibilidade e provocar seu desenvolvimento. Engessar o ator em uma técnica é matar seu espírito. Por mais que caminhe pela mesma estrada, sua trajetória é realmente particular. Precisamos respeitar o ator, a individualidade, o sentido de vida e suas necessidades", afirma Roumer, que recentemente preparou a atriz Cris Vianna para um papel de destaque na nova temporada da série Arcanjo Renegado.

Quem: Você tem um histórico como preparador de atores. Quando iniciou a trajetória?
Roumer Canhães:
Foi em 2002, quando eu assumi as turmas do Artcênicas, oficina de interpretação criada pelo meu irmão. Na época, ele foi convidado pra preparar o elenco de uma novela em Angola e, como eu já era seu assistente, dei continuidade ao trabalho dele na oficina. O Rodrigo Hilbert tinha acabado de começar a estudar com a gente e nos apresentou um amigo que era namorado da Alinne Moraes na época. Foi aí que nos conhecemos e começamos a trabalhar juntos na oficina, antes mesmo dela ser convidada pro teste de Coração de Estudante. Quando surgiu o teste para a Alinne fazer a novela, coincidentemente, o Hilbert tinha acabado de passar no teste para fazer Desejo de Mulher. Foi nesse momento, e com os dois em suas primeiras novelas, que iniciei meu trabalho como preparador de atores.

Roumer Canhães e Alinne Moraes realizaram primeiro trabalho juntos há 20 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Roumer Canhães e Alinne Moraes realizaram primeiro trabalho juntos há 20 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Alinne Moraes tem uma parceria com você desde Coração de Estudante, primeira novela dela. Como funciona seu processo com ela?
Alinne sempre foi uma atriz muito intuitiva. Quando começamos a estudar, o grande cuidado era justamente aliar a técnica com esse feeling. O trabalho sempre começa pela obra, pelo “entendimento” do que é a personagem, através das informações que já são dadas e das que tiramos através de análise. Depois que mergulhamos no íntimo da personagem, que chegamos à compreensão da sua “humanidade” e de seu comportamento social, transformar em atos, registros e comportamentos que se tornarão esse “outro” no corpo da atriz. É um trabalho que você não pode se restringir à sua visão de mundo porque, certamente, te empobrecerá artisticamente. O primeiro grande exercício é, realmente, se colocar no lugar do outro, uma provocação psicofísica que tem a empatia como caminho para transmutar o corpo, o pensamento e as afetividades da atriz para a personagem.

A composição da Bárbara, personagem dela em Um Lugar ao Sol, trouxe exigências específicas?
A exigência que existiu na construção da Bárbara, especificamente, não veio somente da direção ou do autor. Fazer televisão, principalmente novela, acaba sendo um processo muito solitário para o ator. As preparações existem, mas, pela dinâmica da produção – um ritmo industrial – não dá tempo para amadurecer, chegar em uma nuance específica ou, até mesmo, em um trabalho mais personalizado e mais vertical na construção. Acaba funcionando como uma grande sensibilização do elenco. Quando a Alinne me falou da Bárbara, que seria uma vilã, percebi que, apesar disso, não era uma personagem para o público amar ou odiar. Era para ela ser amada e odiada ao mesmo tempo. Esse é foi o nosso desafio. E acho que estamos conseguindo cumpri-lo.

Seu método varia de ator para ator? De personagem para personagem?
A base de trabalho, a abordagem, o caminho, é o mesmo. O que muda é que cada ator, mesmo dentro de uma mesma abordagem, responde de maneira diferente exatamente por suas particularidades. Isso precisa ser respeitado, pois o trabalho do preparador é potencializar a sensibilidade, instrumentalizar e provocar seu desenvolvimento entendendo que ele é único, personalíssimo. Engessar o ator numa técnica é matar seu espírito. Por mais que caminhe pela mesma estrada, sua trajetória é realmente particular. Parafraseando Michael Chekhov, a técnica é uma centelha que pode fazer nascer uma grande chama. Com as personagens também. Precisamos respeitar o ator, a individualidade, o sentido de vida e suas necessidades.

Roumer Canhães orienta Cris Vianna em composição de personagem (Foto: Arquivo pessoal)

Roumer Canhães orienta Cris Vianna em composição de personagem (Foto: Arquivo pessoal)

Cris Vianna terá um papel central na nova temporada de Arcanjo Renegado e também contou com a sua preparação. Pode adiantar alguma curiosidade?
A Cris também é uma parceira e amiga de muito tempo. Temos alguns trabalhos juntos na TV e no cinema. Essa é a primeira série que fazemos juntos. A Cris é super elegante, centrada, cuidadosa e discreta. A Maíra – o nome da personagem é o único spoiler que posso dar (risos) – é bem diferente de tudo que ela já fez até agora. Tem contradições muito interessantes e, ao mesmo tempo, é altiva, sensível e totalmente ética em um meio em que isso não é valorizado. É uma mulher que ocupa um lugar de liderança em um universo ainda muito machista e dominado pelos homens. Exigiu da Cris uma força, sentidos e sentimentos intensos. Acredito que a segunda temporada de Arcanjo Renegado promete ser polêmica, abordando pontos realmente necessários, relevantes, delicados e perigosos da nossa realidade social. Já estou com muita vontade e curioso para ver.

Você também é ator e já teve oportunidades na TV. É um desejo conquistar novos trabalhos?
Gosto muito de trabalhar como ator. Já me perguntam muito se prefiro preparar ou atuar. Sempre digo que são prazeres e desafios diferentes. Acredito que o envolvimento, entrega e imersão são os mesmos nos dois lugares. O último trabalho que fiz como ator foi antes da pandemia, em 2019, no filme Jovens Polacas. Atuar é uma vertente da minha carreira, por isso, esse desejo nunca vai deixar de existir. Sou professor, preparador, diretor e ator. Se você conseguir desenvolver com competência essas atividades artísticas, elas nunca irão se contrapor, muito pelo contrário. O preparador ajuda o ator que passa a entender melhor o diretor. E o professor leva tudo pra sala de aula.

Com a pandemia, como sentiu o impacto no seu setor de atuação? De que maneira se reinventou?
Eu tenho meu espaço onde dou a maioria das minhas aulas. Tive que fechar o Estúdio RC em abril de 2020, por tempo indeterminado, e só consegui retomar as atividades em março de 2021. Assim como aconteceu em todas as escolas, o impacto foi gigantesco. Tivemos que parar por muito tempo. Foi necessário. Nesse período, como a grande maioria, dei aula e fiz preparações online. Foi uma quebra de paradigma para mim porque a pandemia me “convidou” a rever a abordagem, a didática na apresentação e aplicação do trabalho. Foi o que tornou possível manter a eficácia mesmo sem ser da forma presencial. Hoje, além das atividades presenciais, continuo trabalhando remotamente também. Abriu-se um novo caminho que, até então, era impensável para mim. Hoje, também posso dar aulas para alunos de outras cidades e estados com a certeza de que isso não afeta em nada a qualidade do meu trabalho, nem o que o ator, do outro lado, pode entregar.

Roumer Canhães é preparador das atrizes Cris Vianna e Alinne Moraes (Foto: Arquivo pessoal)

Roumer Canhães é preparador das atrizes Cris Vianna e Alinne Moraes (Foto: Arquivo pessoal)

Roumer Canhães durante preparação de José Loreto para papel na TV (Foto: Reprodução/Instagram)

Roumer Canhães durante preparação de José Loreto para papel na TV (Foto: Reprodução/Instagram)

Roumer Canhães é preparador das atrizes Cris Vianna e Alinne Moraes (Foto: Priscila Amorim)

Roumer Canhães é preparador das atrizes Cris Vianna e Alinne Moraes (Foto: Priscila Amorim)