• Carla Neves (@cpdasneves)
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Maria Padilha (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Padilha (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Padilha não se cansa de rever O Cravo e a Rosa, novela da Globo exibida nos anos 2000, que atualmente está sendo reprisada pela quarta vez. A trama de Walcyr Carrasco foi reexibida em 2003 e 2014, no Vale a Pena Ver de Novo, e em 2019, no VIVA, ocupando o principal horário de reprises do canal pago, e tornando-se a maior audiência da história do VIVA. Na história, a atriz dá vida à sensual e autoritária Dinorá, casada com Cornélio, vivido por Ney Latorraca. A personagem, que é filha de Josefa (Eva Todor), faz o marido de gato e sapato, mantendo-o sempre na rédea curta. No entanto, acaba se apaixonando por Celso, papel de Murilo Rosa.

"Tenho lembranças muito boas de 'O Cravo e Rosa', foi uma novela muito feliz, em todos os sentidos, não só no artístico, como no pessoal. Era um elenco pequeno de atores que se conheciam. Os que não se conheciam passaram a se conhecer e a gente se dava muito, muito bem. Tanto que, depois que a novela acabou, a gente passou, durante mais ou menos um ano, se reunindo toda primeira segunda-feira do mês, em um restaurante: elenco, equipe técnica e autores, para matar a saudade", recorda.

Longe das novelas desde 2016, quando interpretou a personagem Claudine em A Regra do Jogo, trama de João Emanuel Carneiro, Maria atribui ao acaso o fato de estar tanto tempo sem atuar na TV.  "Tive umas questões de agenda com teatro e cinema. Fiz 'Lado a Lado', em 2012, depois fiz teatro e, em seguida, a novela do João Emanuel. Depois fiz teatro de novo e veio a pandemia. A última peça que fiz, 'Diários do abismo', ficou em cartaz em 2019. Com a pandemia, fiz o espetáculo virtualmente", conta ela, que promete voltar ao teatro e à TV em breve. "Tenho muita saudade de fazer novela, de me comunicar com o público da TV. Gosto da linguagem da novela, acho que a gente faz televisão muito bem no Brasil".

Casada com o empresário Brenno Souza Meneguel, de 34 anos, e mãe de Manoel, de 9 anos (ela adotou o menino quando ele era bebê), Maria, de 61, derrete-se ao falar sobre o filho. "Ele é um pisciano supersensível e com muito senso de humor, graças a Deus. Manoel é todo no afeto, chamo ele de 'Só love'. Com amor você consegue tudo com ele, mas, se bater de frente, a coisa é puxada. Tem suas questões como todas as crianças. Na pandemia não foi fácil, ele estava com 7 anos quando começou e é uma idade que a criança já entende, não dá para mentir que não está acontecendo nada", conta. "Ele é muito sociável, meio Zé Carioca (risos). Na rua, cumprimenta todo mundo. Conhece o jornaleiro, o padeiro, todos os porteiros, ele é feliz com muita gente, com bagunça, não é uma criança introspectiva. Ele tem sua introspecção, mas gosta de gente".

Maria Padilha é casada com o empresário Brenno Souza Meneguel (Foto: Reprodução/Instagram)

Maria Padilha é casada com o empresário Brenno Souza Meneguel (Foto: Reprodução/Instagram)

Maria Padilha e o filho, Manoel, de 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Padilha e o filho, Manoel, de 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Quais são as melhores lembranças que você guarda de 'O Cravo e a Rosa'?
A novela me deixou lembranças muito boas. Destacaria os momentos com o Avancini [Walter Avancini, diretor], porque ele era tão único, tão maravilhoso, tão embasado, tão perfeito e que nos deixou logo depois da novela [Avancini morreu em setembro de 2001, seis meses após o fim de 'O Cravo e a Rosa']. Destacaria todo o carinho e o empenho que ele teve ao me dirigir e ao trocar ideias do personagem comigo. Eu, inclusive, ligava para ele, às vezes, quando o personagem dava umas guinadas súbitas, essas coisas que acontecem em novelas. Nossa parceria era tão grande que eu chegava a ligar para ele para que me orientasse e para eu não me desafinar. Tive tantos momentos maravilhosos e colegas tão imprescindíveis, como o Ney [Latorraca], como a Dona Eva [Eva Todor, que morreu em 2017] e todos os outros atores que nos cercavam. Cito o Avancini porque ele não está mais aqui e foi o maior responsável por eu estar naquele círculo maravilhoso.

Como está sendo assistir à novela pela quinta vez?
Ainda não vi a novela no ar desta vez, só nas outras. Foram tantas reprises. Mas uns anos atrás, criei meu site e fiquei pegando cenas para fazer frames. Então assisti de novo e me diverti muito, parecia que nem era eu fazendo a novela. Não lembrava muito dos diálogos saborosos do Walcyr. Adoro o texto, os atores e a direção de 'O Cravo e a Rosa'. É uma das poucas novelas talvez em que chegava em casa e via o capítulo inteiro, não só para estudar, mas para me divertir mesmo. Adorava ver o trabalho dos outros atores, achava tudo uma delícia. Tenho certeza de que vou adorar ver de novo a novela no ar. Porque, todas as vezes em que revi, me parecia uma grande novidade, como se ela tivesse um frescor inabalável.

Você ainda mantém a amizade com o elenco?
Com quase todo mundo (risos). Sou superligada ao Ney [Latorraca], já era e fiquei muito mais depois da novela. Nunca mais nos descolamos. Sou apaixonada por ele, chamo ele de "meu muso", "meu muso maior". Sou amiga da Adriana [Esteves], do Du [Moscovis], da Leandra [Leal], da Bia Nunes. A Miriam [Freeland] vejo pouco, mas adoro. Murilo [Rosa] também. O Pepê [Pedro Paulo Rangel] é meu grande amigo, de vez em quando nos falamos. Tínhamos feito teatro juntos bem antes da novela. Sou amiga do Luís Melo, do Taumaturgo Ferreira, da Tássia Camargo. Talvez veja pouco o Rodrigo Faro, me distanciei um pouco porque ele mora em São Paulo. E a Dona Eva [Todor], que não está mais com a gente. Alguns eu vejo menos. A Drica [Moraes] é minha amicíssima, sempre foi, e, depois da novela, continuou sendo, amo ela. A Suely Franco vejo pouco, mas adoro. É um elenco tão maravilhoso, precioso! Perdi um pouco o contato só com os paulistas.

Maria Padilha e Ney Latorraca em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Reprodução/TV Globo)

Maria Padilha e Ney Latorraca em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Reprodução/TV Globo)

Maria Padilha e Eva Todor em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Reprodução/TV Globo)

Maria Padilha e Eva Todor em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Reprodução/TV Globo)

Maria Padilha e Murilo Rosa em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Reprodução/TV Globo)

Maria Padilha e Murilo Rosa em cena de O Cravo e a Rosa (Foto: Reprodução/TV Globo)


Sua última novela foi A Regra do Jogo, que foi exibida entre 2015 e 2016. Desde então, não fez mais. Por que nunca mais fez TV?
Acho que foi uma questão de acaso. Tive umas questões de agenda com teatro e cinema. Fiz "Lado a Lado", em 2012, depois fiz teatro e em seguida a novela do João Emanuel. Depois fiz teatro de novo e veio a pandemia. A última peça que fiz, "Diários do abismo", ficou em cartaz em 2019. Com a pandemia, fiz o espetáculo virtualmente. Tenho muita saudade de fazer novela, de me comunicar com o público da TV. Gosto da linguagem da novela, acho que a gente faz televisão muito bem no Brasil. Estou superdisponível, tenho muitos amigos e pessoas que amo fazendo novela, escrevendo, dirigindo. Minhas relações com a televisão são ótimas. Não tem nenhuma questão maior nem mais dramática. É até bom falar sobre isso porque as pessoas ficam como se houvesse um clima e não tem clima algum, é só uma questão de acaso mesmo. Aconteceu, foi acontecendo, aí veio a pandemia, parou-se de fazer novelas, as que já estavam sendo gravadas já tinham elencos, agora já tem uma fila de novelas para estrear e outras para serem feitas.

Surgiu algum convite nos últimos anos?
Quase fiz uma novela, mas o personagem não se desenvolveu da maneira que esperavam - porque o processo agora faz com que os autores escrevam a novela inteira e depois a gente grava. A gente grava tudo, então não deu para ter aquela troca com o autor. Mas farei [TV] se Deus quiser, se minha saúde continuar boa como está.

Os telespectadores cobram muito a sua volta à TV?
O público pede porque no Brasil, infelizmente, teatro e cinema ainda são lugares que só os privilegiados podem ir. O ingresso é caro para quem paga e é barato para quem tem que sustentar a economia, que ainda não está se fechando muito bem. O teatro e o cinema ainda não são tão populares quanto eu gostaria que fosse. Então o público do Instagram fala muito: "quero te ver na telinha, quero voltar a te ver". Que bom, graças a Deus! (risos) Ainda bem que pedem e vou voltar.

O que você está fazendo atualmente?
No momento estou aguardando desembaraçar uma burocracia para que a gente possa fazer uma peça de teatro. Já tem patrocínio, já tem teatro, o Centro Cutural Banco do Brasil em quatro cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte... Mas ainda estamos nesse processo burocrático. É um espetáculo incrível, com um elenco muito bacana. Já era para estarmos ensaiando, mas estamos com umas dificuldades burocráricas. Então eu estou esperando isso acontecer. Também tenho um projeto com a filósofa e poetisa Viviane Mosé.

Maria Padilha (Foto: Fernando Young/Divulgação)

Maria Padilha (Foto: Fernando Young/Divulgação)


Como ele é exatamente?
Interpretei um texto dela que ficou legal e estamos vendo outros textos para ver se isso vira um espetáculo. Ainda tenho umas sondagens de uns projetos em streaming e estou aberta a convites. No momento estou na produção dessa peça e, para não enlouquecer, também já estou começando a gravar algumas coisas com os textos da Viviane Mosé para ver o que a gente vai fazer, o que isso pode se tornar.

Paralelamente a isso, ainda tem sua vida pessoal...
Sim! Tenho minha vida, meu filho... E tem a pandemia, nós tomamos cuidado, saímos um pouquinho, depois nos fechamos um pouco. Mas estou sentindo muita falta de trabalhar, estou doida para voltar a trabalhar.

Você adotou o Manoel quando ele era bebê. O que sentiu quando o viu pela primeira vez? Sentiu logo que ele era o seu filho? Como foi essa conexão?
É mágico e, ao mesmo tempo, muito doido porque conversei com amigas, até antes de ver o Manoel, e algumas me falavam que quando o bebê nasce (as mães biológicas), na primeira vez que elas o veem, é claro que existe aquela conexão mágica, mas o amor, o afeto de verdade, aquele profundo, que a mãe vai sentir pelo filho, ele vai se desenvolvendo também. Todas as mães biológicas com que pude conversar me falaram isso, que no começo parece que você ama de uma maneira que você jamais amará nada nem ninguém e aí aquilo vai aumentando, aumentando, aumentando, e você não sabe onde aquilo vai parar. E assim estou eu. Acho que mãe é meio isso. Quanto mais o filho vai vivendo, quanto mais você vai convivendo do lado daquela criança, mais você vai amando. E fala: "caramba, acho que meu coração vai explodir dentro do meu peito, não vai ter mais espaço para tanto amor". Mas a gente continua. É um amor infinito. E é legal isso porque a gente vê que o amor não é só materno, mas é infinito se a gente se dispuser a ele. A maternidade é um grande aprendizado sobre o amor, além de outros aprendizados. Tive uma conexão com o Manoel, olhei para ele e falei: "é meu!"

Mas você entrou em uma longa fila de adoção e enfrentou um caminho cheio de obstáculos até assumir a maternidade do Manoel. Ficou desanimada em algum momento pela lentidão no processo de adoção?
É uma burocracia inaceitável, e agora eles estão colocando mais entraves. É uma burocracia não só pelas leis, mas pela pouca quantidade de pessoas que existem trabalhando no ramo. Ou seja: juízes, assistentes sociais. São poucos profissionais da área para muitos problemas e questões. São adolescentes, idosos, muitas crianças. É um assunto que merece muito mais atenção das autoridades, porque é um absurdo o tempo que se espera e chega a desanimar mesmo. Em alguns momentos, falei: "devia ter feito inseminação artificial! Por que fui por esse caminho?" Cheguei a me arrepender até de não ter optado por uma solução mais científica. Mas agora é o que é e estou muito feliz.

Maria Padilha e o filho, Manoel, de 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Padilha e o filho, Manoel, de 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)


Manoel agora está com 9 anos? Como ele é, a personalidade, o jeito de ser?
Ele é um pisciano supersensível e com muito senso de humor, graças a Deus. Manoel é todo no afeto, chamo ele de 'Só love'. Com amor você consegue tudo com ele, mas, se bater de frente, a coisa é puxada. Tem suas questões como todas as crianças. Na pandemia não foi fácil, ele estava com 7 anos quando começou e é uma idade que a criança já entende, não dá para mentir que não está acontecendo nada", conta. "Ele é muito sociável, meio Zé Carioca (risos). Na rua, cumprimenta todo mundo. Conhece o jornaleiro, o padeiro, todos os porteiros, ele é feliz com muita gente, com bagunça, não é uma criança introspectiva. Ele tem sua introspecção, mas gosta de gente.

Então a pandemia deve ter sido péssima para ele...
Sim! Para ele foi fatal ficar trancado e não ir para a escola, não ver os amigos. Aquelas aulas virtuais eram insuportáveis, eu ficava igual a uma inspetora do lado dele para ele prestar atenção (risos). Foi muito difícil e, no começo da pandemia, ele ficou com muito pânico. Embora a gente filtrasse muito, não deixasse a televisão ligada, com notícias ruins, ele ficou com muito medo. Até hoje tem. Às vezes estou conversando com alguém e cito o nome de algum amigo que ele não conhece e ele já fica prestes a pensar que o Fulano morreu.

Ele é muito sensível então? Será que vai ser ator?
Ele é puro afeto. E tem um lado artístico, mas não sabe direito da minha profissão, não fica me vendo, não fico mostrando. Acho que ele vai descobrir se quiser, quando quiser. Mas ele é muito musical, tem um ouvido incrível. Ele ouve uma música uma vez, e depois canta ela inteira, o ritmo vem. É afinadíssimo, tem uma voz agudinha. É muito engraçado porque ele é muito grandão e forte. E ele é muito bom em esporte também, em surfe, skate, bolas. Eu digo que ele é meio Anderson Silva, porque ele é muito forte e grande e tem aquela vozinha muito suave. Ele é uma figura (risos). Mas também tem suas dificuldades como toda criança. É um desafio educar, mas compensa, é maravilhoso.

O que você mais admira nele?
Admiro muito a capacidade dele de empatia, amor e generosidade com quem está precisando e com quem está em alguma espécie de sofrimento, seja físico ou psicológico. Ele não pode ver ninguém que ele ache que não está bem ou física ou psicologicamente, principalmente outras crianças. Ele é muito amoroso com outras crianças. Adoro isso. E tem uma outra coisa que talvez seja da geração dele. Manoel tem amigas meninas. Lembro que, na minha idade, nessa época, menino ficava de um lado, menina ficava de outro, era até meio engraçado implicar uns com os outros. E ele não. Ele não tem a menor questão. Ele tem amigas meninas, joga com elas, fala no telefone, no tablet, no computador, acho isso muito legal. Talvez não seja dele, seja da geração dele. Talvez eles estejam com um caminho mais interessante nesse lugar do homem diante da mulher por terem essa facilidade tão grande e só se relacionarem com meninas ludicamente.

Como você se define como mãe?
Acho que ser mãe é viver sempre em culpa, sempre em dívida com alguma coisa, com algum modelo que a gente se colocou ou que colocaram na gente e, por mais que eu tenha feito terapia, por mais que eu pense: "eu sou o que eu posso ser e eu faço o melhor que eu posso", eu estou sempre me cobrando alguma coisa. Acho que não sou uma mãe muito preocupada, não projeto muita coisa no Manoel, não penso: "eu quero que ele seja assim ou assado". Eu não tenho projetos para ele. Projeto nele alegria, felicidade e potência, quero que ele tenha instrumentos para lidar com essa vida, com o que ela tem de bom e de ruim. Mas não projeto nele o ideal de vida feliz, não fico indignada quando ele está sofrendo ou se alguém provocou um sofrimento nele que não foi justo. Não sou aquela mãe superprotetora, sou bem equilibrada nesse sentido. Acho que esse é meu lado melhor como mãe, sei que meu filho não é um príncipe, ele é uma criança.

Maria Padilha e o filho, Manoel, de 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Padilha e o filho, Manoel, de 9 anos (Foto: Arquivo pessoal)