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Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa é empoderada. Diretora executiva da Mauricio de Sousa Produções (MSP) e inspiração de Mauricio de Sousa, seu pai, para a criação da personagem Mônica, da Turma da Mônica, a paulista, de 60 anos, sempre lutou pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Certa vez, ela participou de uma palestra da ONU Mulheres e ficou muito tocada quando explicaram a ela que, conforme as meninas vão crescendo, suas referências deixam de ser femininas e seus heróis são todos masculinos.

"A sociedade tem a história contada por homens. As figuras masculinas que marcaram época ganham destaque, mas as mulheres que fizeram a diferença não têm visibilidade. Voltei para empresa e reuni o time para fazer algo a respeito e assim nasceu o 'Donas da Rua'", conta ela sobre o projeto que visa contribuir para que os direitos das meninas sejam respeitados e para que elas possam ser o que quiserem ser. 

O desejo de Mônica é criar uma sociedade sem impedimentos para que as meninas tenham pleno acesso a seus direitos e às oportunidades com que sonham. "É uma honra ter sido a inspiração para o desenvolvimento da personagem Mônica, que tem conquistado a admiração do público feminino desde a sua primeira aparição, em 1963. A personagem surgiu em um momento em que as mulheres começavam a ter um pouco mais de espaço e a lutar cada vez mais para sua voz ser ouvida na sociedade. Ela tem um papel muito importante no empoderamento das meninas desde os anos 60", afirma.

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)


Qual é o objetivo do Donas da Rua?
O projeto tem o apoio da ONU Mulheres e foi pensado para mostrarmos para as meninas que elas podem ter as mesmas oportunidades, os mesmos direitos que os meninos. E vice-versa, pois entendemos que eles também sofrem ao não poder demonstrar tanto seus sentimentos, por exemplo. Sua importância é incentivar as famílias a conversarem sobre o tema com as crianças. E nos orgulhamos de, a partir dele, conseguir encorajá-las a serem quem são e se amarem como são. Além de valorizarem suas qualidades e habilidades.

Como é o projeto?
Conseguimos, por meio das historinhas com nossos personagens, projetos de artes, esportes e, por meio das mulheres que fizeram história, inspirar e contribuir com as famílias sobre o tema. Acredito que é nosso papel mostrar que meninos e meninas podem conviver respeitosamente desde cedo. Para isso, precisamos colocar o tema em discussão e empoderar as nossas meninas, tanto quanto a sociedade faz com os meninos. Dessa forma, alcançaremos um mundo com mais igualdade desde a infância.

Quais os principais desdobramentos do projeto?
A partir da criação do Donas da Rua, passamos a desenvolver alguns projetos dentro dele. O primeiro foi a criação de uma família negra. Já tínhamos personagens negros, como o Jeremias, por exemplo, mas ainda faltava representatividade, principalmente feminina. Pensando nisso, desenvolvemos a família da Milena, a mais nova integrante da Turma da Mônica e que já chegou empoderada. Também buscamos homenagear grandes nomes femininos que marcaram a humanidade com suas ações. Tendo isso em vista, criamos o Donas da Rua da História, que destaca mulheres que são referências em toda as áreas de atuação. Para homenageá-las, colocamos as meninas da Turma da Mônica vestidas dessas personagens importantes da vida real. A fila de figuras femininas a serem representadas no projeto é gigante e estamos só no começo.

Então são feitas ações voltadas exclusivamente para as meninas?
Sim. Além das ações on-line, em parceria com o Pelado Real Futebol Clube, realizamos o Soccer Camp Donas Da Rua, o único do Brasil feito exclusivamente para garotas. O evento tem como objetivo reunir meninas para uma experiência única com o futebol e assim poder trabalhar com elas valores e comportamentos empoderadores, como a autonomia, a coletividade e a superação de desafios. Dentro do campo, as atividades são comandadas pela comissão técnica do Pelado Real Futebol Clube, que desde 2011 desenvolve espaços seguros para a prática do futebol exclusiva para meninas e mulheres. É uma ação muito legal, pois todas as treinadoras são mulheres e educadoras físicas capacitadas para o desenvolvimento educativo e esportivo das participantes. 

A ideia é aumentar a autoestima das meninas?
Sim. O mais recente lançamento é o Donas da Rua do Empreendedorismo, em parceria com o Sebrae. A ação se dá por meio de histórias que demonstram às meninas a importância de acreditar no próprio potencial e desenvolver habilidades importantes aos negócios desde a infância, como o exercício da liderança. Essa iniciativa tem o apoio do Programa Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios, parceria entre ONU Mulheres, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e financiamento principal da União Europeia. Além das histórias que serão veiculadas, uma por mês, nas revistas em quadrinhos da Turma da Mônica serão desenvolvidas cartilhas baseadas no conteúdo fornecido pelo Sebrae, com curadoria do Programa Ganha-Ganha, com orientações sobre como incentivar atitudes empreendedoras. Características empreendedoras podem e devem ser desenvolvidas desde cedo, pois são úteis mesmo para quem não escolher a carreira de empresária quando adulta. Entre elas destacam-se autoconfiança, persistência, comunicação e persuasão.

Milena é a mais nova integrante da Turma da Mônica (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Milena é a mais nova integrante da Turma da Mônica (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)



O que a faz se sentir uma "dona da rua"?
Ser eu mesma. Acredito que todas nós devemos confiar nas nossas capacidades, que são muitas. Me sinto uma dona da rua quando percebo que existem mulheres e meninas que se inspiram em mim, mas também quando me inspiro em outras mulheres. Acredito muito naquela frase: "quando uma mulher sobe, puxa as outras".

O que tem de você na Mônica dos quadrinhos e o que você incorporou da Mônica dos quadrinhos na sua personalidade?
É estranho me ver como personagem. Hoje ela já ultrapassou as características que são realmente minhas e já tem "vida própria". Mas adoro todo o carinho que recebo dos fãs e das pessoas que amam a Mônica. É muito gostoso. Tive várias fases com a Mônica. Uma vez, quando era pequena, achei que era tão forte quanto ela, arranjei briga e levei uma surra na rua. Meu pai teve que fazer um trabalho de conscientização de que aquilo era uma ficção. Na adolescência, não gostava muito, porque, querendo ou não, meu pai estava denunciando o meu gênio para todo mundo. Depois de um tempo, a gente vai se acostumando. Mas, assim como a personagem, sempre fui bastante determinada. Em casa, meus pais sempre ensinaram a importância de ser independente, se defender e acreditar no que queríamos. Diferentemente da Mônica dos quadrinhos, não sou de brigar. Luto pelo que acredito, pelas minhas convicções. Isso me faz ter força e determinação.

Como é o retorno das meninas e familiares a respeito da contribuição do projeto para a elevação da autoestima delas?
Um dos principais retornos que recebemos é em relação à Milena. Muitas crianças, ao verem a personagem, percebem-se parecidas com ela. É muito comum vermos fotos nas redes sociais com mães citando esse reconhecimento. É emocionante, fico muito feliz com essa acolhida que a personagem vem tendo.

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)


Você teve algum aprendizado com a Mônica dos quadrinhos quando era criança e que carrega até hoje?
O principal aprendizado que tive é que, apesar de a personagem ter sido inspirada em mim, sou bem diferente dela. Não tenho a força física da Mônica, por exemplo. Por outro lado, aprendi com ela que é possível conquistar o meu espaço. E que não tem plano infalível capaz de me derrotar quando decido algo.

Quem é a mulher que mais te inspira nos dias de hoje e por quê?
As mulheres da minha família me inspiraram muito e, hoje, me inspiro também na minha filha, Carol Saraiva, que é publicitária. Ela saiu de casa cedo e seguiu carreira no exterior muito cedo. É uma das que estão à frente do projeto @elasnagringa, em que mulheres publicitárias que decidiram fazer carreira no exterior ajudam outras que querem seguir o mesmo caminho.

Quais foram as mudanças adotadas pela MSP ao longo dos anos para acompanhar a sociedade e continuar representando o público leitor?
O projeto Donas da Rua tem mobilizado toda a empresa desde o lançamento. Os roteiristas não só tratam frequentemente do tema do empoderamento nas histórias como têm trabalhado na redefinição de papeis dos personagens, incluindo os pais e as mães da turminha, com divisão mais igualitária das tarefas dentro e fora de casa. Além do comportamento das personagens, outro ponto que mudamos foi a vestimenta e o comportamento das mães. Muitas vezes, elas usavam aventais e estavam na cozinha. Com essa mudança, os pais começaram a realizar tarefas domésticas e as mães desenvolveram seus lados profissionais e, hoje, possuem um emprego e são, inclusive, donas do próprio negócio. Como é o caso da mãe da Milena que é dona e veterinária do petshop do Bairro do Limoeiro. Outro exemplo é uma tirinha da época em que ainda vigorava a proibição de as mulheres praticarem esportes considerados "pouco femininos" e a Mônica aparece carregando um par de luvas de boxe, presente de Dia das Mães para Dona Luísa.



A Mônica foi a primeira personagem feminina da turma. Verdade que o público pedia uma personagem feminina para o Mauricio?
A presença de meninas como personagens era uma demanda que os fãs, na época, faziam, sim, para o meu pai. A Mônica foi a primeira personagem feminina do Bairro do Limoeiro e já nasceu empoderada. Quando ela apareceu pela primeira vez foi na Tirinha do Cebolinha e o contexto foi a força das mulheres. A Mônica tem um papel importante no empoderamento das meninas desde os anos 60. Então a presença feminina nos gibis já é de muito tempo. 

Mônica era chamada de baixinha, gorducha e dentuça. O "gorducha" ficou de lado, né? Por quê?
Assim como nós, como pessoas e sociedade, os personagens passaram por uma evolução. Essa foi uma das mudanças significativas nas histórias da MSP. Por meio de um debate com a equipe, identificamos a necessidade de imprimir que todas as personagens são fortes, que elas se amam e se respeitam. Focamos nos bons exemplos, que refletirão positivamente na sociedade.

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)

Mônica Sousa (Foto: Mauricio de Sousa Produções/Divulgação)