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Claudia Mauro vai fazer trabalho em homenagem ao amigo Eduardo Galvão (Foto:   Globo/João Cotta/ Renato Rocha Miranda)

Claudia Mauro vai fazer trabalho em homenagem ao amigo Eduardo Galvão (Foto: Globo/João Cotta/ Renato Rocha Miranda)

Claudia Mauro quer transformar dor em arte. A bailarina, atriz e escritora, de 52 anos, perdeu o melhor amigo, Eduardo Galvão, para a Covid-19, em dezembro do ano passado, e resolveu ressignificar o luto pela morte precoce do ator, aos 58 anos, produzindo uma série sobre ele, com o título provisório de Ele Delas. Escrita por ela em parceria com Helena Lahis, Mirna Brasil Portella e Isabelle Borges, a produção conta a história das seis melhores amigas de Eduardo, que são ela e as atrizes Flávia Monteiro, Helena Ranaldi, Helena Fernandes, Clara Garcia e Lúcia de Sá.

"A ideia da série surgiu de uma dor imensa. Eu tinha falado com Eduardo na semana anterior de ele ser internado e aí ele foi hospitalizado e foi tudo muito rápido. Só pensava nas minhas amigas, que são muito amigas dele também, e são as seis amigas que estão no projeto. A gente se ligou em uma videoconferência e ninguém acreditou no que estava acontecendo, foi uma choradeira, tive uma crise compulsiva de choro com elas e e aí falei: 'vamos transformar essa dor em arte'", recorda ela, contando que o processo criativo da série conta ainda com a atriz e coach Larissa Bracher, Mariana Galvão, filha de Eduardo, e Bel Gomes, ex-mulher do ator e mãe de Mariana.

Na história, as seis amigas - vividas por elas - se encontram para jogar as cinzas do amigo querido - Eduardo - e a partir dessa dor, elas se transformam. "Todas estão todas em um momento da vida muito especial, mas distinto. E a partir do encontro delas pela perda desse grande amigo, que é um homem, elas dão uma virada de chave na vida delas. Elas vão jogar as cinzas no lago preferido dele, na fazenda dele, que é a parte de ficção, e cai um temporal e elas ficam lá a semana inteira juntas. Vai misturar ficção e realidade, histórias verdadeiras", adianta ela, explicando que a ideia é que a série seja produzida por alguma plataforma de streaming. 

Não é a primeira vez que Claudia ressignifica o luto em sua vida. "Isso aconteceu comigo no espetáculo 'A vida passou por aqui'. Transformei uma dor em arte, uma catarse, obviamente, mas com a intenção de levar uma reflexão, sensível e verdadeira, para o público. As histórias verdadeiras não têm erro, porque a dor existe na vida de todo mundo", conta, acrescentando: "Acredito que mostrar a superação também de momentos difíceis, a amizade, que para mim é a relação humana mais bonita e potente, faz as pessoas refletirem. 'A vida passou por aqui' foi um espetáculo inspirado na minha mãe, que sofreu um AVC e logo depois perdi meu pai. Dessa dor nasceu a peça que foi premiada e só me rendeu coisas boas."

Claudia Mauro, Flávia Monteiro, Helena Ranaldi e Eduardo Galvão (Foto: Reprodução/Instagram)

Claudia Mauro, Flávia Monteiro, Helena Ranaldi e Eduardo Galvão (Foto: Reprodução/Instagram)

DIA APÓS DIA

Lidar com a perda de Eduardo não tem sido fácil para Claudia. "Estamos na pandemia ainda e não realizo muito que isso aconteceu. Na realidade, ele era um amigo muito especial. Ele era o melhor amigo dos amigos. Conheci o Eduardo com 11 anos, porque ele morava na Ilha do Governador [na Zona Norte do Rio] e eu no Leblon [Zona Sul do Rio], mas ele era muito amigo do meu irmão [o ator André di Mauro]. Fazíamos um espetáculo de teatro e eu era a novata da turma, do grupo de teatro infantil 'Além da lua'. Ensaiávamos juntos e o Eduardo dormia lá em casa", recorda.

Claudia relembra que o amigo vivia em sua casa. "Ele era da família. Eu era a irmã mais nova do André e andava sem sutiã, eu era a criança da turma. E depois ele virou muito meu amigo, meu melhor amigo. Ainda não estou saindo para os lugares porque quando saía, era assim: chegava nos lugares e ligava para ele. Falava: 'Galvin [como o chamava], vem para cá'. E ele ia. Tudo o que eu fazia tinha o Eduardo. Quando eu voltar para a minha vida normal, eu acho que vou sentir mais ainda", lamenta.

A atriz diz "conversar" muito com o amigo quando está sozinha. "É muito difícil realizar que ele não vai estar mais entre nós. Mas a vida é assim, a gente não tem controle sobre isso. A gente tem que aceitar e acreditar que existe uma coisa depois dessa vida aqui. Eu tenho uma dificuldade de acreditar nisso, mas o Eduardo era kardecista e eu acho que, se essas coisas existem, ele está em um lugar muito especial e a gente uma hora se encontra. Mas não está sendo fácil", admite.

Para manter a mente em paz, Claudia busca o equilíbrio o tempo inteiro. "Sou uma pessoa que não gosta de pesar a mão em nada. Gosto de trazer leveza e alegria e rir da própria desgraça, no bom sentido. Porque existem momentos em que não dá para achar graça de nada. Mas tento trazer o humor para o meu dia a dia. A escrita tem que ajudado bastante, escrevo demais e posso me dar o direito de fazer isso porque tenho Paulo César fazendo as coisas da casa. E a dança também me cura. Faço minhas aulas de balé, ouço música, brinco com as crianças e faço conferências com minhas amigas pela internet. Isso me renova", diz.

Eduardo Galvão, Helena Ranaldi, Claudia Mauro e Flávia Monteiro (Foto: Reprodução/Instagram)

Eduardo Galvão, Helena Ranaldi, Claudia Mauro e Flávia Monteiro (Foto: Reprodução/Instagram)

Eduardo Galvão, Helena Ranaldi e Claudia Mauro (Foto: Reprodução/Instagram)

Eduardo Galvão, Helena Ranaldi e Claudia Mauro (Foto: Reprodução/Instagram)

EM CASA ELA DANÇA

Além da série sobre Eduardo Galvão, Claudia tem se dedicado à gravação da série Em casa ela dança, da Box Brazil Play. O texto é dela e o roteiro e a direção são de Udylê Procópio. "O 'Em casa ela dança' foi um projeto que nasceu no meio do nada. Estávamos no lockdown de 2020, com tudo fechado e minhas aulas de dança pararam. Eu fazia uns vídeos de dança em casa e meu amigo Udylê começou a ver e a dar umas ideias. Ele me deu a ideia de fazer umas performances na casa", conta.

Juntos, Claudia e Udylê tiveram a ideia de criar uma história sobre uma mulher comum, que está às voltas com seus conflitos e angústias. "E toda madrugada, quando todos dormem, ela extravasa dançando em lugares inusitados da casa. Ela dança debaixo da mesa, em vários lugares. E a série deu o maior caldo e foi parar na Box Brasil Play, que é uma plataforma nova de conteúdo exclusivamente brasileiro. São episódios curtos de seis minutos, em que essa mulher, toda madrugada, desabafa e o desabafo dela tem a ver com a performance que ela faz. E ela vai se transformando dentro de casa e na rotina dela", explica.

Claudia Mauro e Udylê Procópio (Foto: Sabrina da Paz/Divulgação)

Claudia Mauro e Udylê Procópio (Foto: Sabrina da Paz/Divulgação)

Claudia Mauro na série Em casa ela dança (Foto: Sabrina da Paz/Divulgação)

Claudia Mauro na série Em casa ela dança (Foto: Sabrina da Paz/Divulgação)

PANDEMIA

Casada há quase 30 anos com o ator Paulo César Grande, de 63 anos, com quem tem os gêmeos Pedro e Carolina, de 10 anos, Claudia tem uma rotina tranquila com as crianças. "Meus filhos brincam juntos e não dão trabalho nenhum. Estou bem quarentenada. Tenho a sorte de morar em uma casa em um condomínio bacana, no Jardim Botânico [Zona Sul do Rio], e tem uma espaço aberto para eles brincarem. Acordo de manhã, faço café para eles, acompanho as aulas, que são on-line, e Paulo César cozinha, lava roupa, faz almoço, jantar, as compras da casa. Ele faz a parte doméstica e fico com as crianças", conta.

A atriz é só elogios ao marido. "Ele é um superpai. Eu escrevo muito, faço minhas coisas de dança e, quando dá, vou à minha aula de balé com máscara. Uma vez por semana dou uma volta com as crianças, vamos ao Jardim Botânico ou a algum lugar aberto e também vamos ao Clube Germania, na Gávea, que é um lugar superaberto, não é lotado. E assim vamos levando. Meus filhos fazem brincadeiras, shows, criam personagens à noite. E de dia ficam na aula na internet. Vamos tentando levar com leveza esse momento tão difícil", afirma.

Há tantos anos com o marido, Claudia acredita que a parceria e a amizade são os principais fatores para que o casamento seja tão duradouro. "Nascemos no mesmo dia, 11 de fevereiro. Paulo César é 11 anos mais velho que eu. Somos muito amigos, acima de qualquer coisa. E tem muita parceria na nossa relação. Quando o bicho pega, a gente tem um ao outro mesmo. É claro que o casamento tem altos e baixos, mas a gente se dá muito bem no nosso cotidiano e como parceiros. É uma parceria boa de amizade, de vida. Esse amor incondicional sustenta a relação. Sabemos que temos com quem contar em qualquer momento, em qualquer hora, seja ela boa ou ruim. E é muito bom estar juntos criando nossos filhos", diz.

Claudia Mauro e Paulo César Grande com os filhos Pedro e Carolina (Foto: Reprodução/Instagram)

Claudia Mauro e Paulo César Grande com os filhos Pedro e Carolina (Foto: Reprodução/Instagram)

Claudia Mauro e Paulo César Grande com os filhos Pedro e Carolina (Foto: Reprodução/Instagram)

Claudia Mauro e Paulo César Grande com os filhos Pedro e Carolina (Foto: Reprodução/Instagram)