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Maria Gadú é uma das atrações da SOS Rainforest LIVE (Foto: LF+C Produções Artísticas/Divulgação)

Maria Gadú é uma das atrações da SOS Rainforest LIVE (Foto: LF+C Produções Artísticas/Divulgação)

A união de grandes artistas do Brasil e do mundo em apoio aos povos indígenas ameaçados pela pandemia da Covid-19. Assim será o SOS Rainforest LIVE, concerto transmitido pela internet neste domingo (21), com a missão de arrecadar fundos para ajudar povos indígenas e comunidades locais que lutam contra a destruição das florestas tropicais. Maria Gadú é uma das atrações da live, ao lado de Sting, Anitta, Sandy, Iza, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Ana Vitória, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Scorpions, Melim, Aurora, Jorge Drexler, Maná, Manu Gavassi, Manu Chao, Gaby Amarantos, Toni Garrido e Evandro Mesquita

"Será uma super live, que vai além de arrecadar fundos para as instituições indígenas que estão cuidando dos povos com vulnerabilidade, a ideia é ampliar o discurso e conhecimento da população, criar um engajamento e fazer entender que a luta pela mãe Terra é a mãe de todas as lutas (Sônia Guajajara). E dar as mãos aos povos indígenas é dar as mãos ao Brasil", diz Maria Gadú, que está cursando antropologia.

Também confirmaram suas participações líderes indígenas – como Sônia Guajajara e Dario Kopenawa Yanomami – e ativistas do meio ambiente –  como Camila Pitanga, Oona Chaplin e Sebastião Salgado – entre outros convidados.

Organizada pelas Rainforest Foundations da Noruega, do Reino Unido e dos Estados Unidos, a Live será transmitida pelo YouTube e TikTok para o Brasil e o mundo nos seguintes horários: 16h SP, 15h NYC, 20h Londres e 21h Oslo.

O valor arrecadado será doado para contribuir nos esforços de combate à Covid-19 em áreas de floresta tropical e também projetos e advocacia para apoiar indígenas e comunidades locais em seus esforços para proteger o meio ambiente.

Leia, abaixo, a entrevista completa com Maria Gadú:

Por que resolveu cursar antropologia?
Quando decidi que queria saber a história do Brasil, a verdadeira, sobre os povos indígenas desde o princípio, comecei a ler muitos livros de antropologia. Entendi que o estudo da antropologia aliado ao estudo de história poderia me dar mais informações e base para esse entendimento. Claro que a maior fonte de conhecimento vem da proximidade com os povos, já que a história é contada na oralidade na maioria dos casos. Saber sobre o Brasil  verdadeiro faz o peito lutar com mais afeto e responsabilidade.

Você deu um tempo na sua carreira para se dedicar aos estudos e a esse tipo de causa?
Dei um tempo nos shows. Continuo gravando discos e fazendo parcerias. Aprender sobre o Brasil, sendo uma artista genuinamente brasileira, é ampliar a profundidade da arte. Não consigo destrinchar uma coisa da outra.

Acredita que os indígenas estão perdendo a identidade?
A identidade indígena está sendo roubada há mais de 520 anos. Não é uma perda. Por isso tantos povos estão trabalhando com o resgate do que foi tomado, doutrinado. Também é irresponsável juntar os "indígenas" como se fossem um único povo, com uma única história. São mais de 305 povos hoje no Brasil. Havia muitos mais, que foram dizimados pelo genocídio colonial, pandemias e pelo açoite que o capitalismo impera através do garimpo, madeireiras, agronegócio. Isso interfere de forma física e cultural nos povos.

A falta do políticas públicas para os povos indígenas acarreta em quais problemas?
As questões seculares, como pandemias, a questão territorial com invasões truculentas, falta de demarcação e desmatamento fazem uma quebra socioambiental. Os indígenas, cada povo em sua localidade, cuidam desse bom funcionamento: fauna/flora/espécies. Quando há uma quebra, chancelada pelo governo, as premissas ficam sem apoio. Estamos há muito tempo sem o funcionamento da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), órgão que seria para a proteção desses direitos territoriais e todos os outros, órgão que protegeria a CESAI (que cuida da saúde indígena). Políticas públicas são para garantir direitos e não tirá-los.

Maria Gadú  (Foto: LF+C Produções Artísticas/Divulgação)

Maria Gadú (Foto: LF+C Produções Artísticas/Divulgação)

Há quanto tempo está engajada com questões indígenas?
Essa questão existe em minha vida desde sempre. Mas ativamente, colaborando em campo, estudando mais profundamente, há aproximadamente 6 anos.

Qual a realidade dessas aldeias no país e no mundo?
São muitas realidades, já que cada bioma e cada governo age de uma forma. Mas, em suma, a falta de demarcação propicia invasões genocidas para o meio ambiente e, logicamente, para os povos indígenas. Também o apagamento histórico das culturas, como no caso do Brasil, tendo nitidamente uma miscigenação na língua, na comida, nas nomenclaturas, afasta a população do reconhecimento e, logo, preservação dessas sociedades. Em São Paulo, por exemplo, temos aldeias de resistência, Guarani M'Bya (que falam língua do tronco Tupi), que a população nem sabe da existência. Porém, a cidade vive sobre Moema, Ibiraquera, Tietê e tantas outras localidades, com nomes em tupi-guarani, sem respeitar o saber, o significado. Nenhum nome existe sem uma base.

Você acha que o governo investe na proteção e preservação da cultura indígena?
Nem um pouco. A mostra disso é o parco conhecimento sobre as tantas nações indígenas e suas histórias e saberes. Não aprendemos sobre isso na escola e a cartilha do MEC é governamental. O apagamento é secular: colônia, império, república.

Maria Gadú  (Foto: LF+C Produções Artísticas/Divulgação)

Maria Gadú (Foto: LF+C Produções Artísticas/Divulgação)