• Carla Neves (@cpdasneves)
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Aila Menezes ganhou 35 quilos de 2015 até agora (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes ganhou 35 quilos de 2015 até agora (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes, de 31 anos, mudou muito desde que participou do The Voice Brasil 2013. A cantora baiana se transformou bastante não só fisicamente (ela engordou 35 quilos), como também emocionalmente e, hoje em dia, é referência de empoderamento feminino e body positive (movimento que prega que é preciso ter um olhar positivo e sincero para com a sua imagem) em seu Instagram (@ailamenezes), no qual divide sua vida, seus sentimentos e seu novo corpo. Extremamente bem-resolvida, Aila conversou com Quem e abriu o coração ao lembrar de tudo o que passou para hoje se amar como é.

"Cheguei a tomar de 5 a 6 medicações por dia para conseguir viver. Tomava medicação para dormir, para acordar, para não sentir fome e, além disso, por ter tido o problema de distorção de imagem, ainda tomava remédios para emagrecer. Vestia 38 e achava que estava gorda", lembra.

Ainda este mês, ela lança uma música com o nome Fat Gata (Gata Gorda). "A canção fala sobre o empoderamento das mulheres gordas. Também vou gravar uma música com alguém de muita representatividade no cenário nacional, de quem sou fã, que pode ser uma aposta para o Carnaval", despista ela, que neste sábado (16) faz o show gratuito, 'Baile de todas as cores', no Pelourinho, em Salvador (BA).

Aila Menezes: antes e depois (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes: antes e depois (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes participou do The Voice Brasil 13 (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes participou do The Voice Brasil 13 (Foto: Reprodução/Instagram)

Como anda sua vida depois do The Voice? Vive totalmente de música hoje ou concilia com outra atividade?
Vivo da música desde muito nova. Comecei a dançar aos cinco anos (sou bailarina formada) e aos sete descobri num videokê do colégio em que estudava que queria cantar. De lá para cá nunca mais parei. Já vivia de música antes do 'The Voice' e depois continuei cantando. É claro que tem algumas coisas que complementam minha renda, que é o meu trabalho como digital influencer e modelo plus size, com propaganda, marketing e coisas assim. Mas vivo de música e depois do 'The Voice' algumas portas se abriram por conta da visibilidade. Hoje vivo estritamente da música e que bom que consigo fazer isso porque é uma tarefa difícil no país que a gente vive.

É verdade que você tem depressão desde os 11 anos?
Minha primeira depressão foi aos 11 anos e depois dos 11 tive outras quatro depressões em idades distintas. Em 2015, com o auxílio da minha psiquiatra e da minha terapeuta (porque faço terapia desde muito novinha), fiz o desmame das medicações que estavam afetando o meu sistema nervoso. Já não tinha coordenação motora para tirar fotos, tinha lapsos de memória com letras de música em shows, esquecia onde estava, tinha alguns problemas de memória. E em parceria com a minha psiquiatra e a minha terapeuta, consegui parar com as medicações e de 2016 para cá não tomo mais nenhuma. Consegui vencer essa adversidade.

Mas você conseguiu se livrar da depressão?
A depressão sempre deixa um rastro em você. Depois da depressão, desenvolvi síndrome do pânico, mas não uso medicações. Tenho terapias alternativas, principalmente a terapia, que me dá um suporte para que eu consiga viver sem as medicações e não ter as recaídas da depressão. O que segura a minha onda é a terapia. E aí o meu corpo sofreu esse efeito rebote da medicação e da abstinência, por isso que engordei. Além da depressão, também  tive distorção de imagem e compulsão alimentar. Hoje eu só tenho mesmo a síndrome e as outras coisas consegui contornar na terapia.

Você chegou a ser viciada nas medicações?
Tive um problema psicológico e precisava tomar medicações para controlar, eu não era feliz comigo e isso me trazia uma série de problemas. Cheguei a tomar de 5 a 6 medicações por dia para conseguir viver. Tomava medicação para dormir, para acordar, para não sentir fome e, além disso, por ter tido o problema de distorção de imagem, ainda tomava remédios para emagrecer. Vestia 38 e achava que estava gorda. Na época tinha um empresário em uma banda que me dizia: 'você tem que ter cara de anêmica, de uma pessoa com problema de saúde para as pessoas perguntarem: por que você está magra desse jeito? É assim que você precisa ficar'. Sofri muita lavagem cerebral. Infelizmente existe essa pressão estética de que mulheres que não são magras não atingem seus objetivos profissionais, especificamente na música, na arte. Existe esse padrão estético e vivia dentro dele, vivia completamente enclausurada nessas ideias da cultura da magreza, dos padrões estéticos e acreditava que eles realmente definiam meu sucesso ou fracasso. Por isso eu tomava além das medicações por necessidade, remédios para emagrecer sem necessidade porque eu não conseguia me enxergar como eu efetivamente era.

Aila Menezes teve depressão pela primeira vez aos 11 anos (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes teve depressão pela primeira vez aos 11 anos (Foto: Reprodução/Instagram)

Quando você começou a engordar?
Comecei a engordar em 2015 que foi quando comecei a fazer o desmame das medicações de depressão, síndrome do pânico e distorção de imagem. Em 2016, tirei completamente todas as medicações, então vieram os quilinhos a mais. Engordei publicamente (já era uma pessoa pública por ter participado do The Voice). E o mais interessante disso tudo é que eu passei a perceber que meu corpo estava mudando e eu precisava resolver isso, ainda mais porque a pressão estética diz que eu não posso engordar e era exatamente contra isso que eu lutava. Tomei medicações durante 15 anos consecutivos. Comecei a perceber que meu corpo era resultado de uma história, de uma luta, e que o desmame das medicações me fez ganhar muito peso.

Quanto você engordou?
Cheguei a ganhar 35 quilos (hoje peo 93 quilos, tenho 1,56 m de altura. Mas já cheguei a pesar 113 quilos). Depois perdi peso. O corpo vai se ajustando depois do desmame. Todo corpo conta uma história. E esse corpo é o resultado da mulher que me tornei. Foi quando comecei a estudar sobre feminismo, empoderamento, body positive e todas as formas que existiam de eu me sentir pertencente a um grupo. Mulheres vivem isso. Comecei a compreender que esse corpo é a asa que eu precisava para voar, ele me humanizou. Existem vários outros caminhos para ser feliz. Hoje sou infinitamente mais feliz do que quando eu era magra e vivia à base de medicações. Eu era magra porque eu tomava uma série de medicações que me mantinham naquele corpo. Eu era prisioneira das medicações e hoje sou uma mulher livre em todos os sentidos.

Completamente livre, né?
Sou livre de medicações, da pressão estética, dos padrões estéticos, de ideias opressoras que me obrigam a corresponder a esse padrão perfeitinho da sociedade. Engordar me humanizou muito, me ensinou sobre a dor de mulheres que vivem fora dos padrões impostos pela sociedade. No início foi bem difícil, mas depois fui percebendo que esse corpo é o meu maior troféu. Com 17, 18 anos, tentei um suicídio e não era nem um pouquinho feliz. Quando  lembro dessa história e da minha história de depressões e de tanta tristeza e vejo a mulher que me tornei só tenho orgulho de mim. O que importa é a mulher que me tornei. Comecei a ver que o corpo é o nosso templo, o nosso lar e conta uma história e eu tenho muito orgulho da minha história.

Aila Menezes tem quase 69 mil seguidores no Instagram (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes tem quase 69 mil seguidores no Instagram (Foto: Reprodução/Instagram)

Como ficou sua autoestima?
Logo no início minha autoestima ficou ferrada. Me olhava no espelho e pensava: 'meu Deus, como controla esse peso?' Pensava: 'preciso ter paciência comigo e com o meu corpo, ele está se adaptando a uma nova forma'. As pessoas são cruéis, elas falam: 'nossa, Aila, como você engordou'. Muitas vezes não queria sair de casa, parei de fazer show por um tempo e fiquei bem mal. Mas depois, quando comecei a ver que era minha história de vida, que saí de cinco depressões, da síndrome do pânico e consegui ficar sem tomar medicações e ser feliz, me senti orgulhosa. Venci o maior desafio e tenho que sentir orgulho.

E aí você se conscientizou?
Aí minha autoestima ficou lá em cima. Hoje me sinto muito dona de mim. Não gosto nem muito da palavra aceitação porque dá ideia de comodismo. Não é se aceitar, é se apropriar de quem você é. Hoje minha autoestima é coisa de cinema, me sinto bem com meu corpo, minhas dobras, minhas estrias, minhas celulites. Amo meu corpo, tenho muito orgulho dele e da mulher que sou.

E como era antes?
Antes dieta era meu sobrenome. Fazia dieta de comer só maçã e queijo. Antes de ir para o 'The Voice', inclusive, fiz uma dieta bem doida, comia só maçã, queijo e presunto o dia inteiro para conseguir chegar na televisão com um peso que ficasse com a imagem bonita para os olhos do público. Cheguei a pesar 51 quilos no programa. Fazia dieta de tudo, até de chupar uma bala quando estivesse prestes a desmaiar. Tomava medicação para emagrecer a qualquer custo. Teve uma dieta que me deu anemia e fiquei com uma doença chamada urticária crônica, que tenho até hoje.

Você recebe ataques de haters nas redes sociais?
Recebo ataque de haters todos os dias da minha vida. Não tem um dia que na minha rede social não tenha nada relacionado a esse tipo de ofensa. Lido com isso de forma muito tranquila. Compreendo que todas as pessoas levam um tempo para evoluir e que a pressão estética aprisiona e aflige todos os seres humanos. Mulheres magras também sofrem pressão estética. As redes sociais viraram um portal de críticas, não existe empatia, responsabilidade afetiva alguma. Tenho consciência de que as pessoas criticam sempre, independente do que você faça. Nesses comentários odiosos, as pessoas falam mais delas do que de mim. Quando elas falam: 'é impossível ser feliz gorda', elas estão falando delas.

Aila Menezes pesava 51 quilos quando participou do The Voice (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes pesava 51 quilos quando participou do The Voice (Foto: Reprodução/Instagram)

Já se abalou com algum comentário maldoso?
Às vezes me surpreendo com o tamanho da maldade das pessoas, como: 'seus pais devem ter vergonha de você pela pessoa que você é' ou 'como você se tornou esse monstro?, você era tão linda'. Vejo como a nossa sociedade está doente, sem preocupação com quem vai ler aquilo. Eu leio de maneira tranquila, mas eu poderia ser a pessoa que lê e se mata, porque isso acontece todos os duas. Não é que eu me abale com os comentários, mas alguns me fazem refletir como a nossa sociedade está precisando de mais amor acima de tudo.

O que você diria a quem ainda não lida bem com a autoimagem?
Diria que elas se libertem dos padrões estéticos e sejam felizes como elas são, independente do tamanho do manequim que elas vestem porque a gente não pode viver numa sociedade doente mentalmente que fica escrava de um padrão estético que adoece as mulheres todos os dias. Mulheres se matam todos os dias por não se sentirem lindas para a sociedade. A depressão está aí, eu já fui vítima disso. Não posso fazer com as pessoas o que já vivi na pele e não foi bom. Não faço apologia à gordura nem à obesidade. Eu incentivo as pessoas a serem felizes como elas são.

Sofre críticas por isso?
As pessoas às vezes dizem isso não é real. Faço questão de compartilhar minha experiência de vida e dizer que sou muito mais feliz com esse corpo. E se algum dia eu ficar doente, eu escolho como lidar com isso. Eu escolho emagrecer ou não, eu escolho parar de comer determinadas coisas ou não, eu escolho o que fazer da minha vida. É assim que a gente tem que pensar nas pessoas. Elas precisam escolher o que elas querem. A gente tem amigos tabagistas, alcoolistas, drogados, bulímicos e anoréxicos e, no entanto, a gente não fala para o amigo viciado em álcool: 'para de beber, alcoolismo mata'. Não é só a obesidade que mata. Precisamos abrir a cabeça e saber que as pessoas são responsáveis por suas vidas e a gente não tem o direito de menosprezar, oprimir ou agredir ninguém por qualquer forma física que a pessoa tenha. Sou a favor de as pessoas serem felizes e livres. Corpo perfeito é aquele que tem alguém feliz dentro dele.

Aila Menezes é referência em empoderamento no Instagram (Foto: Reprodução/Instagram)

Aila Menezes é referência em empoderamento no Instagram (Foto: Reprodução/Instagram)