• Carla Ghermandi e Priscila Bessa; Foto: Daryan Dornelles
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Antonio Fagundes (Foto: Daryan Dornelles / Revista Quem)

Logo nos primeiros 15 minutos de papo, fica muito claro que a trajetória de Antônio Fagundes, de 60 anos, não se confunde em nada com a de Edward Carr, o personagem que interpreta na peça Restos, em cartaz no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro. Carr é um viúvo que, na antessala do velório da mulher, reflete sobre a vida enquanto conta a história de amor que viveu com ela. O ator tampouco se identifica com o enredo criado na novela Tempos Modernos, da TV Globo, para Leal Cordeiro, um empresário moderno e atualizado sobre os mais sofisticados avanços da tecnologia. Homem da vida real, Fagundes nem sequer usa computador – ou a internet. “Dessas maquininhas, o máximo de moderno que eu vivi foi o fax”, diz o amante de livros, filmes e peças que, no ano passado, assistiu a 40 espetáculos. No ano anterior, conseguiu ir a 88. Simpático, Fagundes diz que não cogita um terceiro casamento, tampouco ter mais filhos. Ele namora desde 2007 a atriz Alexandra Martins, de 30 anos, que, em Tempos Modernos, faz a personagem Duba. É pai de Dinah, de 29 anos, Antônio, de 28, e Diana, de 27 (todos de seu primeiro casamento, com a bailarina, coreógrafa e atriz Clarisse Abujamra), e de Bruno, de 20 anos, do segundo casamento, com a também atriz Mara Carvalho. “Tenho nas minhas ex-mulheres grandes amigas. Aliás, se eu tenho grandes amigas, são as duas.”

QUEM: A morte é um dos assuntos abordados em Restos, a sua peça. O que pensa a respeito?
ANTÔNIO FAGUNDES:
Tem um filósofo (Lucrécio) que resume muito bem: “Onde a morte está, eu não estou. Onde estou, a morte não está. Por que me preocupar?” Só que ela existe, faz parte da vida. Não me preocupo muito com a morte. Me preocupo mais com a doença. Porque a morte é isso mesmo. Acabou, morreu. Agora, ficar no sofrimento é horrível em qualquer idade. O Schopenhauer (Arthur Schopenhauer, filósofo) dizia que, se você tem 15 anos, é bonito e rico, mas não tem saúde, está perdendo para um cara de 80,
feio e pobre, mas com saúde.

QUEM: Você tem, hoje, mais cuidados com a saúde?
AF:
Ainda estou numa fase em que isso não está muito próximo, mas vai chegando uma hora em que o futuro começa a ficar um pouco menor, então a gente tem que se cuidar um pouquinho. Mas faço isso com uma certa razoabilidade. Acho que viver é muito perigoso. Costumo brincar que o que mais faz mal ao organismo é o oxigênio, que oxida as suas células e cria os radicais livres, que acabam envelhecendo e matando. Então, se quer cuidar da saúde, não respire. Isso é uma coisa louca, não?

QUEM: Lidar com o cigarro no palco não deu vontade de voltar a fumar?
AF:
Não. Tenho uma coisa muito boa e muito ruim na minha personalidade: quando eu decido uma coisa, faço, vou até o fim. Decidi parar de fumar. Agora, fumo charuto, cachimbo. Faz mal do mesmo jeito, mas não tanto porque você não manda para o pulmão.

QUEM: Há um momento no monólogo em que o seu personagem, o Ed, se sente deslocado no mundo. Você não usa computador nem internet. Não se sente deslocado?
AF:
Não me sinto deslocado porque não sinto falta, mas acho que vai chegar uma hora em que a pessoa que não tiver acesso vai ficar deslocada. Ainda somos uma geração de transição, temos referências de livros, de teatro, de idas a museus. Meus netos, e, se eu os tiver, meus bisnetos, vão achar estranho que a pessoa saia para ir a um teatro, que a pessoa tenha uma biblioteca. Digamos que estou vivendo essa transição, mas sem o computador. Eu não preciso.

QUEM: Sabe mandar um torpedo?
AF:
Sei, sei. Um torpedinho eu mando. Mas, assim, dessas maquininhas, o máximo de moderno que eu vivi foi o fax. Achei o máximo aquilo. Parei ali. Então, se quiser falar comigo, tem que mandar um fax.

QUEM: Você colocou um relógio do lado de fora do teatro e começa o espetáculo sempre pontualmente. Nunca se atrasou para nada?
AF:
Lógico que acontece de eu me atrasar, mas gostaria de ser penalizado por isso também. Não tenho o poder de fazer ninguém me esperar.

QUEM: De 2000 para cá, após a segunda separação, foram mais de dez supostas namoradas. A fama de namorador procede?
AF:
Não. O que é ser namorador? Se você pegar a vida de alguém que não tem a exposição que a gente tem, talvez essa pessoa namore até mais do que eu, só que não aparece.

QUEM: Prefere mulheres mais novas?
AF:
Eu agradeço muito a elas, porque elas ainda gostam de mim (risos).

QUEM: Você já ganhou o título de homem mais sexy. O que acha disso?
AF:
A minha filha mais velha, Dinah, quando vê uma coisa dessas, fala: “Que povo bom, né, meu pai?” (risos). Eu falo: “É, que gente carinhosa”.

QUEM: Qual é o segredo para ser galã aos 60 anos?
AF:
Não tem segredo para nada. Se fosse assim, todo mundo seria. Isso é uma coisa que as pessoas decidem que você é, elegem você, e sorte sua, pois podia ser eleito também a cara mais feia do mundo.

QUEM: Você já disse em entrevista que passou a acreditar, após ler o livro Contra o Amor, de Laura Kipnis, que o casamento é o tipo de instituição impeditiva do amor...
AF:
O livro não me levou a esse raciocínio, o livro traduziu aquilo que eu não sabia dizer sobre isso. É diferente (risos).

QUEM: Então, você não cogita um terceiro casamento?
AF:
Não, não cogito. Quer dizer, acho que “nunca” é uma palavra muito grande. Devemos ter sempre um pé atrás com essas coisas definitivas, até porque o bom na vida é podermos mudar. Mas eu tive dois casamentos muito bons. As pessoas falam: “Ah, mas acabou”. Não, não acabou. Foram dois casamentos que duraram 14 anos cada um. Tenho filhos
maravilhosos e tenho nas minhas ex-mulheres grandes amigas. Aliás, se tenho grandes amigas, são as duas.

QUEM: Qual é a fórmula para manter um bom relacionamento com as ex?
AF:
Sempre achei um pecado que, por um desentendimento, no fim da relação, você estrague todo o resto. O que aconteceu? No último ano, a gente começou a se desentender e cada um foi para um lado. Mas e os outros 13? Vou jogar fora?

QUEM: Você e a Alexandra não moram juntos?
AF:
Não, nunca moramos.

QUEM: Gostaria de ter mais filhos?
AF:
Não, já tenho quatro. Já contribuí para a superpopulação.

QUEM: Você tem quatro filhos e a Alexandra, nenhum. E se ela tiver o desejo de ser mãe?
AF:
Ela pode. Poxa, só no Brasil tem pelo menos uns 80 milhões de homens (risos).

QUEM: O que o levou a fazer um curso de culinária?
AF:
A vergonha de não saber fritar um ovo! A única coisa chata é que agora todo mundo quer que eu mostre, virou uma responsabilidade. Você tem que fazer um negócio aqui, um negócio ali.

QUEM: Como você vê o seu filho Bruno seguindo a carreira de ator?
AF
: Com apreensão. É uma carreira difícil, ingrata. Procuro não interferir porque acho que a experiência não se transfere. Claro que, se ele quiser me perguntar alguma coisa, vou estar sempre ao lado dele para isso. Mas ele vai dar certo, ele é focado.

QUEM: Tem algum papel que sonha em interpretar?
AF:
Tenho 1.800 sonhos. Ter um só eu acho perigoso, senão depois desse sonho só há a decadência. Como tenho 1.800, se eu realizar um ainda tenho 1.799 pela frente. Talvez eu morra sem conseguir chegar lá, mas continuo sonhando.

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