Eliana (Foto: Renam Christofoletti )

Eliana é capa da Quem (Foto: Renam Christofoletti )

Com uma trajetória de três décadas na TV, Eliana se mostra radiante com as conquistas pessoais e profissionais. A apresentadora, de 49 anos de idade, afirma que a maturidade fez com que passasse a eleger suas prioridades. “Percebi que nada é mais importante do que estar ao lado das pessoas que você ama e que te amam”, afirma. Ícone do público infantil entre as décadas de 1990 e 2000, a apresentadora migrou para atrações dominicais em 2005 e se consolidou em um espaço antes dominado por homens.

Com energias renovadas após dias de férias na Bahia, a apresentadora retornou a São Paulo, onde mora, e está na expectativa para o lançamento do programa Ideias à Venda, que estreará no catálogo da Netflix a partir de 9 de fevereiro. A atual fase da carreira consagra a menina que começou na TV ainda adolescente. "Naquela época, eu não tinha cenário, nem balé. Só aparecia no vídeo da cintura pra cima. Eu era uma VJ de desenhos. A MTV estava super em alta na época e os VJs apresentavam os clipes. O Silvio Santos teve a ideia de me colocar como uma VJ de desenhos", diverte-se, ao recordar as primeiras oportunidades no SBT -- emissora em que chamou a atenção de Silvio Santos ao participar do Qual é a Música?, quando integrava o grupo musical Banana Split.

Ao recordar os tempos de apresentadora infantil, ela conta que a amizade com Xuxa e Angélica, apontadas como suas concorrentes no passado, se solidificou nos últimos anos. Ela afirma que guarda boas recordações e se surpreende quando me vê mostrar uma Naninha da Eliana, um dos muitos brinquedos licenciados por ela na década de 1990. "É uma relíquia! Quanto carinho", emociona-se, revelando um verdadeiro xodó pelos itens que lançou para o público infantil ao manter um acervo de brinquedos em um dos ambientes de sua casa. "São peças que não estão mais no mercado, não têm mais para vender. A Manu pede para brincar, eu mostro, ela brinca um pouquinho e retorno para caixa", afirma a apresentadora, mãe de Manuela, 4 anos, da atual união com o diretor Adriano Ricco, e Arthur, 10, do relacionamento com o produtor musical João Marcello Bôscoli.

Comedida na exposição das crianças e do casamento, Eliana avalia que a maturidade permitiu que encontrasse um equilíbrio. "Gosto de dividir os meus momentos de alegria. O Brasil rezou pela minha filha. Como ela iria nascer e crescer sem que eu dividisse essa minha benção, esse meu milagrinho? Ter sido mãe é minha maior alegria. O que mostro é de maneira natural, espontânea e amorosa", afirma a apresentadora, que teve uma gravidez de risco em 2017 e precisou fazer repouso absoluto.

Sem crise com a idade -- ela completará 50 anos em novembro --, Eliana se surpreendeu com um recente flagra na piscina de um hotel no Rio de Janeiro. "É natural que possam te fotografar, que um paparazzo te registre, mas a maneira como foi registrado nunca havia acontecido em 30 anos de carreira. A princípio, me assustei pela imagem que eu vi. Eram fotos que estavam completamente fora do meu controle. Por outro lado, foi libertador. Vamos normalizar que aquele é o corpo de uma mulher – no caso, eu – e é o meu templo."

Você tem mais de 30 anos de carreira e estreia um programa de empreendedorismo no streaming em fevereiro. O que te motiva a experimentar novos formatos?
Na sociedade em que a gente vive, ao falar em empreender, já se imagina um homem engravatado. Uma mulher estar à frente de uma atração como esta é mais um paradigma sendo quebrado, mais um momento importante para a minha vida. Quando eu falo em quebrar paradigmas, como estar aos domingos há quase 17 anos em um programa para família – em um hall predominantemente masculino – também foi uma grande conquista como mulher e profissional. Fiquei muito lisonjeada em ter sido convidada como apresentadora do Ideias à Venda, primeiro formato de empreendedorismo brasileiro da Netflix.

Eliana com vestido Mayara Bozzato (Foto: Renam Christofoletti)

Eliana com vestido Mayara Bozzato (Foto: Renam Christofoletti)

Para quem já te viu em gravações e bastidores, fica nítido seu domínio de palco. Ainda é possível sentir frio na barriga ou você já chega com a certeza de que vai dar certo?
Não. Estou sempre aprendendo e gosto de ouvir as pessoas que estão ao meu redor, ouvir a direção, os roteiristas, os parceiros de palco. Gosto de ouvir e de aprender. Quando entrei nesse projeto, ele já estava idealizado e roteirizado. Foi a primeira vez que fiz um projeto em que já estava praticamente tudo formatado. Desde o início da minha carreira, sempre participei da formatação. Ainda menina, no primeiro programa, tive a chance de sentar com os diretores e escolher cenário [do Festolândia, no SBT]. Esta foi uma experiência diferente para mim porque quando cheguei já estava tudo pronto. Minha contribuição foi como empreendedora e profissional da área de comunicação e como consumidora. Foi bacana participar deste projeto.

Olhando para trás e pensando naquela apresentadora que tinha um programa de baixo orçamento, sem cenário, apenas um chroma key e coreografias com as mãos, você imaginava que fosse alcançar tudo o que conquistou na TV?
Sempre tive verdadeira paixão pela comunicação. Comecei cantando, depois fui conquistando espaços como apresentadora e sempre gostei de testar os meus limites, aceitar desafios. Gosto disso. Como comecei muito menina, não tinha ideia onde eu poderia chegar, mas tinha um desejo e um sonho muito grande de estar em contato com o público – seja cantando, seja pelos programas. Isso foi acontecendo com uma conexão muito respeitosa entre as partes. O público cresceu comigo e a gente estabeleceu uma relação de muito carinho. Já passei por duas emissoras e por onde eu vou o público me acompanha.

Você entrou para o meio artístico nova. Como foi estar neste meio já nos anos 1980 e 1990? Percebe evoluções?
A construção de carreira que eu tive ao longo dos anos é meu grande tesouro como profissional. É muito gratificante olhar para trás e ver que comecei ainda garota – 12 no meio artístico, 14 na música e 16 na TV – e depois de tantos anos ainda sigo me comunicando e as pessoas ainda estão me ouvindo. Isso é gratificante.

"Sempre gostei de testar os meus limites, aceitar desafios. Como comecei muito menina, não tinha ideia onde eu poderia chegar"

Eliana usa vestido Andressa Salomone e scarpin Christian Louboutin (Foto: Renam Christofoletti)

Eliana usa vestido Andressa Salomone e scarpin Christian Louboutin (Foto: Renam Christofoletti)

Parte da mídia gosta de rótulos e já te identificou como "Eliana dos Dedinhos" ou "ex-Banana Split"? Tira de letra ou já se incomodou com isso?
É meu legado, né? É minha história. A música Dedinhos foi a que me conectou com crianças do Brasil inteiro. É uma melodia conhecida no mundo inteiro, Frère Jacques, e é uma melodia linda. Só tenho a agradecer por essa música ter aparecido na minha vida e ter a chance de me comunicar com as crianças por meio dela. Foi com ela que comecei a lançar discos e CDs em uma carreira musical para as crianças. A ideia veio a partir de um domingo com meus sobrinhos, Guilherme e Gustavo – que hoje têm 34 e 37 anos. Eles eram pequenos e comecei a fazer coreografias com os dedinhos. Eles falavam: “Titia volta, titia repete”… Naquela época, eu não tinha cenário, nem balé na TV. Só aparecia no vídeo da cintura pra cima. Eu era uma VJ de desenhos. A MTV estava super em alta na época e os VJs apresentavam os clipes. O Silvio Santos teve a ideia de me colocar como uma VJ de desenhos. Por aparecer no vídeo apenas da cintura pra cima, pensei em como conseguiria criar uma comunicação não só pela fala, mas também no visual e nos gestos, na comunicação com as mãos. Como tinha dado certo a brincadeira com meus sobrinhos, resolvi levar para a televisão e foi um sucesso absoluto. A gravadora me procurou e assim começou uma etapa musical, shows, palcos… Foi uma nova forma de conexão com as crianças – não só pelo programa, mas também pela música. Então, tenho verdadeira paixão pela minha história. Nada me incomoda nesse sentido, muito pelo contrário. Quando lembro de tudo o que eu já fiz, já construí e já conquistei, percebo muita luz – especialmente nesse universo com crianças. É muito amor!

Em algum momento, já pensou em parar?
O período mais difícil para mim foi o da gestação da Manuela. Nas transições de emissoras, é natural que tenha ficado algum período fora do ar porque envolve a troca, mas segui trabalhando no período de formatação e reuniões. Na gestação da Manu, foram cinco meses fora do ar. Foi muito tempo. Fiquei hospitalizada, não saía da cama e quando saía, andava em cadeira de rodas. Tudo para que eu tivesse a Manuela e mantivesse a saúde intrauterina dela. Sempre achei que eu tinha o controle da minha vida em todos os aspectos. Até então, tudo o que eu queria, buscava ou planejava, eu conseguia e conquistava. Com muita dedicação, claro. Quando a Manuela chegou, tive que realmente parar a minha profissão e foi um baque para mim, mas sabia que tinha algo mais importante a fazer: salvar uma vida. Interromper a profissão, de fato, só aconteceu no episódio da Manu.

"Quando a Manuela chegou, tive que realmente parar a minha profissão e foi um baque, mas sabia que tinha algo mais importante a fazer: salvar uma vida"

Se aposentar, no entanto, não foi uma ideia?
Nunca pensei em deixar minha profissão. Quando estava no hospital, refleti muito sobre a minha vida e a importância daquilo que precisava ser importante para mim. Eu, definitivamente, percebi que nada é mais importante que estar ao lado das pessoas que você ama e que te amam. Trabalho e dinheiro não vão te trazer isso. Hoje, sei que se meus filhos precisarem de mim por alguma razão, eu estarei com eles. Se tiver que escolher entre o trabalho e a minha família, já sei que escolha vou fazer. Por mais que eu ame meu ofício, aprendi que nada mais importa do que salvar uma vida ou estar com as pessoas que você ama. Tenho verdadeira paixão pela minha profissão e acho que meus filhos ficam felizes por ver e ter uma mãe realizada. Sou sempre a favor de trabalhar fora, ter minha independência, minha vida profissional, mas acho muito saudável e importante meu papel como mãe. Se for uma escolha crucial, já sei que escolha fazer.

Seus filhos já entendem que você é famosa e muita gente te conhece?
O Arthur já sabe e tem essa noção. A Manu, recentemente, me perguntou se todas as mães trabalhavam na televisão. O maior presente para um comunicador é falar e ser ouvido. Ao longo desses anos todos, eu me senti próxima do meu público e isso é muito positivo.

Eliana com vestido Mayara Bozzato e casquete Graciela Starling (Foto: Renam Christofoletti)

Eliana com vestido Mayara Bozzato e casquete Graciela Starling (Foto: Renam Christofoletti)

E imagino que seu público adore ver seus momentos além da TV, não é? O recente vídeo em que ela faz maquiagem em você é muito fofo!
Resolvi registrar aquele momento das férias. No meio da gravação, ela tinha dito que eu não precisava gravar, mas, antes de publicar, perguntei a ela: “A mamãe pode mostrar esse vídeo? Queria mostrar esse vídeo para as pessoas que me seguem. Posso mostrar para todo o mundo?”. Quis que ela tivesse a ideia da dimensão. Ela respondeu: “Pode! Eu gostei, eu gostei”. Eu peço permissão a eles. A Manuela é bem desenvolta e está começando a entender. O Arthur já entende super. Pergunto se posso fotografá-lo e se posso postar porque acho que eles têm o direito à escolha. Fico muito atenta aos desejos e vontades dos meus filhos neste sentido da exposição. Quero que eles possam escolher. Na maioria das vezes, o Arthur não quer. Ele está em uma fase que não quer e eu respeito isso. As pessoas, às vezes, comentam que eu só tiro foto com a Manu, mas é que o Arthur está em uma fase que já escolhe o que realmente pode ou não postar. É muito genuíno que ele se manifeste.

Recentemente, você curtiu férias com as crianças. Você é do tipo que volta realmente revigorada ou planejando "férias das férias"?
Não. Eu gosto realmente de estar com eles. É sempre muito bom poder ter esses dias com a chance de brincar, se reconectar, conversar, contar histórias. É tão bom! Desde que meus filhos nasceram, eu diminuí até o número de terapias. A maternidade é uma terapia para mim. Claro que, como tudo, tem os momentos de muito aprendizado, os momentos difíceis, mas o saldo é sempre positivo.

As formas de diversão para as crianças são muito diferentes da maneira como era na sua infância e também da geração que te assistiu como apresentadora infantil. Como seus filhos gostam de se entreter?
Eles têm acesso aos computadores, ao streaming e à tecnologia, mas em casa temos alguns acordos. A tecnologia os deixa conectados aos amigos, mas não conectados fisicamente. Eu e meu marido temos um olhar atento para essa questão. Não teria como não deixá-los acessar porque seria um prejuízo para a educação deles – até a escola usa tablets, computadores… Mas procuro monitorar o tempo que eles ficam X a vida que eles levam. É saudável que a gente fique em cima.

Você já teve diversos produtos licenciados – CDs, brinquedos, bonecas. Você já os apresentou para esses produtos? A Manu já viu sua boneca, por exemplo?
O Arthur ficou mais ligado nas músicas. Quando era menor, escutava os discos. A Manu, além das músicas, fica ligada nos produtos. A boneca, sorveteria… Só pelo colorido da caixa, a Manu já fica encantada. Tenho um acervo em casa de algumas peças que são raridades. Não estão mais no mercado, não têm mais para vender. A Manu pede para brincar, eu mostro, ela brinca um pouquinho e retorno para caixa. Sei que se eu der pra ela brincar, corre o risco de daqui a pouco perder uma peça… Mas quero que eles tenham essa lembrança não só em fotos e vídeos dos comerciais que fiz para as crianças, mas que eles tenham essas brincadeiras materializadas.

"Desde que meus filhos nasceram, diminuí o número de terapias. A maternidade é uma terapia para mim"

Eliana usa vestido Andressa Salomone e scarpin Christian Louboutin (Foto: Renam Christofoletti)

Eliana usa vestido Andressa Salomone e scarpin Christian Louboutin (Foto: Renam Christofoletti)

Percebi que você tem um certo xodó por esse acervo. Estou enganada?
Confesso que eu tenho um zelo e um carinho tão absurdo por essas relíquias. São lembranças do universo infantil que eu trabalhei. Sou bem comedida para deixar brincar, mas deixo e, depois, guardo. Tenho um baita xodó mesmo por esta fase da minha vida com as crianças. Foi um sucesso.

O Adriano Ricco, seu marido, dirige o The Masked Singer Brasil. É um programa que anima seus filhos?
Eles assistem, inclusive, quando o pai está checando a edição do programa antes de ir ao ar. Eles assistem no computador e adoram. A diferença entre as nossas crianças e as crianças do passado é que eles passam em frente à televisão. Eles assistem em alguns momentos. Por exemplo, estou assistindo ao meu programa e eles passam: “Mãe, por que você está emocionada?”, “Que história bonita, mamãe”. Eles também acompanham o Adriano aqui em casa, na finalização do programa. Está tudo em família. Ele trabalha na Globo; eu, no SBT, e um torce pelo outro. Curiosamente, a gente não fica falando de trabalho, diferentemente do que algumas pessoas possam imaginar. Pensam se um dá dicas pro outro, mas não. A gente não fala. Desde o início da relação, isso se estabeleceu naturalmente entre a gente. Ele tem um baita carinho e respeito pelo meu trabalho – e eu pelo dele.

Já se imaginou trabalhando com ele?
A gente realmente não mistura a vida pessoal e profissional. Ele está muito bem onde está, estou muito bem onde estou. A gente segue caminhos paralelos, admirando um ao outro. Nunca teve esse lance de “vem trabalhar comigo”.

Você e o Adriano mantém uma relação muito discreta. Isso é reflexo do que já vivenciou no passado, um amadurecimento de como expor, como preservar?
Nas minhas redes sociais, a gente aparece da maneira como tem que ser. Não existe uma restrição ou um não querer aparecer com meu marido ou filhos. Gosto de dividir, com carinho, os meus momentos de alegria, da família. Imagina, o Brasil rezou pela minha filha. Como ela iria nascer e crescer sem que eu dividisse essa minha benção, esse meu milagrinho? Ter sido mãe da Manuela e do Arthur é minha maior alegria. Sou comedida e mostro de uma maneira gostosa, quando a gente se sente à vontade… Não existe uma obrigação. Não faço da minha família um ativo de engajamento profissional. Esse não é meu perfil. O que mostro é de maneira natural, espontânea e amorosa. Acho que a maturidade traz uma série de aspectos positivos para gente. Falar de amor e de relacionamentos é sempre inspirador e a gente busca fazer isso de maneira bem tranquila e equilibrada.

"Não faço da minha família um ativo de engajamento profissional"

Eliana com vestido Mayara Bozzato e casquete Graciela Starling (Foto: Renam Christofoletti)

Eliana usa vestido Mayara Bozzato e casquete Graciela Starling (Foto: Renam Christofoletti)

Recentemente, você fez um desabafo nas redes sociais após ter sido fotografada de biquíni por um paparazzo no Rio e as mulheres se identificaram muito com suas palavras. Chegou a ser um incômodo ser flagrada em um momento de descontração?
Entendo que sou uma pessoa pública e acabe gerando curiosidade, assim como todas as pessoas que trabalham neste meio. É natural que possam te fotografar, que um paparazzo te registre, mas a maneira como foi registrado nunca havia acontecido em 30 anos de carreira. A princípio, me assustei pela imagem que eu vi. Eram fotos que estavam completamente fora do meu controle. Por outro lado, foi libertador. Pensei: “Nossa! Está tudo bem”. Vamos normalizar que aquele é o corpo de uma mulher – no caso, eu – e é o meu templo. Por que vou ficar receosa? Por que vou esconder? Foi libertador porque foi como se eu tirasse aquela imagem da perfeição e me aceitasse como realmente sou. Esse episódio foi como renunciar à imagem de perfeição. Vivo um momento de muita autoaceitação. Foi libertador me livrar da pose, afinal eu controlo aquilo que eu posto. Controlo aquilo que vai pro ar. Controlo no sentido de escolher o melhor ângulo, a roupa. Naquele momento, fui pega de surpresa. Depois, até agradeci. No momento, veio aquela sensação de não concordar, mas depois veio a sensação de que está tudo bem. Está tudo bem ter imperfeições. Temos que normalizar as imperfeições e parar de nos cobrar tanto. É um exercício parar de se cobrar para estar nos padrões que foram estabelecidos. Quanto mais genuíno for, melhor.

Em algum momento você já se sentiu refém da beleza e juventude?
Acho que a mulher é condicionada a alguns padrões – e que bom que isso vem sendo quebrado ao longo dos anos. Relaciono o envelhecer à vida. Se você não envelhece, você morre cedo. Eu amo viver e, inevitavelmente, vou envelhecer. A gente tem que parar de se cobrar por isso. Envelhecer tem a ver com viver e aceitar sua vida como ela é, como ela está, aceitar o seu momento e vivê-lo na plenitude. Acho que é isso que eu estou vivendo.

Nota os ganhos da maturidade?
Vou fazer 50 anos de idade e estou na plenitude e com autoaceitação. Estou me curtindo, estou feliz com a família que eu construí e vivo um momento profissional incrível e também como mulher. Estou em uma fase muito segura. Quero celebrar esse momento.

Pelo programa e pelas suas redes sociais, é perceptível que causas feministas te interessam. Quando esse seu olhar ficou mais aguçado?
Venho de uma família de mulheres empoderadas. Minha avó ficou viúva muito cedo, com sete filhos e trabalhou bastante para cuidar sozinha das crianças. Minha mãe é uma baita de uma guerreira – cuidou de mim e da minha irmã mesmo trabalhando fora. Ela que cuidava do dinheiro da casa, administrava as finanças da família. Cresci vendo essas mulheres. Acredito que mais do que ouvir o que seria bom para nossa educação, é ver. O exemplo é muito mais impactante do que a fala. Minha mãe e minha avó não tinham o discurso, mas eu notava como elas faziam acontecer. Elas foram meus exemplos de empoderamento. Acho que Manuela e a filha da Manuela também crescerão com estes valores. O que diferencia é que hoje há uma maior rede de apoio entre as mulheres e, antigamente, não era assim. Hoje, a gente discute a sociedade aspectos da sociedade patriarcal, machista e ajuda uma a outra. Por anos, fomos induzidas a acreditar que mulher não pode confiar em mulher.

Nos anos 90 especialmente, muito era comentado sobre a "guerra das loiras" na TV. Hoje, quando você, Angélica e Xuxa aparecem juntas há uma comoção dos fãs. Quando os laços de amizade ficaram fortalecidos?
Naquela época, a gente não tinha nem tempo de vivenciar uma amizade. Hoje, na maturidade, temos uma outra rotina, elegendo nossas escolhas profissionais e com tempo de viver a vida de acordo com prioridades. Estar junto com pessoas que admiro e cultivar amizades estão entre as minhas prioridades. Sempre admirei as duas. Tive contato com a Angélica quando ela trabalhou no SBT. Também tive muito contato com a Xuxa – fui à maternidade quando a Sasha nasceu e ao aniversário de 1 aninho da Sasha. Mas, sem dúvida, nossa relação como amigas surgiu de uns anos pra cá. Antes, a relação que existia era a profissional. Sei que nossos encontros geram curiosidade do público, mas, mais do que isso, é bacana inspirar as mulheres a se unir e trocar ideias.

"A mulher precisa e deve sentir prazer e cuidar dela nessa questão. É fundamental ter a liberdade de ser quem a gente é"

E a disparidade entre homens e mulheres, como encara?
A estrutura patriarcal que a gente vive favorece ainda os homens. Sou uma pessoa que sei dos meus privilégios, mas, por ser mulher, também já sofri preconceitos. Entendo que tenho privilégios e uso minhas redes sociais e meu programa para colaborar, estar do lado, inspirar e ser instrumento para quem precisar. As mulheres têm espaço cativo no conteúdo do meu programa. No quadro Beleza Renovada, a gente resgata a dignidade de mulheres que querem entrar no campo de trabalho, a gente fala sobre a violência doméstica, sobre relacionamentos abusivos – tudo isso inserido em um programa de entretenimento aos domingos. A gente busca uma maneira leve, mas tocamos em todos esses assuntos com uma apresentadora mulher, falando com as mulheres. Sou feminista e não há como viver nessa sociedade sem ser. Diferentemente do que muitas pessoas imaginam, ser feminista é querer igualdade e ser vista com respeito. Ainda há direitos que a gente precisa buscar, como a divisão das tarefas domésticas, igualdade salarial e a visibilidade do prazer. A mulher precisa e deve sentir prazer e cuidar dela nessa questão. É fundamental ter a liberdade de ser quem a gente é. Estamos caminhando nesse sentido.

Não poderia ser a passos menos lentos, com menos tabus?
Poderia, mas que bom que a gente fala sobre isso hoje e que bom que hoje conseguimos construir redes de apoio. É muito bom que estamos tocando nessas questões. É importantíssimo o espaço. A comunidade LGBTQIA+ tem total meu apoio – tanto no programa, como nas redes sociais. Sei da minha obrigação e responsabilidade como comunicadora e vou cumpri-la.

E o que o público pode esperar desse seu atual momento profissional?
Na Netflix, vou ampliar meu público e é uma baita inovação para mim como apresentadora e também um presente como profissional. O que é interessante é que eu sou apaixonada pela TV, mas percebi que gosto de estar onde eu possa me comunicar. Eu não sou uma nativa das redes sociais, mas gosto de me comunicar pelas redes, gosto de estar nos trends musicais, gosto de me comunicar no Instagram Stories e, agora, no streaming. O streaming te dá a possibilidade de falar com o mundo. Em 9 de fevereiro, 190 países terão a possibilidade de acessar esse conteúdo. O mais incrível é poder mostrar a nossa cultura para outras culturas, o que eu acho bárbaro. O Ideias à Venda é o primeiro reality brasileiro da Netflix de empreendedorismo. Realmente, me senti muito honrada com o convite. Levo a minha experiência de 32 anos de profissão ao Ideias à Venda.

Com mais 30 anos na TV e madrinha de campanhas como o Teleton, você sabe que dá voz a muitas vozes e conquistou credibilidade no meio. Como gostaria de se ver nos próximos 10 anos?
Desejo ter muita saúde para ver meus filhos crescendo e realizar meu trabalho como comunicadora. Entrei no streaming para esse projeto especial, mas sou uma pessoa que acredita muito na convergência das mídias – uma não exclui a outra. Tenho verdadeira paixão pela televisão e acho que a TV e o streaming são complementares. Sou a prova viva disso. Nasci na televisão, mas fui parar no streaming. Acredito que conteúdos da TV estarão no streaming também. Torço para que possa estar sempre antenada e pronta para aprender com humildade. Quero avançar positivamente na carreira e ter muita saúde. Não sei onde estarei daqui a dez anos, mas onde estiver quero estar amparada pelas pessoas que eu amo, com muita saúde e fazendo aquilo que me realiza.

CRÉDITOS:
Reportagem: Beatriz Bourroul | @biabourroul
Fotos: Renam Christofoletti | @renamchristofoletti
Design de capa: Eduardo Garcia | @eduardogarda
Styling: Drica Cruz | @dricacruz
Beleza: Lavoisier | @lavoisier
Assessoria de Imprensa: BPMcom | @soubpmcom
Edição: Giulianna Campos | @giuliannacampos

Eliana com vestido Mayara Bozzato e scarpin Christian Louboutin (Foto: Renam Christofoletti)

Eliana com vestido Mayara Bozzato e scarpin Christian Louboutin (Foto: Renam Christofoletti)