Antonio Fagundes é a Capa da Semana na QUEM Acontece (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Ficar na presença de Antonio Fagundes pode parecer intimidador. De fato é, mas só nos primeiros dois minutos. Claro que entrevistar um ator do gabarito dele -- com 70 anos de idade, 56 de carreira, mais de 53 trabalhos na TV, 57 peças de teatro, 52 filmes e 33 prêmios -- não é tarefa fácil. E o medo de fazer alguma pergunta besta, de dar bola fora? Mas a verdade é que Fagundes é tão generoso e pé no chão que em momento algum se coloca nesse patamar intocável, como alguns artistas gostam de ficar.

Depois de fotografar três looks escolhidos pela nossa produção (as meias divertidas são suas preferidas, ele faz coleção) e não querer nem se ver na tela do computador ("se está bom para vocês, está bom para mim"), lá pelas 16h, Fagundes pede um simples sanduíche de  salame para almoçar. Acomoda-se numa poltrona com dois livros no colo (ele tinha acabado um e estava começando outro) e ao responder cada pergunta, dá uma aula de história e sabedoria. Falamos até de Sócrates e Schopenhauer. Mas ao contrário da maioria dos intelectuais, toda essa bagagem cultural não soa arrogante, só faz aproximá-lo da vida real.

Acostumado a uma rotina agitada de trabalho, atualmente Fagundes se divide entre o Rio de Janeiro, onde grava as cenas de Alberto, da novela Bom Sucesso, e São Paulo, onde brilha no espétaculo Baixa Terapia e na produção do musical Carmen, A Grande Pequena Notável, ambos no Teatro Tuca, em Perdizes. "As pessoas estavam acostumadas a dizer que eu era workaholic. Eu digo que não. Quem tem prazer no que faz, não trabalha nunca", explica ele, que nem por um segundo pensa em colocar o pé no breque. "Vão ter que me aposentar, sozinho não vou parar", afirma.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)



Como tem sido a rotina de gravar novela no Rio de Janeiro, peça em São Paulo...
É boa, eu estou acostumado a isso. Se você pegar meu currículo e der uma analisada, vai ver que não daria tempo de fazer em 8 horas por dia, tudo aquilo que fiz. Então, meu dia sempre foi multiplicado. Estou sempre fazendo TV, teatro e cinema, tudo junto, já me acostumei. Já organizei minha vida de uma forma que uma coisa não interfere na outra. Fico sem folga, mas não interfere. Gravo segunda, terça e quarta no Rio, quinta-feira é dia de trânsito, normalmente resolvo alguma coisa de manhã no Rio, de produção, e à noite em São Paulo. Sexta, sábado e domingo faço teatro. E no quarto período, que é madrugada, filmo. Dormir pra que, né?! Quando dá um tempinho, leio um livro.

E não cansa?
Cansa bastante. Às vezes cai a imunidade, fico gripado, o organismo te para. Mas normalmente dá para equilibrar bem.

"Quem tem prazer no que faz, não trabalha nunca"

De onde tira toda essa energia?
As pessoas estavam acostumadas a dizer que eu era workaholic. Eu digo que não. Quem tem prazer no que faz, não trabalha nunca. Está sempre fazendo. Tudo que aparece é gostoso, bom, desafiador, um teste para você tentar outras coisas diferentes. O cansaço é só físico porque a cabeça esta a mil e isso é ótimo.

Já parou para pensar em aposentadoria, cogita dar pelo menos uma parada?
Eu acho que vão ter que me aposentar, sozinho não vou parar! Às vezes é bom ter uma folguinha, a gente organiza, libera um mês e vai viajar. Gosto muito de viajar. Tinha uma viagem programada para abril do ano que vem, mas não vai dar porque encavalaram uns compromissos. Mas damos um jeitinho.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Em Bom Sucesso, seu personagem Alberto, descobre uma doença que dá a ele apenas 6 meses de vida. Se você tivesse 6 meses de vida, o que faria?
Eu faria tudo igual, porque a gente não sabe quantos meses tem de vida. Então, é melhor não pensar muito nisso e aproveitar enquanto está vivo. Eu faria a mesma coisa, continuaria minha vidinha, produzindo, fazendo, lendo meus livros. Tem uma história linda do Sócrates. No dia em que ele ia tomar cicuta (veneno), ele estava aprendendo a tocar flauta. Disseram para ele: 'Mas você vai morrer'. Ele disse: 'Não interessa, vou aprender a tocar flauta'. Isso no dia da morte dele.

"Quero estar bem de saúde até morrer. Ai é bom, de repente, acabou. As pessoas vão se assustar, mas eu vou sair numa boa"



Você tem medo da morte?
Não tenho medo. Eu não gosto muito, não fico muito confortável, com doença. Mas Schopenhauer dizia que se você tem 15 anos, é jovem, bonito, rico, inteligente, mas não tem saúde, não adianta nada. Melhor ser velho, pobre, feio, cheio de saúde...Eu prefiro isso aí. Quero estar bem de saúde até morrer. Ai é bom, de repente, acabou. As pessoas vão se assustar, mas eu vou sair numa boa (risos).

E a paixão pelos livros, como começou? Você está com dois nas mãos agora...
Acabei um e vou começar outro agora. É que aqui a gente foi rápido, mas se demorasse um pouquinho, eu sentaria num cantinho, não encheria o saco de ninguém, nem o meu, porque estaria lendo. A paixão começou desde moleque. Comecei a ler pra valer, romances, com 10, 11 anos de idade. Até então, lia gibis. Sempre gostei de ler, sempre fui muito curioso. A palavra que move o mundo é interesse. Se você tem interesse nas coisas, não tem coisa melhor do que a leitura de um bom livro. Porque ele vai te manter ligado naquele momento que você está lendo e ainda vai carregar para o resto da vida alguma informação que está lá.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

"A gente está vivendo num mundo que é fruto da falta de leitura, o mundo que é voltado para o próprio umbigo"


Você acha que hoje em dia os jovens não se interessam tanto pela leitura por causa da internet, das redes sociais?
Eles nunca tiveram (interesse). A rede social foi uma desculpa que preencheu o buraco. O brasileiro nunca foi de ler muito. A média de leitura do brasileiro, daqueles 20% que leem, é de um livro por ano. Enquanto 80% da população nunca leu um livro se quer. Quem lê um livro por ano, vai levar 30 anos para ler só um Jorge Amado. Acho que essas pessoas estão perdendo coisas lindas, maravilhosas, perdendo tempo, conhecimento, prazer, iluminação, a possibilidade de crescer internamente, de se relacionar com os outros. Estão perdendo civilidade. A gente está vivendo num mundo que é fruto da falta de leitura, o mundo que é voltado para o próprio umbigo. Esses aparelhinhos aí (celulares) fazem isso.

De que forma você usa o celular?
Uso normalmente desligado, só ligo quando quero falar com alguém ou quando quero ver coisas de banco. Confesso a você que celular comigo não funciona. Eu tentei instalar o Uber, o Waze, não consegui, não funciona. A Alexandra (Martins) mesmo brincou comigo: "A máquina sabe que você odeia ela". E é isso, eu odeio mesmo. Tenho Whatsapp por causa dos meus filhos, mas eles reclamam que mandam mensagens e eu vejo depois de uma semana.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Para falar com você é só ligando?
Não, porque não atendo. Para falar comigo tem que ir atrás mesmo. Tem que ter um esforço. É bom porque a pessoa que consegue chegar (até mim), é porque quer muito falar comigo.

Qual sua opinião sobre o que aconteceu na Bienal do Livro no Rio (quando o prefeito, Marcelo Crivella, considerou HQ com heróis se beijando impróprio e determinou a retirada do título do evento literário)?
Idiotice. Bobagem. A gente tem que prestar atenção e não deixar isso acontecer. A gente lutou durante anos para não ter censura no país, aí vem um prefeitinho qualquer fazer o que fez lá? O que ele fez foi muito feio. Além de ser contra instituições caras para todos nós, liberdade de expressão e ausência de censura. Mas ao mesmo tempo foi bom porque vendeu bastante livro.

E sobre a homossexualidade?
Isso é uma coisa que não deveria estar sendo discutida. É uma coisa na qual as pessoas devem decidir sozinhas se querem ou não. Se as pessoas querem que seus filhos sigam determinados padrões, que eduquem seus filhos desta forma. O Estado não tem o direito de intereferir em absolutamente nada do cidadão. O Estado que tem o poder de interferir é um Estado autoritário que nós não queremos.

"Sair do armário pra que? É um problema pessoal. Eu não pergunto para você como é sua relação sexual"

Você acha que hoje em dia é mais fácil para os homessexuais se assumirem, saírem do armário, do que no seu tempo?
Eu não sei porque tem que sair do armário. Sair do armário pra que? É um problema pessoal. Eu não pergunto para você como é sua relação sexual, como foi ontem à noite com seu marido, namorado, pessoa que você ama. Essa necessidade de sair do armário é uma necessidade que a gente entende, é política, é no sentido de que precisamos ter a afirmação do nosso direito. Entendo que algumas pessoas precisam sair do armário para poder lutar politicamente. Mas o resto da população, não. Fica na sua. Cada um na sua.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)


Acha difícil os atores se assumirem porque eles podem perder papéis de galã?
Não precisa. Você pega os grandes galãs de Hollywood que nós conhecemos (de antigamente), quase todos eram homossexuais. Nós só soubemos disso 50 anos depois. Não fez a menor falta para a gente. Continuamos gostando deles, eles eram excelentes  atores e o fato de serem homossexuais, passou a ser só curiosidade.

E a cultura do machismo? Você acha que na sua época era mais forte e agora estamos avançando em relação ao feminismo?
Na minha não, ainda tem, você vê que tem uma tendência do vamos vestir azul, vestir rosa. Isso é machismo. É uma separação antiga, um retrocesso. A gente foi criado, e isso não é de agora, nem da minha geração, é uma coisa que vem de 3 mil anos para cá. A nossa formação greco-romana era machista, nossa formação cristã era machista, patriarcal. O  homem sempre deteve o poder, o homem sempre excluiu a mulher do conhecimento. Então, é natural que agora, a gente com um acesso maior à informação, queira modificar isso. E é bom que isso esteja acontecendo. A partir do momento em que a mulher conquistou alguma coisa -- o americano chama isso de 'backlash' -- você tem um avanço, um avanço bonito, democrático, no sentindo da informação. E esse avanço conquista as mentes e os corações de algumas pessoas e, de repente, vem um refluxo, uma reação muito grande, e isso está acontecendo no mundo inteiro. O mundo inteiro machista e patriarcal está reagindo com violência aos pequenos avanços que a gente conseguiu de civilidade. Mas vamos avançar muito mais.

Você não tem redes sociais, né?! Acompanha o que falam de você na internet?
Não, nada.

"Eu sou analfabyte. Não tenho computador em casa"


Nunca buscou seu nome no Google?
No quê? Não sei nem como entrar. Eu sou analfabyte. Não tenho computador em casa.

Bom, então vou te contar que na internet algumas pessoas comentaram que o Atílio (personagem de Fagundes em Por Amor -- reprisada recentemente no Vale a Pena Ver de Novo) não caberia nos dias de hoje porque é machista, porque flertava com muitas mulheres...
Machista? Ele está separado, sozinho. Acho engraçado que a gente chegou num ponto em que não pode fazer mais nada. Ele está solteiro, sozinho, tem uma pessoa por quem ele se interessa, ele não pode porquê já namorou outra? Isso é uma análise meio forçada do Atílio. Pelo que me lembre, ele era adorado pelas mulheres exatamente pelo fato de não ser machista. Era uma pessoa que abria a porta, mandava flores, aquelas coisas que hoje são consideradas babacas e antiquadas. Se isso for machismo...

É o tal do "politicamente correto"?
Politicamente correto é um saco, porque você cria exatamente esses refluxos. Por causa de um termo que você usa erroneamente, você cria uma violência na reação de algumas pessoas. Acho muito chato. A gente perdeu o humor. A gente tem que ficar pensando mil vezes antes de falar alguma coisa porque têm vigilantes medindo cada sílaba. Isso tira a espontaneidade, o prazer de conversar, de se relacionar.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)



Já sofreu com isso?
Não porque não ouço essas pessoas. As pessoas que ficam na internet devem sofrer muito com os haters, né?! Têm pessoas que só vivem para odiar. Elas devem ter azia o dia inteiro, a vida delas deve ser horrível. Vai viver sua vida, deixe os outros em paz.

Como você, um ator tão famoso e consagrado, consegue ser tão discreto?
Talvez porque eu não tenha esse aparelhinho aí (celular), eu preserve um pouco mais a minha privacidade. A privacidade foi uma conquista tardia da civilização, levou séculos para que conseguissemos deitar sozinhos numa cama. A cama era um dos móveis mais caros que existia, tanto que poucas pessoas tinham cama. Quando se tinha uma cama, dormia  nela: você, sua mulher, quatro filhos, a sogra, o empregado...Para ter um quartinho com uma cama e cobertorzinho só seus, foram séculos de luta. Hoje em dia, a privacidade está sendo rasgada com a ponta do dedinho. Você abre sua vida para pessoas que não conhece e pior, que te odeiam.
 

"Eu preciso ser uma pessoa pública. Essa é minha profissão"

Gosta de ser uma pessoa pública?
Eu preciso ser uma pessoa pública. Essa é minha profissão. Quanto mais as pessoas me conhecerem, no que eu quero que elas me conheçam, mais elas vão assistir às minhas peças, ver meus filmes, acompanhar minhas novelas. Preciso ser público nesse aspecto profissional, na minha vida privada, pretendo preservar um pouquinho.

Gosta de ser abordado pelo público?
Depende, se eu tiver num velório, não! Pois é, já dei autógrafo em velório, infelizmente.

Você se assiste na TV?
Não, não dá tempo. Nesta novela, particularmente, a gente grava e assiste porque descobri um negócio na TV, o Globo Play. Mas normalmente não assisto, não.

É autocritico?
Eu critico o personagem, não critico a mim. Vejo se estou adequado para aquilo que o autor quer. Porque se você começa a olhar muito, é igual ao hater: vai ver a olheira, o papo, o cabelo...Não está vendo nada que interessa. Então, gosto de deixar passar. Tem gente que corre para ver depois que fotografa, que filma. Eu não gosto de ver. Que nem eu falei para vocês: 'Se estiver bom para vocês, está bom para mim'.

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)



E a parceria com sua mulher, a atriz Alexandra Martins, dentro e fora dos palcos, da TV, da tela do cinema?
Tem que dar certo, porque senão, a gente se matava depois de 10 minutos. Tenho amigos que eram casados e viajaram pela primeira vez na vida, durante uma semana, e voltaram separados porque não aguentaram ficar 24 horas juntos. A gente já passou por essa prova. Talvez seja um problema o dia em que a gente tiver que se separar, cada um para o seu canto trabalhar.

Qual é o segredo da relação de vocês?
A primeira coisa é respeito. O respeito implica numa série de coisas: respeito pelo que o outro pensa, respeito pelo que o outro é, pelo que o outro representa, pela relação em si, pela privacidade do outro. Depois o humor. Tem que ter muito humor, senão, não dá certo. E o respeito e o humor vem sempre acompanhados de inteligência. Acho que esses três fatores fazem uma boa relação.

"Gosto de abrir a porta, puxar a cadeira, umas coisinhas assim que hoje em dia são consideradas machistas"

É romântico?
Me sinto romântico, mas não ajo como um. Gosto de abrir a porta, puxar a cadeira, umas coisinhas assim que hoje em dia são consideradas machistas. Fui criado assim com uma gentileza. Mas é uma gentileza por ser minha mulher. Não quero que ela tenha o trabalho de abrir a porta, de puxar a cadeira, de pegar uma coisa pesada.

Vocês se conheceram em 2007, durante as gravações de Carga Pesada. Como foi?
Foi uma relação natural que a gente não tinha aquela pressão do 'ai eu quero, preciso sair com essa pessoa'. Fomos nos conhecendo, seis meses depois era quase natural que a gente começasse a namorar e ficasse junto esse tempo todo. Foi um processo muito calmo, de conhecimento um do outro, de respeito, admiração. Admiração também é uma coisa importante, você precisa admirar a outra pessoa.

E a diferença de idade entre vocês nunca foi um problema?
O problema de eu ter 15 anos é realmente muito grave, mas ela superou (risos).

Como é trabalhar com a Grazi Massafera?
Ela é uma querida, uma linda, muito engraçada, elétrica, ligada, estudiosa dentro do trabalho dela, disciplinada. É um prazer, você só tem com ela as coisas boas da profissão. Ela não te traz nenhum problema, ela te traz todas as soluções. Isso é muito importante na TV onde tudo é muito rápido, você precisa ter um companheiro de trabalho leve. A Grazi é leve!

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)

Antonio Fagundes em ensaio exclusivo para QUEM (Foto: Danilo Borges/ Ed. Globo)



No começo da carreira de atriz, ela sofreu muito com o preconceito de atores veteranos por ter vindo do Big Brother Brasil. O que acha disso?
Outra dessas besteiras que o corporativismo faz. A prova é que ela está aí, é uma grande atriz, está encantando todo mundo com os trabalhos dela, fazendo trabalhos cada vez melhores. Acho que a gente tem uma coisa muito cruel na nossa profissão chamada mercado. O mercado é quem vai decididir se você é ou não é ator. O mercado vai dizer se você é bom ou não. E o mercado escolhe, às vezes, por vias tortuosas. Você pega um Schwarzenegger, por exemplo, ele é um péssimo ator, mas acabou ficando bom e tem um dos salários mais altos de Hollywood. Ele ganha mais do que o Robert De Niro, que a gente considera um bom ator. Porquê? Porque o mercado decidiu que ele vale mais, porque os filmes dele vendem mais. Então, bem-vindos os que vierem do Big Brother, da advocacia... O Paulo Autran era advogado. Vou brigar com ele? Um dos maiores atores brasileiros.

Você é vaidoso?
Eu procuro cuidar da saúde, não tenho vaidade, não. Nem ligo muito pra isso, tanto é que comecei a ficar com cabelos brancos aos 30 e poucos anos e nunca passou pela minha cabeça que meu cabelo pudesse ser de outra cor. 

"Cada ruguinha aqui tem o nome de uma peça, cada olheira tem o nome de um filme, cada risco no meu rosto foi uma gargalhada que dei"



Faria plástica?
Não, agora depois de velho? Cada ruguinha aqui tem o nome de uma peça, cada olheira tem o nome de um filme, de uma relação que tive, cada risco no meu rosto foi uma gargalhada que dei. Não posso apagar isso impunemente, ainda mais sendo ator.

CRÉDITOS:
Fotos: Danilo Borges
Edição de moda: Rafael Menezes
Produção de moda: Melly Ramalho
Beleza: Leonardo Almeida
Vídeo: Eduardo Garcia

Looks:
Smoking Aries For Love, meias de acervo
Jaqueta Minha Avó Tinha, calça e camisa Aries For Love, meias de acervo, tênis Merinó
Terno azul Via Santony e meias de acervo