O único personagem da franquia 'Harry Potter' que é inspirado em uma pessoa real

A autora britânica J. K. Rowling se inspirou em um "bruxo da vida real" para criar uma das figuras mais importantes de Hogwarts

Por Redação MONET


Arte da franquia 'Harry Potter' Reprodução

A ficção é bem mais legal que a realidade, e isso ninguém tem dúvidas. Ainda assim, a arte imita a vida (e vice versa). Nessa relação de troca, artistas se inspiram em fatos da vida cotidiana para construir a própria narrativa; enquanto o mundo, por sua vez, tenta aprender com o irreal, algumas valiosas lições. Em 'Harry Potter' tudo é praticamente ficcional: magia, super vilões, nôitibus, chapéus seletores e muito mais. Harry, Ron e Hermione também. Ninguém é real. Com exceção de um misterioso personagem, parte até do spin off da série de sucesso de J. K. Rowling, que tem suas origens fundadas em um empresário francês do século 14.

Em junho de 1997, a polêmica escritora britânica, J. K. Rowling fez sua estreia na história da cultura pop, com o lançamento de 'Harry Potter e a Pedra Filosofal', o primeiro capítulo da franquia multibilionária que continua a atrair milhões de fãs ao redor do mundo, há mais de 20 anos. A narrativa fantasiosa com foco no público infanto-juvenil é uma daquelas difícil de esquecer, desde as primeiras frases. O mundo de Hogwarts, tão bem desenvolvido por Rowling, tem regras bastante bem estabelecidas e personagens absolutamente icônicos. É claro, o trio principal é o primeiro que vem à cabeça. Mas mesmo os coadjuvantes são igualmente memoráveis.

A capa do livro 'Harry Potter e a Pedra Filosofal', primeiro da saga, lançado em 1997 — Foto: Divulgação

O selo de imortal e a oficialização da entrada da série de livros na cultura pop só veio mesmo em 2001, quando J. K. estava desenvolvendo o primeiro spin-off de seu best seller, 'Animais Fantásticos e Onde Habitam'. Naquele ano, Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint deram rostos aos personagens que antes só existiam na imaginação dos fãs. Cenas icônicas como a primeira vez que Potter visita o Beco Diagonal, a ida à Plataforma 9 3/4, o chapéu seletor e o primeiro natal em Hogwarts, transformaram 'Harry Potter' em algo físico, palpável e ainda mais apaixonante.

Harry Potter e o Chapéu Seletor em 'A Pedra Filosofal' — Foto: Reprodução

Fantasia pura, é claro. Talvez por isso seja tão icônico. O mundo irreal dos bruxos comoveu incontáveis pessoas, de todas as idades, formando uma nação gigantesca, cujos cidadãos são chamados de 'Potterheads', uma das fanbases mais fiéis de toda a indústria. E não por acaso: 'Harry Potter' oferece divertimento e qualidade como pouquíssimas fantasiam faziam no começo dos anos 2000. O hype tem total sentido.

Apesar de ser assumidamente isso, uma fantasia, a história do bruxinho meio-sangue escolhido para salvar os amigos de uma terrível e sombria ameaça tem, de alguma forma, fundamento em fatos históricos. Mesmo que quase 99% por cento de sua narrativa seja completamente inventada, há um único personagem, um coadjuvante não muito comentado -- mas de extrema importância para a narrativa, que tem nome inspirado em uma pessoa real.

Gravura do alquimista e escrivão Nicolas Flamel, que viveu no século 14, na França — Foto: WikiMedia

Nicolas Flamel foi um empresário e escrivão do século 14. Viveu na França, e apesar de ter nascido na cidadezinha de Pontoise, passou boa parte da vida na capital, a badalada Paris. Além de escrivão, é relatado que Nicolas vendia livros, uma escolha comercial bastante única, levando em consideração a época em que viveu. Casou-se com a jovem Perenelle Flamel, e ambos constituíram certa popularidade entre a sociedade burguesa europeia. Encomendavam várias obras de arte (em especial esculturas), e eram católicos devotos, o que lhes rendeu uma ilustração no portal da Igreja de St. Jacques-la-Boucherie.

Mesmo que assumidamente católicos, séculos após a morte de Nicolas, uma lenda a seu respeito passou a correr pela França. Durante o século 17, Flamel ganhou notoriedade como alquimista, uma carreira nada querida pelos ultraconservadores da época -- que viam tudo que não lhes agradasse como obra de "bruxaria" (no pior sentido possível).

Ilustração feita em homenagem ao casal Flamel, sem data específica — Foto: Reprodução

Aos que demonstram os documentos da família Flamel, o jovem escrivão começou a se interessar por alquimia ainda cedo, quando teve um sonho com um anjo e um livro de capa de cobre. É claro, esse tipo de "hobbie" era coisa cara, e ele não tinha as devidas condições para começar os estudos sozinho. Apenas após o casamento com a Dama Flamel, que era viúva já naquela época, que a chance apareceu. Utilizou as economias herdadas pela mulher após a morte do primeiro marido para bancar todo o aparato. Não demorou para se especializar nos assuntos envolvendo a ciência (que no século 14 ou no 17 ainda eram considerados obra de magia).

Anos mais tarde, escreveu “O Livro das Figuras Hieroglíficas” em 1399, “O Sumário Filosófico” em 1409 e “Saltério Químico” em 1414 .

No século 17, uma lenda se espalhou entre os franceses: a de que Nicolas foi o responsável por encontrar a substância mística, fonte da imortalidade. Contavam os moradores que Flamel foi visto com a esposa em uma vila afastada, mesmo anos depois de sua morte. A lenda inspirou a escritora britânica, quase na virada para o século 21, a escrever 'Harry Potter e a Pedra Filosofal', que conta com a participação do próprio Nicolas Flamel, que no Brasil teve seu primeiro nome traduzido para 'Nicolau', na dublagem brasileira.

Brontis Jodorowsky como o Nicolau Flamel de 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald' — Foto: Divulgação

O personagem, na trama, é o responsável por ter descoberto a tal Pedra Filosofal do título, e era um bruxo de primeiríssima qualidade. Não à toa, era amigo próximo do próprio Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts. Ele e a esposa, a própria Perenelle, foram os responsáveis por criar o 'Elixir da Vida', a partir da Pedra Filosofal. À data de suas eventuais mortes, o casal contava com 665 e 668 anos, respectivamente.

Nicolas (ou Nicolau) não apareceu em 'Harry Potter', entretanto. Está no spin off, 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald', e está também em outras obras ao redor do mundo. Por ser considerado um ícone da alquimia e uma lenda urbana clássica francesa, Flamel também fez pequenas participações em outros produtos como o mangá/anime 'Fullmetal Alchemist' e o filme de terror 'Assim na Terra, Como no Inferno', de 2014. No mundo dos games, faz parte da mitologia de 'Assassin's Creed'.

Brontis Jodorowsky como Nicolau Flamel em 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grndelwald' — Foto: Reprodução

No filme de 2018, o segundo da série spin-off, Nicolau tem sua primeira e única aparição. Na obra, ele é interpretado pelo mexicano Brontis Jodorowsky, filho do diretor e escritor Alejandro Jodorowsky, ícone da fantasia e do surrealismo latino, que dirigiu 'A Montanha Sagrada' e a nunca vista versão de 'Duna'.

Confira o trailer de 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald', onde Nicolau Flamel tem sua única aparição na série.

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