O filme tão grande ou maior que 'De Volta para o Futuro' que Michael J. Fox se arrepende de ter rejeitado: 'Sou um idiota'

Fox se mudou para os Estados Unidos, mais especificamente para a cidade de Los Angeles, aos 18 anos. Era o momento perfeito para começar a crescer: estava na hora certa, no melhor local para isso. Ainda em 1980, quando há pouco havia acabado de chegar em terras americanas, J. Fox estrelou 'Loucuras em Plena Madrugada', uma das várias aventuras infantis da Disney, que tentava se reerguer em um período sombrio para o estúdio. É claro, o filme nunca foi muito notório, e hoje é apenas mais um exemplo de projetos falhos da casa do Mickey.

Dois anos depois, esteve em 'Os Donos do Amanhã', adaptação do livro 'Sementes de Violência', sobre um professor que usa a música como método de ensino, para cativar a atenção de um aluno rebelde. Apesar dos esforços, o valentão e seu grupo praticam grandes barbaridades dentro do ambiente escolar. Um retrato icônico da adolescência na década de 1980, ainda que não seja muito comentado.

A mudança de vida só veio mesmo em 1985, quando após inúmeras tentativas, Bob Gale e Robert Zemeckis conseguiram finalmente fazer funcionar o projeto no qual trabalharam por quase cinco anos, sem qualquer chance de fazê-lo sair do papel. O projeto de nome 'De Volta para o Futuro', que foi negado até pela Disney, uma das curiosidades mais surpreendentes da cultura pop, chegou a ter Eric Stoltz ('Marcas do Destino') como o primeiríssimo Marty McFly (tendo até gravado cenas por algumas semanas), mas que logo foi substituído pelo emergente da indústria, Michael J. Fox.

É claro, o projeto inteiro deu muito mais do que certo, e até hoje é um dos maiores ícones culturais da década de 1980, e o verdadeiro responsável por ressuscitar o subgênero das viagens no tempo, que há décadas haviam caído no esquecimento em Hollywood. Com o sucesso da trilogia, que lucrou quase um bilhão de dólares ao redor do mundo, a carreira de Michael estava finalmente feita, em pouquíssimos anos.

Foi após o sucesso do primeiro filme que o astro passou a estrelar outros papéis. 'O Garoto do Futuro' também de 1985, 'Luz da Fama', de 1987 (filme de Paul Schrader, em que contracenou com a icônica rockstar Joan Jett), 'Pecados de Guerra', de Brian de Palma, em 1989, foram alguns dos notáveis no currículo do ator, que não passava dos 20 e tantos anos. Apesar de nenhum desses ter conseguido bater de frente com o sucesso de 'De Volta para o Futuro', J. Fox teve a chance de diversificar um pouco os feitos, com um filme adolescente aqui, um de guerra ali...

E por pouco, finalmente outro hit poderia concorrer com o gigante de Zemeckis em sua vida; de alguma forma, Michael poderia finalmente deixar de ser apenas McFly, e adicionar outro título (ou personagem) em sua carreira. No final da década de 1980, Michael J. Fox recebeu a proposta de interpretar o executivo Sam Wheats, um homem apaixonado que, por uma tragédia do destino, acaba sendo assassinado em um assalto violento, e já desencarnado -- isto é, em espírito, resolve proteger Molly, sua namorada, de um iminente perigo que pode acabar em gravíssimas consequências.

Com a ajuda da (meio) falsa médium, Oda Mae Brown (interpretada brilhantemente por Whoopi Goldberg), Sam tenta achar uma maneira de contatar a jovem amada, mesmo já em outro plano espiritual.

Era uma chance e tanto -- analisando hoje. Na época, entretanto, o roteiro nem fez Michael J. Fox triscar. Em uma entrevista recente em 2023, o geminiano de 63 anos (que completou mais um ano de vida ainda no dia 9 desse mês) revelou como escolheu descartar a oportunidade. "Vieram falar comigo sobre, no início do desenvolvimento de 'Ghost'". Começou explicando.

"Eu achei que não ia dar certo. Eu disse: a Whoopi é ótima, mas não tem como isso dar em algo bom". Trinta e quatro anos depois, 550 milhões em lucro de bilheteria (quase 200 milhões a mais que o primeiro 'De Volta para o Futuro'), com um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante na prateleira de Goldberg, mais quatro indicações às estatuetas e o selo de imortal do romance, Michael J. Fox acabou pagando com a própria língua. "Me mostrou que eu posso sem um idiota também".

Como você bem sabe, quem acabou ficando com o papel do espírito bondoso foi o galã Patrick Swayze, que poucos anos antes havia feito história no mesmo gênero, ao ter estrelado 'Dirty Dancing - Ritmo Quente' ao lado de Jennifer Grey. Mas é claro, ele não foi a primeira opção. Antes do papel cair nas mãos do astro, e passar também pelas de J. Fox, outros nomes de respeito foram cogitados: Tom Hanks, Harrison Ford, Tom Cruise, Bruce Willis, Kevin Bacon, Alec Baldwin e Kevin Kline foram eles. É certo que qualquer um deles poderiam ter brilhado no papel -- principalmente Tom Hanks, que à época colecionava sucesso atrás de sucesso.

De qualquer forma, a escolha de Swayze foi a mais certeira, e a química entre o ator e Demi Moore, que faz Molly no filme, é uma daquelas para jamais esquecer. Ninguém poderia ter imortalizado tão bem as cenas de romance do filme quanto aquele que era considerado um dos mais belos atores da época. Simplesmente certeiro -- não é à toa que a produção é um intocável imortal do cinema.

Michael J. Fox não ficou de mãos abanando, de qualquer forma. Ainda que não estivesse em um sucesso do tamanho de 'Ghost', o canadense fez 'Os Espíritos' em 1996. O filme de Peter Jackson é mais um da carreira do diretor em que horror e comédia se misturam (só não supera seu anterior, o divertido e bizarro 'Fome Animal'), e aqui, J. Fox é um arquiteto se fingindo de exorcista. Assim como acontece com Oda Mae (Whoopi Goldberg) em 'Ghost', Michael (que aqui é Frank Bannister) é confrontado pelos reais espíritos da pequena cidade onde mora.

Ainda que seja um título notório em sua filmografia, óbvio, não superou a ficção científica com Christopher Lloyd. Ainda hoje, aos 63, e com um seríssimo diagnóstico da Doença de Parkinson (que descobriu ainda novo, aos 29), que o fez se aposentar há quatro anos, Michael J. Fox continua sendo Marty McFly, não importa quanto tempo passe. É mais um daqueles casos em que o personagem é maior que o ator, como acontece inúmeras vezes em Hollywood.

Se ele tivesse tido um pouquinho mais de fé em 'Ghost - Do Outro Lado da Vida', talvez o adolescente que odeia ser chamado de 'covarde' poderia ter dividido a fama com o executivo Sam, formando uma dupla daquelas na vida de Michael. Coisas da vida, infelizmente (para Fox, apenas).

Agora, mais de 30 anos depois, o romance mais repetido da 'Sessão da Tarde' pode voltar a fazer história. O astro Channing Tatum ('Magic Mike') e sua produtora, a Free Association, estão tentando tirar do papel um remake do clássico de Jerry Zucker, com o próprio ator de 'Anjos da Lei' no papel de Swayze. A produtora detém os direitos do filme de 1990, então traze-lo de volta dos mortos não é coisa muito difícil.

Relembre o trailer de 'Ghost - Do Outro Lado da Vida', filme de 1990 que estrelou Patrick Swayze, Demi Moore, e deu o Oscar para Whoopi Goldberg (além da maior bilheteria daquele surpreendente ano, que contou com 'De Volta para o Futuro III' e 'Esqueceram de Mim' na lista de lançamentos).