Quem é o ator premiado que chamou trabalho de Joaquin Phoenix de horrível e disse que faria melhor

As gerações mais jovens devem conhecer Cox por seu trabalho mais recente, a série 'Succession'. O sucesso de audiência e crítica virou coqueluche da nova geração ao apresentar uma família da alta roda completamente disfuncional, com personagens bastante carismáticos e tramas tão cativantes quanto qualquer novela brasileira do horário nobre - ou de 'O Poderoso Chefão', do qual tem diversas referências.

Aos poucos, o elenco que contou com Jeremy Strong, Kieran Culkin, Sarah Snook, Alan Ruck e Matthew Macfadyen alcançou o mundo todo, se tornando uma das produções mais amadas pela audiência.

Mas esse não foi o começo da trajetória de Brian Cox, muito pelo contrário. O ator nascido em 1946 tem muito mais de memorável em sua carreira de quase seis décadas; no teatro, na TV e no cinema também.

Natural da cidade de Dundee, na Escócia, Brian não teve uma infância fácil. Filho de Mary Ann Guillerline Cox (trabalhadora da indústria têxtil) e do responsável por uma mercearia, Charles McArdle Campbell Cox, ele viu na figura paterna alguém para se inspirar. Charles era um homem gentil, que ajudava os necessitados através de doações e vendas através de crédito. Aos oito anos, ainda muito jovem, o menino viu Charles partir dessa para uma melhor, vítima de câncer pancreático. A situação não ficou das melhores para ele, a mãe e as três irmãs mais velhas.

Com a ausência do pai, que provia a maior parte da renda familiar, os Cox declararam falência e passaram a depender a ajuda de outros lojistas da região. Brian Cox ainda se lembra de ter que pedir por restos de comida em estabelecimentos locais, como mercados, padarias e restaurantes, para levar para casa como jantar. Por conta do estresse sem tamanho, a mãe, Mary Ann, passava a maior parte do tempo incapacitada — lidando com várias crises de pânico ao decorrer do dia; o que deixou a criação do pequeno nas mãos das irmãs.

Perto dos 15 anos, Brian Cox decidiu abandonar a escola e perseguir a carreira de ator, no Dundee Repertory Theatre, onde se apresentava ocasionalmente e, às vezes, dormia. Ao completar 17 anos, conseguiu uma bolsa integral para a prestigiada Academia de Música e Artes Dramáticas de Londres, onde se formou em 1965. A estreia no teatro profissional veio dois anos depois, entretanto, na encenação de um dos maiores clássicos de William Shakespeare, 'Do Jeito Que Você Gosta'. Na produção, Cox deu vida a Orlando, um dos protagonistas da peça.

Dali, seguiu para interpretar outros papéis relevantes, para além do palco: deu vida a sua versão do revolucionário bolchevique, líder do exército vermelho pós-Revolução Russa, Leon Trótski em 'Nicholas e Alexandra', filme de 1971 sobre a última geração de czar e czarina da Rússia antes da derrubada do poder (que culminou na execução de toda a família Romanov em 1918).

Mais tarde, seguiu para personagens menores na TV e no cinema durante a década de 1980, incluindo o padre Jan Góra na cinebiografia do Papa João Paulo II, desenvolvida exclusivamente para a TV.

Seu grande destaque da carreira, e que infelizmente poucos se lembram, é sua interpretação de um dos maiores personagens da cultura pop — que havia sido trazido para o cinema pela primeira vez. Diferentemente do que a maioria pensa, o primeiro intérprete do psiquiatra canibal Hannibal Lecter não foi do icônico Anthony Hopkins em 'O Silêncio dos Inocentes'. Foi, de Brian Cox a primeira encarnação do sofisticado psicopata no filme de Michael Mann, 'Caçador de Assassinos', lançado em 1986.

O filme é uma adaptação direta do romance de Thomas Harris, 'Dragão Vermelho'. O enredo, que é o mesmo da terceira temporada da série da NBC, 'Hannibal', tem William Petersen (o Grissom, de 'CSI') como o detetive especial Will Graham, muitos anos antes que Hugh Dancy pudesse dar vida ao personagem.

O foco de Brian Cox, entretanto, não mudou após sua participação no filme de Mann. Seguiu com olhos apenas para o teatro, focando agora principalmente na Broadway, onde fez sua primeira apresentação na peça experimental de Eugene O'Neill, 'Strange Interlude'.

Em 1988 foi condecorado com um prêmio Laurence Olivier na Inglaterra, o equivalente ao Tony Awards nos Estados Unidos, isto é, que homenageia as performances mais elogiadas do teatro britânico, por sua performance em outro clássico shakespeariano, 'Tito Andrônico'.

Continuou no teatro até fazer uma de suas principais aparições no cinema, no sucesso de Mel Gibson, 'Coração Valente', vencedor do Oscar de Melhor Filme. No filme, Cox dá vida ao tio do protagonista, Argyle Wallace. Apesar de ser um de seus principais feitos na carreira, Cox nunca deixou de lado o tom crítico que sempre abordou tudo.

Recentemente reclamou bastante das imprecisões históricas de 'Coração Valente', enquanto tentava argumentar que Ridley Scott havia feito também um péssimo trabalho de reconstrução histórica em 'Napoleão'.

Os anos 1990 continuaram tranquilos para Brian Cox no cinema. Interpretou alguns personagens aqui e ali, incluindo o badalado 'Três é Demais', um dos primeiros filmes de Wes Anderson; mas nada que se equiparasse ao seu feito no filme de Gibson. O próximo hit veio, entretanto, na televisão. Recebeu um Emmy por sua performance do chefe da Força Aérea nazista, Hermann Göring, em 'Nuremberg'; minissérie que abordou os julgamentos dos criminosos da guerra que aconteceu entre 1939 e 1945.

Os anos 2000 foram um pouco mais agitados cinematograficamente: trabalhou na comédia pastelão 'Super Tiras' em 2001, depois em dois filmes da franquia de espionagem 'Bourne', protagonizada por Matt Damon. Arriscou-se no terror, em uma época em que adaptações de clássicos japoneses estavam em alta, ao participar do remake nortea-americano 'O Chamado', em 2004.

Foi o vilão William Stryker em 'X-Men 2' e ainda participou de 'Ponto Final - Match Point', thriller à lá Hitchcock de Woody Allen.

Fez algumas outras participações, até fazer parte com mais brilho do elenco do revival de um clássico da ficção científica. O 'Planeta dos Macacos: A Origem', que funciona como uma prequel dos acontecimentos do filme de 1968. No filme que estrelou James Franco e Andy Serkis como o primata César, Brian Cox é John Landon.

As portas escancaradas de Hollywood se confirmaram efetivamente em 2018, quando foi escalado como Logan Roy, em 'Succession'. O patriarca da família controladora de um império de mídia - que muitos dizem ser inspirada em Rupert Murdoch e sua prole - é um dos personagens mais discutidos da série inteira, e motivo de amor e ódio entre os fãs mais assíduos da produção.

Em 2020, Brian Cox recebeu seu primeiro Globo de Ouro pela performance inegavelmente icônica. Em 2022, foi vencedor do SAG Awards, prestigiado prêmio do Sindicato de Atores de Hollywood.

Com o sucesso de 'Succession', Cox viu aparecer cada vez mais oportunidades de falar em voz alta tudo que pensava. Diferentemente de seus colegas, ele não tem medo de esconder as próprias opiniões. Chamado de rude por alguns e de sincero por outros, Brian Cox é protagonista de inúmeras polêmicas.

Durante as filmanges de 'Succession' admitiu ter 'problemas' com o método de atuação de Jeremy Strong, o intérprete de Kendall Roy, seu filho na série. Ao que o astro contou em entrevista, o colega continuava no personagem mesmo após as gravações terem sido finalizadas/pausadas. Para Cox, um ator deve saber separar o que é seu papel e quem é ele mesmo, e ficava bastante irritado com o comportamento do companheiro de trabalho - o que talvez possa ter dado mais combustível para algumas das várias cenas raivosas entre Logan e Kendall no programa.

Também, durante a mesma época, escorraçou Donald Trump (e de quebra, ainda o atual Presidente Joe Biden) em um discurso. "É bem difícil governar os Estados Unidos e você não precisa de idiotas como o Trump para fazer isso. E eu acho que o Biden é um cara legal, mas ele é velho demais", disse, à época das eleições.

No caso de Joaquin Phoenix, pelo menos, ele reconheceu que achava o nome do colega de trabalho "atrativo" - já é alguma coisa.

Pelo sim ou pelo não, Brian Cox é um ícone do teatro, da TV e do cinema e sua opinião é ouvida. O ator interpretou importantes personagens da história mundial e da literatura. Pode até não ser um dos mais amáveis e gentis profissionais da indústria, mas é inegavelmente talentoso.

Relembre abaixo Brian Cox no papel de Logan Roy em 'Succession', além de sua vitória no SAG Awards de 2022.

*Com edição de Luís Alberto Nogueira