• Nathalie Provoste
  • Revista MONET #234
Atualizado em
Samantha Morton como a rainha Catarina de Médici na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Samantha Morton como a rainha Catarina de Médici na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

A pessoa maquiavélica que manipulou seu próprio filho e outros à sua volta para se manter no poder; a mente maligna que orquestrou um massacre para se livrar de seus inimigos; a figura sombria que mexia com necromancia e venenos. Essa bem que poderia ser a descrição de um vilão de Game of Thrones, de um mafioso do cinema ou da bruxa de um conto de fadas medieval. Mas, na verdade, essas afirmações são ideias comuns sobre Catarina de Médici, a nobre italiana que se tornou rainha consorte da França em 1547, aos 28 anos, e que desempenhou um papel sociopolítico crucial na Europa da Idade Moderna. Com fama e infâmia caminhando juntas em sua história, a monarca ganhou apelidos como “larva do túmulo da Itália” e “Rainha Serpente” – sendo que este segundo é o que batiza a nova série inspirada na vida dela, The Serpent Queen, lançamento da StarzPlay neste mês.

A produção estrelada por Samantha Morton (Minority Report: A Nova Lei; Terra de Sonhos) narra a vida de Catarina desde seu nascimento. Órfã dos dois pais, a italiana passou parte da infância num convento em Florença; até que seu tio, o papa Clemente VII, a levou para Roma e negociou um casamento dela com Henrique II, filho do rei francês Francisco I. A chamada “Duchessina” tinha apenas 14 anos quando ficou noiva e foi incluída na perigosa corte francesa, que tinha Diane de Poitiers, a amante de Henrique II, como uma de suas integrantes mais astutas. Nesse ambiente hostil, quem sobrevive é quem melhor se adapta.

Liv Hill como a jovem rainha Catarina de Médici na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Liv Hill como a jovem rainha Catarina de Médici na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Liv Hill como a jovem rainha Catarina de Médici na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Liv Hill como a jovem rainha Catarina de Médici na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

The Serpent Queen tem como principal fonte histórica a biografia de Catarina escrita pela sueca Leonie Frieda. Porém, a série passa longe do tom acadêmico. Enquanto narra a sua história, a rainha da França faz comentários irônicos – com direito até a quebrar a “quarta parede” em alguns momentos para reconhecer os absurdos que enfrenta, como o exame de sua virgindade antes do casamento. Mas esse tom do roteiro não pretende subestimar as dificuldades que uma jovem nobre poderia encarar na Era Moderna, explica o criador e showrunner Justin Haythe à MONET: “Você ainda tem que acreditar que aquilo que preocupa os personagens é realmente importante e tem consequências de vida ou morte”.

Para ele, Catarina era “moderna”, “pragmática” e “uma sobrevivente”. “Ela é uma espécie de anti-heroína clássica. Como Michael Corleone ou Tony Soprano”, compara. “Era realmente por isso que eu queria fazer esta série.” A complexidade da Rainha Serpente também encantou Samantha Morton, que, por ser britânica, não conhecia tão bem a história da rainha francesa. “Fiz uma pesquisa e a achei absolutamente fascinante, inteligente, intrigante, vulnerável, amorosa e extraordinariamente bizarra; sabe, vendo algumas das coisas que realmente aconteceram, você fica tipo: ‘Uau, que personagem’”, conta.

Ludivine Sagnier como Diane de Poitiers na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Ludivine Sagnier como Diane de Poitiers na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Charles Dance como o Papa Clemente VII na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Charles Dance como o Papa Clemente VII na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

A atriz duas vezes indicada ao Oscar teve um desafio inusitado nesse papel: suportar o calor do sul da França sob as perucas e os vestidos pesados do figurino. “Uma vez tivemos um incêndio florestal perto [da locação]... sabe, pela poluição e por causa do aquecimento global, na verdade”, ela diz. “Estávamos em Marselha, que é linda e incrível. Eu a amei. Mas os incêndios foram muito assustadores.” Já Haythe estava preocupado quanto a gravar no meio da pandemia de Covid-19 – porém, felizmente, além de não terem ocorrido surtos da doença na equipe da série, a crise sanitária acabou por fechar os castelos do Vale do Loire para o público e deixá-los totalmente à disposição de The Serpent Queen e da visão artística do showrunner: “Eu não queria filmar os castelos de uma maneira que você os olhasse de fora e os admirasse. Queria filmá-los como os lugares em que [Catarina e sua corte] viveram”.

Ao estudar sobre a corte francesa do século 16, Haythe sentiu falta de saber mais sobre aqueles que trabalharam para a aristocracia, mas não tiveram seus nomes marcados nos livros de História. Por isso, ele quis imaginar alguns dos servos de Catarina e dar mais espaço a eles na série; assim como também encontrou liberdade artística para inventar “as motivações, a forma de falar e as preocupações privadas” da rainha, outros pontos que escapam dos registros acadêmicos. “Todo mundo tem sua própria interpretação da Catarina”, reflete Morton. “Leonie Frida tem a sua. Justin tem a dele quando escreve a série. E, quando eu entro no papel, tenho minhas próprias interpretações.”

Sennia Nanua como Rahima na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Sennia Nanua como Rahima na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Antonia Clarke como a Maria da Escócia na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Antonia Clarke (centro) como a Maria da Escócia na série The Serpent Queen (Foto: Divulgação / StarzPlay)

O ponto de vista da atriz sobre a monarca, inclusive, é mais complexo do que a má reputação que Catarina ganhou nos últimos séculos. “Eu achava que ela era retratada como um tipo de vilã; como se fizesse qualquer coisa pelo poder. E na verdade, quanto mais eu lia sobre isso, mais percebia que ela pensava nas questões a longo prazo. Infelizmente, há decisões que ela teve que tomar para beneficiar a França mesmo indo contra ao que ela tinha no coração. Isso me surpreendeu”, avalia. Essa impressão da atriz pode ser a mesma do público de The Serpent Queen – até porque a Catarina que Haythe desenvolveu para a série está constantemente fazendo sua própria defesa. “Sempre quis fazer um vilão que se virasse para um público moderno, explicasse as coisas que fez e meio que dissesse: ‘Olha, se você tivesse nascido no século 16 como uma mulher órfã, poderia ter feito a mesma coisa’”, admite o showrunner. O famoso “quem somos nós para julgar", não é mesmo?

The Serpent Queen estreia na StarzPlay em 11 de setembro. Confira o trailer abaixo: