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John Travolta e Samuel L. Jackson em cena de 'Pulp Fiction' (Foto: Divulgação)

John Travolta e Samuel L. Jackson em cena de 'Pulp Fiction' (Foto: Divulgação)

Parece que foi ontem, mas em 2014 vai fazer 20 anos que ‘Pulp Fiction – Tempo de Violência’ explodiu nos cinemas. O verbo é este mesmo, o filme caiu como uma bomba na cena e reduziu a pó a caretice vigente à época. A compilação de histórias do submundo de Los Angeles parecia cool e era de fato, uma das raras oportunidades desde então na indústria em que a embalagem fazia jus ao conteúdo.

Lembro da sensação que tive quando os letreiros surgiram ao som da guitarra rasgada de “Misirlou”, de Dick Dale and the Del Tones. Foi uma porrada nos sentidos e ali eu já estava completamente entregue à hipnose patrocinada por Quentin Tarantino em pouco mais de 2 horas. Com todo esse tempo que já passou, isso se amplificou ainda mais. E mais: só agora temos exata noção do tamanho daquela revolução.

Interessante observar como o longa-metragem quebrou uma série de paradigmas, mostrando que não existe nada impossível, em especial na indústria cultural. Por mais que ‘Cães de Aluguel’ já contasse com a linguagem e fórmula tarantinesca, ainda se apresentava em estado bruto, e o mais importante – não mudou o jogo. Era o típico filme indie confinado no seu nicho, uma gema para poucos felizardos atentos aos festivais e mostras e ligados em reportagens de jornais e revistas.

Por contar com um elenco de celebridades, incluindo Bruce Willis e Uma Thurman, ‘Pulp Fiction’ naturalmente chamou mais a atenção, mas foi seu conteúdo que prova que não é bem a audiência que pede enlatados. Quando lhe colocam pela frente um T-bone, ela também se refestela.

Christopher Walken no flashback mais surpreendente do filme de Tarantino (Foto: Divulgação)

Christopher Walken no flashback mais surpreendente do filme de Tarantino (Foto: Divulgação)

O roteiro esperto possui a irreverência dos diálogos que nunca tínhamos visto em produções do gênero, afinal, bandido também é gente e fala bobagem e joga conversa fora sobre filmes, música e televisão como qualquer um de nós. Parece fácil hoje, mas naquela época não era uma associação automática, depois como sabemos virou moda e cópia mesmo de mimeografo (como ‘Coisas para Se Fazer em Denver Quando Você Está Morto’ ou ‘Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes’).  O que não deixa ser irônico: um mosaico de referências – Tarantino bebia (e ainda o faz) do cinema de Hong Kong a Scorsese – era replicado sem dó nem vergonha. Mas o pop não poupa ninguém, como já bem disse Humberto Gessinger.

A construção das histórias que se interligavam fazia tudo em ‘Pulp Fiction’ ter sentido, cenário ideal para uma fauna espetacular de personagens que vão de um ressuscitado John Travolta como o matador de aluguel Vince Vega ao traficante de meia-pataca e que recebe os clientes de roupão vivido por Eric Stoltz. A cereja do bolo é a trilha sonora, amarrada por clássicos e pequenas relíquias marginais.  Mesmo o próprio Tarantino jamais conseguiu atingir tal excelência de forma, conceito e resultado. O mais perto que chegou disso foi em ‘Bastardos Inglórios’, mas ainda assim a léguas de distância.

De qualquer forma, o exemplo de ‘Pulp Fiction’ permanece vivo. “Se você construir, eles virão”, como vaticinava ‘Campo dos Sonhos’, um daqueles filmes caretas que davam o tom da época que Tarantino ajudou a demolir. Tudo o que nos resta é torcer para acontecer de novo.

Assinatura Luís (Foto: Monet)