• Redação Marie Claire
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Protesto em São Paulo pelo fim da cultura do estupro (Foto: Daniela Carasco)

Protesto em São Paulo pelo fim da cultura do estupro (Foto: Daniela Carasco)

A expressão cultura do estupro viralizou nos últimos dias, a reboque da imensa repercussão de mais um caso de estupro coletivo. Um ano depois da violência sofrida por uma menina de 16 anos, no Rio de Janeiro, outra adolescente, desta vez de 12 anos, foi abusada por um grupo de garotos também na capital carioca.

Cultura do estupro, segundo a ONU Mulheres, é "o termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro".

Argumentos sobre a conduta, comportamento, forma de se vestir da mulher que foi violentada tiram o foco do fato de que há um agressor, que agiu contra a vontade dela, que se aproveitou de uma situação de fragilidade, que fez com ela atos não consentidos.

Depoimentos sobre violência sexual publicados por Marie Claire no site e nas redes sociais mostram que muitas pessoas ainda acreditam que a culpa é da vítima. "Antes de cobrar moral de um homem, a mulher precisa ter moral!", escreveu uma leitora.

A moral da mulher não tem nenhuma relação com o comportamento agressivo e abusivo de um homem.

"Ela bebeu até cair e depois reclama", comentou outro leitor. Se um homem está bêbado, é espancado e tem sua carteira roubada, por exemplo, ele é culpado pelo crime? Abusar de uma mulher desacordada, não importa a razão, além de ser uma covardia, é crime.

A cultura do estupro é justamente a aceitação e a proliferação do comportamento machista, sexista e misógino. Os homens não precisam responder por seus atos violentos (sexuais ou não) e cabe apenas a mulher o bom comportamento (o "se dar ao respeito") como forma de proteção.

"Nenhum argumento deve, em nenhuma instância, normalizar ou justificar atos bárbaros e criminosos como o estupro. Por tudo isso que é tão importante que todas as pessoas, homens e mulheres, entrem para esse movimento pelo fim da cultura do estupro", escreve a ONU Mulheres.

São 500 mil casos de estupro no Brasil por ano, segundo estimativa  do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão vinculado ao Governo Federal. Apenas 50 mil são denunciados, desses 70% das vítimas são crianças e adolescentes; 24% dos agressores são pais ou padrastos; 32%, amigos ou conhecidos.

Por que os outros 450 mil casos não são denunciados?

Marie Claire acredita que falar sobre o problema é melhor forma de combatê-lo e por isso, decidimos publicar um relato de violência sexual por dia, durante 33 dias. Se a matemática da covardia era de 33 homens contra 1 mulher, a da coragem será de 33 mulheres contra toda a cultura do estupro.