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Andréia Sadi: onipresente, ela atual diariamente no

Andréia Sadi: onipresente, ela atual diariamente no "Jornal Hoje", Globonews, "Jornal Nacional", G1 e rádio CBN (Foto: João Cotta)

“O QUEIROZ PULOU O MURO?”, perguntou Andréia Sadi a Frederick Wassef, ex-advogado do senador Flávio Bolsonaro, em entrevista ao Jornal Nacional, no final de junho. Minutos depois, a frase viralizou no Twitter, assim como o nome da própria jornalista, colecionadora de furos políticos neste período de pandemia. Um pouco pelo ineditismo do jornalismo “fora do roteiro”, em especial no horário nobre; um pouco por refletir o sentimento de indignação de brasileiros incrédulos com a negação do óbvio: o fato de que, há um ano, o advogado escondia o ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, peça central no esquema das rachadinhas, em sua casa em Atibaia. O negacionismo de alguns membros do atual governo – da gripezinha ao terraplanismo – fez com que a entrevista se tornasse um meme involuntário, em meio a uma crise de saúde de proporções devastadoras.
 

Aos 33 anos recém-completados, Andréia se diz uma “repórter na essência”. “Repórter infor- ma. Não sou analista, não me posiciono. Estou cobrindo o governo Bolsonaro hoje, mas amanhã vou cobrir outro”, diz. Furos, no entanto, não lhe faltam: o episódio Wassef foi apenas o último (até o fechamento desta edição, que fique claro) de uma carreira que começou há 12 anos. No momento em que as programações de TV, rádio e sites diminuíram drasticamente o entretenimento e focaram no jornalismo, a sensação é a de que Andréia está em todo lugar: diariamente no Jornal Hoje e na GloboNews, repórter no Jornal Nacional, colunista no G1, na CBN e no podcast Papo de Política, que deve ganhar versão para TV ainda este ano.
 

"Repórter informa. Não sou analista, não me posiciono. Estou cobrindo o governo Bolsonaro hoje, mas amanhã vou cobrir outro""

Andréia Sadi

Nascida em São Paulo, em uma família de ascendência árabe – iraquiana por parte de mãe, li- banesa por parte de pai –, sempre quis trabalhar na área de humanas. “Lá em casa todos são médicos ou advogados. Só que eu era muito perguntadora, como dizia meu avô. Na minha família, que é supertradicional, jornalismo era quase uma ousadia”, conta. “Sou uma excelente ouvinte. As pessoas acham que repórter gosta de falar, mas na real tem que saber escutar.” Em 2005, ano em que estourou o mensalão, entrou na PUC-SP. Logo arranjou o primeiro emprego, um estágio na assessoria da subsecretaria da Capela do Socorro, pelo qual ganhava R$ 300. Na hora do almoço, ligava na TV Câmara e acompanhava as sessões do Congresso. “Aí decidi: quero fazer isso, estar em Brasília. Já em 2005, sabia que trabalharia na cobertura política.” Pouco depois, passou em um processo seletivo no Portal Estadão. Insistia com a chefia que queria ir para Brasília, mas não estava formada ainda. Em 2010, durante o período pré-eleitoral da candidata Dilma Roussef, soube de uma vaga no iG para a cobertura – ela deveria ser a “repórter carrapato”, termo usado para designar quem fica colada à presidenciável durante a campanha.

Nesse momento, deu seu primeiro furo, que repercutiu no país todo. Andréia foi até Garanhuns (PE), cidade natal de Lula, para um comício de Dilma (ele foi junto). “Cheguei uns dias antes para entrevistar os moradores, e todos me diziam: ‘A mulher do Lula vem aí’. Eles não sabiam o nome dela”, conta. “Dilma era uma candidata nova. Apesar de ser do PT e ter Lula como padrinho, não a conheciam. Qualquer fonte que eu fizesse naquela campanha também seria nova. Viajar com ela nessa função de carrapato me deu a base para cobrir o governo depois.”
 

"Na cobertura política, qualquer informação pode mexer com os rumos do país. Já penso mil vezes antes de falar, no trabalho são 15 vezes mais""

Andréia Sadi

Nesse meio-tempo, Andréia casou, descasou, casou novamente (com o também jornalista André Rizek, do SporTV, com quem mora no Rio) e, quando conseguiu sair de férias e de lua de mel, precisou voltar. Era o início da pandemia, ela estava no México com o marido, e decidiu mudar os planos. Foi logo depois do Carnaval, não havia isolamento social em nenhum lugar do mundo fora a Ásia. “Quando ouvi o presidente mexicano dizer que: ‘Aqui não passa nada’, pensei: ‘Vai dar ruim. Vamos voltar agora.’” Com fontes em todos os espectros da política, Andréia integrou o time da Folha de S. Paulo e do G1 até chegar à GloboNews, há cinco anos. “A Eugênia (Moreyra), diretora, e o Pedro Godoi, chefe da sucursal em Brasília, foram malucos. Jogaram o microfone na minha mão e entrei ao vivo no mesmo dia. Quase tive um treco, suei horrores”, diz. É essa insegurança, e não o controle da situação, que pauta sua apuração. “Perco o furo, mas não dou ‘barriga’. Na cobertura política, qualquer informação pode mexer com os rumos do país. Já penso mil vezes antes de falar, no trabalho são 15 vezes mais.”

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