• Marina Galeano, em colaboração para Marie Claire
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O apelido veio lá atrás, quando ela tinha apenas 12 anos. Durante um amistoso, um torcedor da arquibancada viu a menina miúda correndo o campo inteiro, trabalhando duro para ajudar as companheiras do time. Não teve dúvida. Aquela era a Formiga.

Formiga (Foto: CBF)

Formiga (Foto: CBF)

A labuta, na verdade, começou muito antes dali. Uma batalha diária para conseguir driblar a resistência dos irmãos, contrários à ideia de que a única garota da casa jogasse bola entre os marmanjos. Ela apanhava, engolia o choro e no dia seguinte estava lá de novo. Até, finalmente, conquistar sua liberdade nos campinhos pela insistência e com o apoio incondicional da mãe, dona Celeste.

Ao longo da extensa trajetória nos gramados, a baiana Miraildes Maciel Mota fez jus à alcunha recebida no início da adolescência. Trabalhadora incansável, ela se tornou um ícone, uma lenda do futebol feminino e acumula números impressionantes na carreira.

Aos 41 anos, despediu-se da Copa do Mundo após participar de sete edições do torneio --um recorde entre homens e mulheres. Mas, por ora, ela não pensa em pendurar as chuteiras. Sua missão nos gramados não acabou. “O que me move é a necessidade de ver o futebol feminino aonde ele merece estar, ver essa nova geração ser respeitada. Não basta só jogar por amor. O valor pelo atleta precisa existir.”

A volante da seleção defende também a importância de as jogadoras receberem os mesmos direitos concedidos nos times masculinos: carteira assinada, plano de saúde, acesso a campos de qualidade nos jogos e nos treinos. “Quando há a oportunidade de uma base boa, é possível, sim, render por muitos anos.”

Formiga tem contrato com o Paris Saint-Germain até 2020 e pretende disputar a Olimpíada de Tóquio no próximo ano. Ou seja, o trabalho continua. Ela ainda tem fôlego para turbinar seu currículo com novos números, novos recordes, novas histórias.

Conheça abaixo algumas das principais marcas obtidas pela jogadora no decorrer de mais de duas décadas de serviços prestados à seleção brasileira.

Formiga (Foto: CBF)

Formiga (Foto: CBF)

7 Copas do Mundo
Formiga é a única atleta, entre homens e mulheres, a participar de sete edições da Copa do Mundo. Dos oito mundiais femininos organizados pela Fifa, ela só não esteve no primeiro, em 1991. Depois, marcou presença em todos: 1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019.

6 Olimpíadas
Desde que o futebol feminino passou a ser incluído no programa dos Jogos Olímpicos, Formiga não ficou de fora de nenhuma edição: Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016. Ao lado do espanhol Manuel Estiarte, do polo aquático, e da russa Evgenya Artamonova, do vôlei, é recordista em participações olímpicas nos esportes coletivos. A volante é também a primeira brasileira a disputar seis Olimpíadas (uma a mais do que a levantadora Fofão).

24 anos de seleção brasileira
Formiga tinha 16 anos quando disputou sua primeira Copa do Mundo, em 1995, ao lado de símbolos do futebol feminino como Sissi, Kátia Cilene, Michael Jackson, Roseli, Pretinha, Leda Maria. “Em um Mundial eu era a caçula e hoje sou a vovó delas. Mas é bacana poder passar a experiência que tive com as meninas antes para as mais novas agora. Aquela troca de bastão”, disse a meio-campista ao site da CBF.

Mais de 160 jogos com a camisa da seleção
Na Olimpíada de 2016, Formiga ultrapassou a marca do lateral Cafu (149 partidas) e se tornou a jogadora de futebol que mais vezes vestiu a camisa verde e amarela. “Nossa! Nunca imaginei isso. Já passou pela minha cabeça em ser a mais velha a fazer gol, com mais participações em Jogos Olímpicos e por aí vai, mas isso, nunca”, disse a volante, na ocasião.

41 anos de idade e sobrando fôlego
Formiga quebrou outro recorde na Copa do Mundo da França: se tornou a mulher mais velha a disputar o torneio, aos 41 anos de idade. Detalhe: não só como titular, mas como uma das principais peças da equipe comandada por Vadão. Foi a pedido do treinador, inclusive, que a volante reconsiderou retornar ao time depois de ter anunciado aposentadoria da seleção no fim da Olimpíada do Rio-2016. Nas palavras do técnico e de suas companheiras, a incansável Formiga “é de outro planeta”.

10,5 km por partida
Essa é a média de quilômetros percorridos por Formiga em um jogo de futebol --uma das atletas da seleção que mais se movimentam em campo. Do total, aproximadamente 1,6 km são corridas de alta intensidade. Ela ainda realiza cerca de 65 sprints (tiros de velocidade, acima dos 20 km/h) por partida, segundo o fisiologista da equipe, Luciano Capelli. O segredo para manter o nível do condicionamento físico aos 41 anos, ela diz, é “dedicação, treinamento e cuidados diários”.

150 atletas não eram nascidas
Quando Formiga disputou sua primeira Copa do Mundo, em 1995, 150 das 552 atletas que estão participando do Mundial da França ainda não haviam nascido. A atacante Geyse, da seleção brasileira, por exemplo, só veio ao mundo em 1998, apenas um ano antes de a veterana encarar sua segunda Copa.

2 medalhas de prata olímpicas
Dona de duas medalhas de prata em Olimpíadas, Formiga não desistiu de subir no lugar mais alto do pódio e afirmou que pretende disputar os Jogos de Tóquio-2020 (o que seria sua sétima participação no evento). Em Atenas-2004 e em Pequim-2008, as brasileiras perderam a final para os Estados Unidos e ficaram com o segundo lugar.

1 vice-campeonato mundial
Das sete Copas do Mundo que Formiga disputou, a melhor colocação do Brasil ocorreu em 2007, na China. Depois de atropelar as arquirrivais americanas por 4 a 0 na semifinal, a seleção foi derrotada por 2 a 0 pela Alemanha na grande decisão.

3 vezes campeã dos Jogos Pan-Americanos
Entre os títulos de sua longeva carreira no futebol, Formiga acumula três medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos: 2003, em Santo Domingo, 2007, no Rio de Janeiro, e 2015, em Toronto.

4 países
Formiga percorreu o mundo no decorrer de sua longa trajetória nos gramados. Além dos clubes do Brasil (entre eles, São Paulo, Portuguesa, Santos e São José), a volante já jogou em times da Suécia, dos Estados Unidos e da França --onde defende atualmente o Paris Saint-Germain.