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Michael Kors, PatBo, Moschino e Proenza Schouler, respectivamente (Foto: Reprodução Instagram e Getty Images)

Michael Kors, PatBo, Moschino e Proenza Schouler, respectivamente (Foto: Reprodução Instagram e Getty Images)

Na temporada anterior da Semana de Moda de Nova York (outono/inverno 2021), havia um certo otimismo e exuberância no ar, materializado por excessos, volumes e brilho. Tais recursos transmitiam bem o clima de animação, considerando a então recente campanha de vacinação nos Estados Unidos. Com o passar dos meses, o contexto ficou mais opaco: a variante Delta, a estagnação da imunização - que levou o presidente Biden a declarar recentemente que a “minoria” que não quer se vacinar impede a superação da covid-19 -, assim como as consequências da retirada estadunidense do Afeganistão, tocam agora a passarela.

PatBo (Foto: Getty Images)

PatBo (Foto: Getty Images)

Ainda existe excitação na nova temporada de verão 2022, mas a euforia com o futuro parece mais aterrada. Inspirada na Paris dos anos 20 (considere aqui o frisson das franjas melindrosas do pós-guerra), em Londres da década de 70 (momento intenso de contestação social, Guerra do Vietnã e movimentos psicodélicos), em Moscou e no Brasil, a estreia da brasileira PatBo nas passarelas físicas de Nova York ilustra bem o conceito de animação comedida. Ainda estão presentes elementos maximalistas que fazem parte do DNA da marca comandada por Patrícia Bonaldi, como os bordados e estampas, que remetem bem ao trabalho artesanal mineiro (terra natal da estilista), assim como o visual de festa mesclado ao beachwear. Porém, ao considerar o cenário e a estratégia de expansão internacional para um mercado que ainda não a conhece tão bem, Patrícia se apoia bem em recursos mais contemporâneos, logo, sóbrios: os bordados são de madeira, diferentes elementos rústicos são incorporados e a assimetria, em alta e com a qual ela trabalha com destreza há um bom tempo, é integrada à alfaiataria, garantindo assim mais descrição. A monocromia (uso de apenas uma cor) também ajuda nisso.

Michael Kors (Foto: Reprodução Instagram)

Michael Kors (Foto: Reprodução Instagram)

Michael Kors (Foto: Getty Images)

Michael Kors (Foto: Reprodução Instagram)

Com música ao vivo (lembra?) da estrela da Broadway Ariana DeBose, a intimista apresentação de Michael Kors, como de praxe, se baseou menos em teatralidade do que em praticidade e no desejo real de consumo. Um dos maiores representantes do conceito clássico de "americanidade", a coleção do estilista foi romântica como jazz: predominantemente preta, branca, cinza e com toques de vermelho, rosa, azul e nudes para diferentes peles, a alfaiataria em crepe dominou a passarela, combinada a saias godês, lápis e vestidos de jersey. Calças capri casadas com blazers, tops e suéteres de cashmere com corações estampados garantem ainda o visual anos 60 com referência a estrelas como Audrey Hepburn. O visual é romanticamente finalizado por bolsas buckets com flores e modernizado por sutiãs à mostra, o que equilibra nostalgia com uma maior liberação do corpo, tão vista nas vitrines e praias do hemisfério norte nos últimos meses.

Moschinio (Foto: Getty Images)

Moschinio (Foto: Getty Images)

Detalhe da bolsa coração da Moschino (Foto: Getty Images)

Detalhe da bolsa coração da Moschino (Foto: Getty Images)

Moschino, que comumente apresenta suas propostas nas passarelas de Milão, migrou para Nova York nesta temporada e parece que deixou em algum lugar do Atlântico os excessos pelos quais o diretor criativo Jeremy Scott é conhecido. Com uma silhueta predominantemente de ampulheta, que também remete aos anos 50/60, as modelos desfilaram vestidos marcados por correntes e com estampa de leões, elefantes, girafas e demais bichos, tailleurs floridos e acinturados com laços, tops rendados e outras peças. O clima era kitsch, dona de casa dos anos 50 com toque lúdico infantil. Contudo, a diferença é que o risco e a ousadia não apareceram tanto nas roupas quanto nos acessórios - com bolsas e óculos de coração e colares de corrente em proporção exagerada - e, principalmente, na beleza: os cabelos trançados das modelos com miçangas coloridas chamaram atenção na passarela, espaço este que comumente ainda apresenta mais propostas para cabelos lisos e peles brancas.

Proenza Schouler (Foto: Getty Images)

Proenza Schouler (Foto: Getty Images)

A Proenza Schouler, marca comandada pelos estilistas Lazaro Hernandez e Jack McCollough, expressou bem o desejo por expansão e viagens, mas que ainda precisam ser feitas com precaução e de máscara - peça que será realidade pelos próximos anos, de acordo com especialistas -. No início do ano, assim que a vacinação começou a atenuar os números da covid-19 no país, a dupla viajou para a ilha de Kauai, no Havaí. Apesar de declarar nos bastidores da apresentação que o arquipélago não foi a principal inspiração da coleção, o clima tropical, contrabalanceado por alfaiataria, deu as caras. Shorts pretos em referência ao mergulho, por exemplo, são sobrepostos por vestidos e blazers da mesma cor e finalizados por colares de flores. O mesmo acontece com looks totalmente brancos. Franjas (assim como na PatBo) dão um tom festivo, associadas a pinceladas de vermelho, laranja, amarelo e de estampas vegetativas amarelas e azuis. Trench-coats e calças, com barras encurtadas, são refrescadas por cortes assimétricos dos tops e conferem um balanço de liberdade comedida.

Proenza Schouler (Foto: Getty Images)

Proenza Schouler (Foto: Getty Images)

Por fim, a uruguaia Gabriela Hearst construiu silhuetas alongadas, como tem aparecido com frequência nesta temporada, com psicodelia e discrição. Cores vibrantes e que aparentam derreter aos olhos são aplicadas apenas nos quadris de vestidos pretos, ou então, de maneira macro em todo o look, mas ainda assim com parcimônia, com cortes retos e secos. É como se fosse um desejo por explosão e festa que ainda não pode ser manifestado por completo - e que, provavelmente, você entende bem. Ponchos e trench-coats são por vezes pareados a vestidos-colunas lisos, sem estampa, em branco, preto e azul. Cores pintam aqui e ali, mas como lembranças de otimismo. Predominantemente, o clima é sereno. As tramas que aparecem em vestidos e jaquetas foram feitas por Naiomi Glasses e TahNibaa Naataanii, que fazem parte da nação Navajo. “Ser capaz de criar lindas peças que são desejáveis e, ao mesmo tempo, empoderar os outros é provavelmente uma das mais satisfatórias experiências pessoais”, declarou a estilista em comunicado à imprensa.