• Carolina Vasone
Atualizado em
Valéria e Adriana posam no ateliê de Flavia Aranha, em São Paulo (Foto: Takeuchiss)

Valéria e Adriana posam no ateliê de Flavia Aranha, em São Paulo (Foto: Takeuchiss)

Pense em algumas das musas mais cool do Instagram: a canadense Grece Ghanem, Maye Musk (mãe do empresário Elon Musk, um dos criadores do PayPal e do SpaceX), a modelo Yazemeenah Rossi... Talvez você não tenha percebido, mas grande parte do je ne sais quoi comum das influencers, que juntas somam quase um milhão de seguidores, vem dos cabelos grisalhos. Para uma sociedade treinada a enxergar na mulher qualquer sinal de maturidade como uma condenação ao ostracismo social, pode parecer difícil, mas deixar os fios brancos, hoje em dia, virou sinônimo de autenticidade. Mulheres na faixa dos 40 (às vezes antes) que abandonaram a tintura, comunidades de grisalhas no Instagram (acesse o @grombre para se inspirar) e o aumento do interesse pelo tema revelam um novo movimento. No Google Trends (ferramenta de aferição de pesquisas do Google) a busca pelo termo “cabelo branco” sextuplicou em dez anos e dobrou nos últimos cinco no Brasil. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, os dados são semelhantes e, assim como por aqui, apontam um outro papel para o grisalho feminino: o de um poderoso símbolo de autoestima e autoconhecimento para a mulher.

Valeria parou de tingir os fios há dois anos (Foto: Takeuchiss)

Valeria parou de tingir os fios há dois anos (Foto: Takeuchiss)

Quando parou de tingir os fios, há cerca de dois anos, Valéria Rossatti se viu diante de um desafio. “Tive que desconstruir essa imagem da grisalha que ou é a vovó, ou é a hippie. Afinal, não sou nem uma, nem outra. Hoje, sinto que estou ocupando um lugar que mostra que é possível ter cabelo branco e ser vaidosa”, diz a empresária que, por conta de seu novo visual, ganhou também uma nova ocupação: fez duas campanhas para marcas de beleza (uma interna para a L’Oréal Profissional e outra para a marca de skincare Sallve) e foi contratada recentemente pela agência de modelos Allure. Sem referência de mulheres jovens grisalhas por perto quando começou o processo de transição – na época, tinha 42 anos – Valéria apelou para o Pinterest, onde fez uma pasta de imagens de inspiração. Hoje, deletou o arquivo. “Descobri que cada uma tem o seu próprio branco.” Para ela, embora o pontapé inicial tenha sido dado por uma questão prática – não aguentava mais ter que retocar a raiz praticamente toda semana –, a mudança significa muito mais do que uma economia de tempo e dinheiro. “Decidi usar o cabelo branco como um diferencial.”
Editora-executiva desta Marie Claire, Adriana Ferreira Silva tem uma relação parecida com sua cacheada cabeleira grisalha. Integrante de uma família de mulheres que desde cedo convivem com a perda de cor dos fios, ela tingia os seus há mais de uma década, quando, há cerca de dois anos, num bate-papo sobre cabelos crespos com Wilson Eliodorio, o hair stylist fez sua cabeça. Especialista em cachos e grande entusiasta dos cabelos naturais, ele a incentivou a abandonar a tintura. Adriana, que havia passado boa parte de sua vida em busca da paz capilar, primeiro ao se dar conta da beleza do formato natural dos fios (na adolescência, prendia o cabelo para que ele secasse mais liso), depois, pesquisando técnicas e produtos que valorizassem seus cachos (somente aos 30 foi pela primeira vez a um cabeleireiro especializado em fios cacheados), teve uma revelação. “Por causa do cabelo branco me descobri linda. As pessoas me param na rua para elogiar. Numa viagem a Nova York, estava sentada no café no Whitney Museum quando uma mulher se aproximou e pediu para tirar uma foto: ‘adorei o estilo do seu cabelo, quero mostrar para uma amiga’”, conta. Desde o início do processo, ela definiu que iria fazer um teste, mas que, se não gostasse, poderia voltar para a tintura. “Hoje, olho fotos minhas de dois anos atrás e não me reconheço. Também não me acho nem um pouco mais nova nessas imagens.”
 
Transição difícil
Os resultados estéticos e emocionais são muito positivos, mas nada é um mar de rosas neste processo. Tanto Adriana quanto Valéria, em diferentes intensidades, sentiram o peso do julgamento próprios e alheios. Adriana lembra que a mãe ficou indignada (recentemente, ela seguiu os passos da filha e parou de pintar o cabelo!); já Valéria, que se divorciou no meio da transição, tinha a certeza de que, considerando o nível de machismo do homem brasileiro, paquera, para ela, nunca mais (foi surpreendida com o aumento do flerte, especialmente de caras mais jovens). Além disso, a transição em si leva, em geral, no mínimo um ano. “É importante esperar o cabelo crescer por um tempo para entender como esse branco virá. Ele pode ser mais acinzentado, mais claro, aparecer só numa parte do cabelo. A partir daí, a gente já vai criando um desenho de cor”, diz Eliodorio.

Há a possibilidade de cortar curtinho, o que acelera o processo, mas geralmente, em salão, o que acontece é que o profissional vai descolorindo aos poucos os fios que estão com tintura para eles irem clareando até se aproximarem do branco. Pode ser usada também uma rinsagem para acertar o tom do fio. Com o tempo, os grisalhos se misturam com o resto do cabelo.

O abandono da tintura fez Adriana se sentir mais bonita e autêntica  (Foto: Takeuchiss)

O abandono da tintura fez Adriana se sentir mais bonita e autêntica (Foto: Takeuchiss)

Tricologista e dona do salão Laces, especializado em tratamentos capilares naturais, Cris Dios lembra que o branco precisa de mais tratamento em relação ao fio colorido (natural). “Quando perde a cor, a medula central do fio se torna mais grossa, por isso ele fica mais duro. Sem a melanina, o fio branco será mais seco do que o seu cabelo era antes, mas a intensidade do ressecamento e a espessura podem variar de pessoa para pessoa”, explica. É por isso que é importante fazer o processo de descoloração (ou decapagem das camadas de tinta) com cuidado, pois trata-se de um fio mais poroso, já que não tem pigmento. Se engana, porém, quem acredita que com a tintura o cabelo ficará mais tratado do que o grisalho. “Se for tingido, o fio precisa de ainda mais cuidados, porque a química da coloração aumentará sua fragilidade.”

Cuidados
Para driblar o ressecamento, a receita é muita hidratação. Também é recomendável apostar em cremes que reponham proteínas e aminoácidos. Preocupação clássica de quem tem cabelo grisalho, o amarelamento dos fios pode ser rebatido com um xampu roxo ou cinza. Cris Dios aconselha, porém, que o uso seja feito com parcimônia, a cada 15 dias, lembrando que esses produtos também contêm pigmentos artificiais e podem saturar o cabelo com química e cor (ou seja: o cabelo perde a saúde e fica roxo!). Eliodorio prefere os condicionadores com pigmento no lugar dos xampus. Para o cabeleireiro Celso Kamura, é indicado de tempos em tempos visitar o salão para acertar o tom do grisalho. “Precisa de um tratamento adequado para mantê-lo bonito como vemos nas revistas e na internet”, acredita.
Em casa, Cris sugere fazer um enxágue final no banho toda semana com uma infusão de chá de alecrim bem concentrado. “Dá brilho e neutraliza o amarelado, se não for muito forte. Também fortalece o couro cabeludo. ‘Berço’ dos fios, seu equilíbrio é essencial para que o cabelo nasça mais saudável.” Foco, portanto, também nos séruns, tônicos e outros fortalecedores para este fim.

Velha? Defina
Livre das visitas frequentes ao cabeleireiro para retocar a raiz, com o tratamento adequado para manter o grisalho bonito e um cabelo que pode servir como atestado de personalidade, o cabelo branco ainda carrega, culturalmente, o tabu da “mulher velha”. “A gente está vivendo um momento de liberdade, de se assumir feliz. Quando a pessoa tem muito branco, é muito escravizante. O cabelo tem que ser algo que traz uma sensação boa. O que dá a aparência de envelhecimento é a falta de estilo”, diz Cris. Num vídeo publicado na conta do Instagram da comunidade @grombre, uma mulher da turma das grisalhas resume: “Precisamos fugir dessa ideia de se agarrar à juventude. Por que insistimos nisso? Conquistei cada linha de expressão, cada fio branco, e não tenho qualquer intenção de escondê-los. Uma mulher mais velha é tão bonita e poderosa quanto uma nova.” Juventude, afinal, tem menos relação com a idade, mas com o que de novo somos capazes de oferecer para nós mesmas e para o mundo. Um cabelo único, feito das nuances da nossa trajetória de vida, pode ser um exemplo inspirador.

Abre beleza (Foto: Takeuchiss)

Abre beleza (Foto: Takeuchiss)

1. Sérum Phyto RE30 (R$ 762,45), Phyto
2. Xampu Phytargent (R$ 144), Phyto
3. Máscara Hibiscos (R$ 119), LCS Hair Care
4. Condicionador Alchemic Silver (R$ 198), Davines
5. Sérum revitalizante Hair Rituel (R$ 960), Sisley
6. Máscara Blond Absolu (R$ 189), Kérastase
7. Xampu Magnesium Silver (R$ 97), L’Oréal Professionnel

Todos os looks: Flavia Aranha / Produção-executiva: Vandeca Zimmermann   Agradecimento: Flavia Aranha (locação e looks das modelos)