• Gabryella Garcia
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Márcia Rocha se tornou a primeira travesti a compor o conselho da OAB (Foto: Acervo Pessoal)

Márcia Rocha se tornou a primeira travesti a compor o conselho da OAB (Foto: Acervo Pessoal)

Na última quinta-feira (25) a Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) foi palco de um momento histórico. A empresária e advogada Márcia Rocha se tornou a primeira travesti a compor o conselho da entidade. Ela, que afirma estar representando toda a categoria humana, faz parte da chapa encabeçada por Patricia Vanzolini, que se tornou a primeira mulher a presidir a OAB-SP.

Em entrevista à Marie Claire, Márcia, que durante muito tempo deixou a carreira jurídica de lado para focar em sua carreira como empresária, destacou também toda a representatividade da diversidade que a chapa traz.

"Fiquei muito feliz com a vitória, temos uma mulher como presidente e também gays, lésbicas, pessoas com deficiência e uma travesti. É muito significativo para diminuir o estigma sobre travestis. ".

"Foi a vitória de uma chapa realmente diversa e que é muito séria, nós vamos fazer um trabalho bastante sério em prol da advocacia."

Márcia Rocha

A travesti, que afirma que se reconhecer dessa forma é também um ato político, já é membro da comissão da Diversidade Sexual da OAB-SP desde 2013 e agora quer uma OAB que realmente reflita e represente a sociedade brasileira.

"Essa diversidade dá visibilidade para a sociedade porque o Brasil é extremamente diverso. Somos um país com mais negros e mais mulheres, mas vemos sempre homens brancos ocupando os espaços de poder. É uma mudança que está ocorrendo e há toda uma discussão sobre machismo, racismo e LGBTfobia."

"A sociedade precisa mudar e essa eleição traz esse símbolo de mudança e inclusão. Vamos tornar a entidade mais representativa com a diversidade humana."

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Representatividade travesti

A nova conselheira da OAB diz ser uma pessoa trans desde a sua infância, apesar de só ter assumido publicamente aos 39 anos, quando já atuava como advogada. Sua carreira dentro do Judiciário começou em um estágio na Defensoria Pública, mas ainda sem uma atuação predominantemente em prol de minorias sociais e direitos humanos.

"Quando fiz estágio advoguei muito para famílias, em processos cíveis e de despejo. Depois, fui para a área imobiliária e vim direcionando mais minhas atividades como empresária, só advoguei para mim, sem terceiros. Mas, quando assumi o cargo na comissão da Diversidade Sexual, comecei trabalhar como foco em direitos humanos e grupos minorizados".

Márcia Rocha se tornou a primeira travesti a compor o conselho da OAB (Foto: Acervo Pessoal)

Márcia Rocha se tornou a primeira travesti a compor o conselho da OAB (Foto: Acervo Pessoal)

Agora, fazendo história como a primeira travesti conselheira da entidade, Márcia já havia sido pioneira dentro da OAB-SP há quatro anos, em 2017. Ela foi a primeira advogada travesti do Brasil a ter seu nome social reconhecido pela OAB e relembra que logo depois, muitas pessoas passaram a buscar esse direito.

"Foi um processo de três anos de luta. Logo depois, em 2018, o Supremo concedeu o direito de fazer a alteração direto no cartório, sem judicialização e mais de 80 pessoas também solicitaram na OAB", conta.

Agora, ocupando um espaço que até pouco tempo era impensável para pessoas trans e travestis, ela destaca como principal plano de sua atuação e uma espécie de projeto para o futuro, a missão de mostrar que pessoas trans podem sim ocupar todos os espaços que historicamente lhe foram negados.

"Represento toda a categoria humana e tenho que fazer um trabalho exemplar para mostrar que pessoas trans são competentes e sérias, honestas e produtivas."

Márcia Rocha

"É um cargo sério em uma entidade séria, então tenho que fazer o melhor possível. Carrego comigo toda a responsabilidade de uma gestão séria, importante e simbólica porque o mundo vai estar de olho. É importante que as pessoas compreendam que uma pessoa trans pode ser competente e trabalhar, então esse será o principal ponto da minha atuação", afirma.

Hoje, assumindo seu papel de importância e representatividade, Márcia Rocha também faz um trabalho de conscientização dentro da própria OAB e em faculdades de direitos, por meio de palestras. Além disso, também ela também é cofundadora da TransEmpregos, que é o maior banco de dados e currículos de pessoas trans em todo o Brasil, e possui parceria com mais de 1.400 empresas.