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Thaeme comemora aniversário (Foto: Reprodução/Instagram)

Thaeme comemora aniversário (Foto: Reprodução/Instagram)

"Tive o privilégio de nascer em uma família estruturada, sempre muito unida. Sou a caçula de três filhas, meus pais estão casados há mais de 40 anos. Isso explica por que, ainda criança, tinha um sonho e uma certeza: teria uma família como a dos meus pais. Eu tinha 21 anos, era 2007. Havia acabado de me formar em farmácia, já tinha passado em alguns processos seletivos nessa área. Namorava havia quatro anos. O roteiro estava pronto. Me casaria e teria filho.

Só que eu amava cantar e era um pouco frustrada por construir a minha vida longe da música, minha grande paixão desde a infância. Até que eu entrei para o programa "Ídolos", reality musical exibido pelo SBT, e ganhei o concurso. Em seguida, terminei meu relacionamento e me mudei de Jaguapitã, cidadezinha onde cresci no interior do Paraná, para São Paulo.lei 

Três anos anos depois, o cantor Sorocaba me chamou para trabalhar e, em 2011, surgiu a dupla Thaeme e Thiago. Eram quatro empresários ao todo. Fernando e Sorocaba, que também formam uma dupla sertaneja, e dois outros chamados Fábio. Um deles era de Presidente Prudente, interior de São Paulo, onde eu nasci. Descobrimos depois que, antes de a minha família se mudar para o Paraná, nossos pais moravam a um quarteirão de distância.

Em 2012, estava muito mal após o fim de um namoro e decidi ir para a estrada com Fernando e Sorocaba. Melhor do que ficar em casa chorando. O Fábio tinha acabado de sair de um relacionamento e nos aproximamos durante as viagens. No princípio, tinha medo de me envolver, ele era meu empresário, e se não desse certo? Resolvi me afastar, estava disposta a focar só no profissional. Mas, quando me vi longe dele, senti uma falta imensa. Percebi que estava gostando mesmo dele. Ficamos pela primeira vez em agosto daquele ano. Noivamos dois anos depois e nos casamos em 2015.

"Mesmo com muita vontade de ser mãe, eu tinha medo de não dar conta. Tinha a minha carreira, afinal. Mas minha irmã mais velha descobriu que tinha baixa reserva de óvulos e a chavinha virou.""

Thaeme

Fiz o exame e soube que tinha o mesmo problema da minha irmã. Entrei em pânico. Eu precisava ter um filho. Nada na minha vida faria sentido se não conseguisse ser mãe. Comecei, então, a me preparar para engravidar e descobri que estava com toxoplasmose. A doença, causada por um protozoário, é perigosa na gestação porque pode causar má-formações do feto e até aborto.

Depois de quase um ano de angústia, engravidei em março de 2018. Lembro exatamente quando o teste de farmácia deu positivo. Fiquei louca. Queria gritar para o mundo que iria ser mãe, mas sabia que tinha que segurar a informação. Fiz os cálculos, tudo estava perfeito: o bebê nasceria em dezembro, exatamente na época em que a gente pega férias, como eu tinha planejado. ‘Controlei a vida’, pensei.

Em maio, com dez semanas, estava me sentindo mil vezes melhor. Contei para a minha mãe que meus enjoos haviam parado havia uma semana. Ela achou estranho e sugeriu que eu falasse sobre isso com meu médico. Nesse mesmo dia, um domingo à noite, saiu na imprensa que eu estava grávida. Não sei como a notícia vazou, mas achei que era melhor falar. No dia seguinte, confirmei a informação. Impossível contar quantas mensagem de parabéns recebi.

"Na terça-feira, enquanto a imprensa inteira anunciava minha gravidez, fui fazer o ultrassom. Cheguei ao laboratório toda feliz. Até o médico, muito simpático e falante, ficar quieto, desconcertado."

Thaeme

Ele pediu que eu me vestisse. Levantei em silêncio e fui para o banheiro colocar a roupa. Escutei o meu marido perguntar se não iríamos ouvir o coração do bebê. Minha ficha caiu. Comecei a chamar o Fábio e minha voz não saía. Quando já estava quase desmaiando, consegui falar seu nome. ‘A gente perdeu o neném.’ Eu chorava desesperada, compulsivamente, naquele banheiro.

Meu bebê parou de se desenvolver com nove semanas e um dia. Eu havia feito sexagem com oito semanas e já sabia que era uma menina, a Yasmin. Fui embora aos prantos, acabada. No outro dia, a parte mais difícil. Não quis esperar o corpo expelir porque precisava investigar para saber o que havia acontecido.

"Lá fui eu para a maternidade. Enquanto grávidas chegavam para ganhar neném, eu chegava para tirar o meu. Ainda sem parar de receber mensagem, todos me dando parabéns pela gravidez."

Thaeme

Em um último ultrassom vi, mais uma vez, a minha filha. Perfeita, já toda formadinha.
Quando deixei a maternidade, decidi contar ao público o que acontecera. Queria que soubessem por mim antes que saísse na mídia. Então, postei no Instagram uma foto nossa com um ursinho, feita dias antes, e contei que minha filha tinha virado um anjo. Ao chegar em casa, comecei a ler os comentários e a ver um sentido no que tinha acontecido. Primeiro pensei: ‘Por que comigo?’. Então: ‘Por que não comigo?’. Aprendi que a gente não controla absolutamente nada. Eu só queria a minha filha comigo, independentemente do mês em que ela fosse nascer.

De repente, vi surgir uma grande rede de apoio. Recebi mais mensagens de carinho do que quando anunciei a gravidez. Foi um acolhimento muito grande de mães de todo o Brasil. Claro que eu estava em luto, era difícil aceitar. Mas decidi usar essa situação para pesquisar a causa da minha perda e ajudar outras mulheres. Comecei a responder mais de mil mensagens diariamente, meu dia era baseado nisso.

Com os exames, descobri que a Yasmin tinha síndrome de Turner, uma alteração cromossômica. Eu já sabia que eu tinha trombofilia, mas até então não tomava anticoagulante. Até hoje não sei se eu perdi a Yas­min por causa da trombofilia ou da alteração cromossômica dela. Mas essas foram as possíveis causas.

Nessa época, conheci outro médico, o doutor Rodrigo Rosa, que me acompanha até hoje. Ele me recomendou esperar pelo menos três meses para engravidar de novo, mas eu queria muito provar para mim mesma que era capaz de gerar uma criança. No mês seguinte, já tentei.

Quando minha menstruação atrasou, fiz um teste de farmácia num banheiro de aeroporto. Deu negativo, eu enfiei o resultado na bolsa e segui minha vida. Cheguei em casa, mudei de bolsa e o teste ficou lá, não sei por que não joguei fora. Semanas depois, minha menstruação veio. Um fluxo maior do que o comum. No ciclo seguinte, tentei novamente. E consegui.

Thaeme, Fábio e Liz (Foto: Reprodução/Instagram)

Thaeme, Fábio e Liz (Foto: Reprodução/Instagram)

No começo da gestação, veio aquele medo de perder o bebê. Não só pela experiência recente, mas porque, um dia qualquer, fui pegar a bolsa que eu não usava havia mais de um mês e achei o tal teste que tinha feito no aeroporto. Abri e estavam lá dois risquinhos. Bem fraquinhos, mas eram dois. Meu Deus do céu, tinha engravidado e perdido sem nem saber. ‘Graças a Deus, já estou grávida de novo’, pensei. ‘Ou seria outro sofrimento?’

Contei a novidade ao meu marido no aniversário dele, em 15 de agosto, três dias após descobrir a gravidez. Estávamos muito felizes, mas ao mesmo tempo bem traumatizados. E decidimos não falar nada para ninguém tão cedo. 

"O medo me acompanhou por muito tempo na gestação. Fazia ultrassom toda semana, às vezes mais de uma vez. Comecei a tomar anticoagulante no início da gravidez, e comprei um aparelho para escutar o coração do bebê. Fazia isso umas 20 vezes por dia. Agradecia a Deus por estar passando mal, porque era sinal de que estava tudo bem."

Thaeme

Quando peguei minha filha no colo pela primeira vez, fiquei tão extasiada que desmaiei. Liz nasceu em 20 de abril de 2017, o dia mais feliz da minha vida.

Três anos depois, havia acabado de gravar um DVD de Thaeme e Thiago e estava pronta para pegar a estrada. Havia me programado para um ano de turnê, e engravidaria de novo em 2021. Então veio a pandemia. E junto dela a dúvida sobre o que fazer. Pensei em aproveitar o tempo parada para engravidar, mas não sabíamos os riscos da covid-19 para gestantes. Eu já estava com 34 anos. Decidi, então, refazer o exame para ver minha reserva de óvulos, e ainda bem! Estava muito mais baixa do que antes. Era melhor tentar logo.

"Engravidei muito rápido, e descobri com três semanas. Nem havia contado ainda para o Fábio quando, com cinco semanas, perdi o bebê. Dessa vez, chorei. Doeu como sempre, mas eu tinha a Liz para me preocupar e pouco tempo para ficar pensando demais. Pela primeira vez, relaxei. Resolvi deixar acontecer."

Thaeme


Dois meses depois consegui engravidar novamente. Os exames deram bons, mas com pouco mais de cinco semanas comecei a sangrar outra vez. A gravidez havia durado um pouquinho mais que a anterior e eu tinha feito todo o meu ritual para contar ao Fábio. Coloquei uma fotinho minha, dele e da Liz e escrevi: ‘Papai, estou chegando’. Estava tomando anticoagulante, fazendo tudo direitinho. Imaginava que daria certo dessa vez. Mas sofri outro aborto. Fiquei mal de novo.

Desistir estava fora dos meus planos e, como já eram quatro perdas, o doutor Rodrigo recomendou a fertilização. Nunca foi meu sonho, mas decidi tentar. Colocamos o embrião no dia 10 de janeiro de 2021. Foi superemocionante acompanhar a implantação pelo vídeo, eu estava supertranquila. De verdade.

Thaeme publica álbum em família para comemorar duas semanas de Ivy (Foto: Reprodução / Instagram)

Thaeme publica álbum em família para comemorar duas semanas de Ivy (Foto: Reprodução / Instagram)

Deu certo de primeira. Mais uma menininha, Ivy. Graças ao acompanhamento médico que pedem gestações desse tipo, logo descobrimos que meus níveis de progesterona estavam baixos demais. Saímos correndo do interior de São Paulo, onde passamos a pandemia, para a capital e, com procedimentos relativamente simples, as taxas aumentaram. Me dói demais saber que posso ter perdido os outros bebês por esse motivo. O baixo nível desse hormônio faz com que o organismo não ‘segure’ um bebê. Mas não tenho dúvida de que a vida da Yasmin teve um propósito.

"Muitas mulheres me contam que não sabiam o que é trombofilia e que as ajudei a descobrir o que acontecia com elas. A Yasmin foi um anjo na minha vida e na vida de muitas famílias. Isso me ajudou muito a superar e ressignificar o que passei."

Thaeme


Todo mundo ficava perguntando se eu não iria tentar um menininho. Eu amaria, mas a verdade é que sempre sonhei com minhas duas menininhas. Meu maior sonho agora é ser uma boa referência para minhas filhas. Hoje sou mãe de duas meninas que estão aqui comigo e de quatro anjos.”