• Roberta Malta
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Teresa veste Vestido Greg Joey, brincos Ímpar Ateliê, pulseira H.Stern  (Foto: Nana Moraes)

Teresa Cristina veste vestido Greg Joey, brincos Ímpar Ateliê, pulseira H.Stern (Foto: Nana Moraes)

Teresa Cristina transformou o momento mais difícil da vida fazendo lives diárias em sua conta do Instagram. Conquistou visibilidade conversando com seus seguidores, cantando e recebendo artistas remotamente na programação que durou 21 meses.

De volta à vida real, aos 54 anos, prepara dois novos shows, apresenta uma websérie e é abordada por desconhecidos com singelos pedidos de abraços.

A seguir, a entrevista completa com Teresa Cristina, capa de Marie Claire outubro.

Menopausa

“Existe um tabu, mas é um tabu que vem desse machismo estrutural mesmo. A impressão que dá é que todo eros do mundo está focado na pouca idade. A mulher tem uma obrigação moral de não mostrar a passagem do tempo. Os papéis principais, as mocinhas das novelas, dos filmes, dos comerciais, todas têm a mesma idade. E isso está muito ligado ao não apego à história das pessoas, você sempre tem que ser mais nova. A mulher não pode ter ruga, não pode ter barriga, não pode engordar, não pode ter cabelo branco. Não pode apresentar sinais que o homem apresenta tranquilamente. Pior, ainda tem uma falácia de que o homem mais velho fica mais charmoso, e a mulher mais velha acaba. Cada vez que eu imaginava como seria a menopausa [que começou na pandemia], a ideia que as pessoas me davam era essa. Só que, assim, a minha vida com relação à menopausa é a mesma, a única diferença é que existe um desconforto corporal causado pela ausência de hormônios. Então, a gente tem que procurar uma orientação médica, uma nutricionista, uma endocrinologista. Estou me cuidando nesse sentido, mas, afora isso, eu não vejo nenhuma outra mudança.”

+ Marie Claire outubro: Angélica na real: sexo, menopausa, política e maternidade

Projetos

“Minha vida está bem atribulada neste momento. Faço uma websérie chamada O Toque Que Transforma, onde encontro várias mulheres e a gente discute sobre diversos assuntos, principalmente saúde mental. Inventei de fazer esse show Cantando Paulinho da Viola, em comemoração aos 80 anos de Paulinho e aos 20 do meu primeiro álbum, A Música de Paulinho da Viola. É muita música para rever, arrumar banda, ensaiar. O Paulinho é muito perfeccionista, tenho que cantar as músicas com as melodias certas. Pegar a obra dele, fazer uma coisa que ele já fez tão bem precisa de cuidado extra. Tenho outro show novo, para o ano que vem,  que homenageia o repertório da Maria Bethânia. Então, estou completamente alucinada, cada hora fazendo uma coisa. Com as lives [diárias, durante 21 meses] que fiz durante a pandemia, sinto que aumentei o meu público. O número de pessoas que passou a conhecer o meu trabalho, gente que não tinha ideia de quem eu sou, cresceu consideravelmente. E aí tenho muitas propostas de tudo. Desde show até uma pessoa falar ‘a minha mãe tem 85 anos, ficou vendo as suas lives, vai fazer aniversário hoje e eu queria muito que você mandasse parabéns para ela em vídeo.’ Isso acontece muito.”

Visibilidade

“Gostei muito de atuar como apresentadora porque adoro conversar, e passei um tempo da minha vida me sentindo muito silenciada, invisibilizada. Se ninguém fala do seu trabalho ou se você não está nos lugares onde a música está acontecendo, às vezes dá a impressão de que você não está evoluindo, não está crescendo. E isso passou muito pela minha cabeça durante vários anos. Então eu acho que uma das principais mudanças que minhas lives trouxeram foi a visibilidade. E isso foi muito importante para mim. Hoje, sou reconhecida na rua, as pessoas me param para pedir um abraço. Esses abraços que tenho dado em gente que não conhecia tem me feito um bem enorme. Nossa, abraço é uma coisa muito divina, um movimento de corpo bonito de se fazer, tem um calor... Tenho ficado muito emocionada com essas demonstrações de carinho.”

Teresa veste Vestido Greg Joey, brincos Ímpar Ateliê, pulseira H.Stern  (Foto: Nana Moraes)

Teresa Cristina veste vestido Greg Joey, brincos Ímpar Ateliê, pulseira H.Stern (Foto: Nana Moraes)

Maternidade

“Tive a Lorena [13 anos] com 41, parto normal, tudo certo. E, nossa, minha vida mudou. Ela é filha de um cara com quem eu fiquei dois meses. E aí, dois meses depois de o namoro terminar, eu estava na Bulgária fazendo show e comecei a ficar meio enjoada, não conseguia comer... Na volta ao Brasil, fui a uma gastrologista e comecei um tratamento para refluxo. Mas o enjoo não passava, não passava, não passava. Até que a doutora pediu um teste de gravidez. Eu ri na cara dela, ainda brinquei: ‘Só se for do Espírito Santo’. Estava solteira, sem transar e achava que não ia mais ser mãe porque, enfim, estava com 40 anos e não tinha engravidado até então. Quando recebi o resultado positivo, falei para para o meu ex: ‘Estou grávida e vou ter esse filho.’ Então ela mora comigo, mas temos guarda compartilhada. Na pandemia, meu medo principal não era nem da morte, mas de não poder pagar minhas contas, não poder sustentar minha casa. Porque esse medo de morrer eu tenho desde que a minha filha nasceu.”

Eleições

“As pessoas continuam brincando com o país. O Bolsonaro foi eleito, o Moa do Katendê foi assassinado pelas costas a facadas, teve aquele cara que estava comemorando o aniversário em família e foi morto... Olha essa raiva, olha esse ódio. É uma coisa muito selvagem, no pior sentido da palavra. Isso não é polarização. Isso não é uma troca de ideias em igualdade. Isso não pode ser o futuro do Brasil. Não pode. A minha esperança é que o eleitor pense no Brasil. Que o eleitor do Ciro, da Simone Tebet entenda que não é o momento de ter o capricho de não votar no Lula para votar em uma pessoa que tem 5% de chance. Esse egoísmo tem que ser cercado por uma onda empática. As pessoas hoje que querem continuar a manter um governo completamente despreparado -- e a gente viu durante a pandemia o que a falta de cuidado com o povo acarreta -- têm que entender o privilégio delas. Se o Bolsonaro não afetou a família, o bolso delas, afetou de muita gente. Afetou a rotina de muita gente. Fico muito triste quando eu vejo uma pessoa esclarecida, que consegue ter uma visão panorâmica do que está acontecendo no Brasil, votando no Bolsonaro de novo. Essa pessoa está querendo dizer o quê? ‘Danem-se vocês, para mim não mudou nada.’ E olha que mudou para todo mundo.”

Teresa Cristina é capa de Marie Claire outubro (Foto: Nana Moraes)

Teresa Cristina é capa de Marie Claire outubro (Foto: Nana Moraes)

Cenário: Calcita Alaranjada Suvinil.