• Redação Marie Claire
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Cena de O Acontecimento (Foto: Reprodução Instagram)

Cena de O Acontecimento (Foto: Reprodução Instagram)

A diretora Audrey Diwan comanda a produção O Acontecimento, filme sobre uma estudante que faz um aborto ilegal nos anos 1960. Segundo afirma em entrevista à BBC, sua própria experiência a levou a dirigir o filme, baseado em um romance publicado em 2000 pela autora Annie Ernaux. Atualmente nos EUA, a histórica decisão sobre o tema, Roe versus Wade, pode ser derrubada pela Suprema Corte e tornar ilegal a prática em 22 estados.

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O filme conta a história de Anne, interpretada por Anamaria Vartolomei. Ela engravida enquanto está faculdade, em 1963 na França, e inicia uma busca para fazer um aborto. Neste país, a prática era ilegal até 1975. "Li o livro logo depois de fazer um aborto", diz Audrey. "Eu queria ler sobre o assunto, e me recomendaram."

"Foi especial para mim encontrar esse livro, porque meu aborto foi feito pelas vias legais. Não sabia o que era realmente um aborto clandestino — a jornada, a violência, a complexidade e a solidão", complementa.

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A diretora, que também é jornalista, coninua: "Fiquei hipnotizada com a história de uma personagem muito corajosa, que foi atrás do que queria. Mas fiquei furiosa com a jornada de um aborto ilegal".

"É um livro especial, mas foi o único de Annie [Ernaux] que passou despercebido pelos jornalistas na época. O aborto é um tema silencioso de alguma forma. Acho que há medo —nós tememos o corpo de uma mulher e seus segredos."

Fazer barulho

Contudo, muitas produções atuais nos Estados Unidos têm se baseado no tema, como Call JanePhyllis Nagy, exibido em Sundance e Berlim neste ano. No país, diferentes leis que permitiam o aborto em vários estados foram restritas. Oklahoma, por exemplo, impôs uma proibição quase total no início do ano. Na semana passada, a Flórida reduzio o prazo para a realização da prática de 24 para 15 semanas. O governador afirmou que "defenderia aqueles que não podem se defender."

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Protestos pró e contra o aborto foram organizados, nesta semana, no país depois que alguns documentos foram vazados, nos quais há uma sugestão de que Suprema Corte pode voltar atrás de uma decisão histórica sobre o assunto: a Roe versus Wade. 

No rascunho do arquivo, publicado pelo site Politico, o juiz conservador Samuel Alito diz que a decisão de 1973 é "flagrantemente errada" e deve ser anulada. Caso a Suprema Corte derrube a medida, o aborto se torna ilegal em 22 estados. A decisão sai em julho.

Impacto positivo

A consultora judicial e de assuntos públicos da organização MSI Reproductive Choices, no Reino Unido, Louise McCudden, explica também à BBC que filmes sobre o aborto podem ter um impacto positivo em mulheres que passam por este processo. "Por outro lado, às vezes a forma como o aborto é retratado pode ter um impacto ruim", diz.

"Temos clientes que ficam surpresas com uma equipe [de aborto legal] solidária e amigável, por exemplo, e que os locais do procedimento sejam bem iluminados e limpos, sem que precise sair pela porta dos fundos", complementa Louise.

"Muitas vezes, o aborto é mostrado como uma cirurgia, mas o mais comum no Reino Unido, por exemplo, é tomar pílulas. E às vezes o aborto é mostrado como o ponto de crise ou conflito em um drama. Na realidade, os clientes geralmente são claros sobre o que querem e não há uma maneira certa ou errada de se sentir depois, mas isso ainda raramente foi retratado."

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A diretora Audrey Diwan diz que O Acontecimento foi "um filme difícil de fazer, uma batalha o tempo todo para convencer a indústria [do cinema] a apoiá-lo". Ela complementa: "Onde quer que eu mostre o filme pelo mundo, encontro muitas mulheres que podem falar sobre suas próprias experiências, às vezes pela primeira vez".