• Jaquelini Cornachioni
  • Do home office
Atualizado em
Pocah no clipe

Pocah no clipe "Passando o Rodo" (Foto: Reprodução / Mateus Aguiar)

“O funk me escolheu”. É dessa forma que Pocah, que iniciou a sua carreira aos 16 anos, define a paixão que sente pela música. A cantora enfrentou um cenário predominantemente dominado por homens e chega até aqui com uma série de hits na carreira, como Mulher do Poder, Toda Sua, Nem On, Nem Off, Não Sou Obrigada e Muito Prazer.

Nesta sexta (3), a funkeira lança Passando o Rodo, ao lado das cantoras, e também amigas Mc Mirella, Tainá Costa e Lara Silva. Em um momento em que as mulheres estão se unindo mais para acabar com a desigualdade da música, Pocah falou sobre a importância dessa união e como usa a sua influência para ajudar outras artistas.

“Só eu sei o quão difícil foi para mim o meu lugar, e conquistar o meu espaço. Eu não tive padrinho, eu não tive madrinha, nada disso. Não tive ninguém por mim, alguém que me apresentasse e falasse: ‘Olha, essa é a nova promessa’ e tudo mais", desabafa em entrevista à Marie Claire.

. "Quando eu ia nos festivais, o line-up era quase sempre 99% composto por homens. Às vezes, eu era a única mulher ali no meio. Então se eu vejo uma mulher com potencial, com vontade de crescer, eu seguro na mão dela e faço o que nunca fizeram por mim. Eu me disponibilizo a ajudar, a divulgar uma música. Se nós dermos as mãos, conseguimos chegar mais longe”, afirma. 

Em dezembro, outra novidade: o retorno de Pocah aos palcos. Para esse momento esperado, a funkeira contou como vem se preparando. “O show está lindo e estou ansiosa, mas é óbvio que temos uma atenção gigantes nos ensaios com os bailarinos, todo mundo da equipe, na verdade."

"A regra é que todos estejam vacinados. Isso é necessário. Eu não aceito e nem tolero negacionista do meu lado."

Pocah

A seguir, leia o bate-papo na íntegra.

Marie Claire: Hoje você está lançando ‘Passando o Rodo’, ao lado de Mc Mirella, Tainá Costa e Lara Silva. E esse encontro é algo muito pedido pelos fãs há tempos. Como vocês decidiram que esse era o momento certo de fazer acontecer?

Pocah: Eu já tenho um feat com cada uma delas, separadamente, e os fãs ficavam me pedindo por novos. Para resolver isso tudo de uma vez, eu pensei: ‘Por que eu não gravo logo com as três juntas?’.

A música ‘Passando o Rodo’ chegou para mim quase pronta, como parte da produção de um EP que estou fazendo, e todas elas toparam, adoraram a música. Então eu acreditei que esse seria o momento ideal.

A canção é muito divertida, dançante, foi feita para balançar mesmo. Quando coloquei a minha voz nela, acabei dando uma nova identidade e fazendo algumas alterações, porque eu sou enxerida (risos). Quis colocar uma parte bem chiclete, foi só uma lapidada.

MC: O que podemos falar que tem de mais Pocah dentro desse funk?

P: Eu sou funkeira raíz né, e sou assumida. Para mim, a música é muito sobre identificação e eu me identifiquei com essa logo de cara. Eu sou muito zoeira e brincalhona, principalmente com as minhas amigas. E eu coloquei muito isso na letra.

"A música é pura gastação, e tem alguns puxões de orelha também, tipo: ‘Amiga, errar é humano, mas voltar com o ex é burrice’."

Pocah

Essa música é como se as pessoas ouvissem uma conversa minha com as minhas amigas, e eu usei como uma forma de descontração. O mundo já está muito pesado, então eu queria trazer algo o mais leve possível.

MC: E como foi cantar e gravar com todas elas juntas? Teve muita brincadeira no set do clipe?

P: Eu vou confessar que sempre fico muito tensa para gravar clipes. Você não tem noção, tem hora que eu acho até que vou explodir de tensão, de preocupação. Eu queria que as coisas dessem certo e, se já é difícil gravar um clipe sozinha, imagina com quatro mulheres.

Um dos meus critérios para o clipe é de que seria externo e começou no dia uma chuva, uma ventania. Todo mundo dando a ideia de mudar, de fazer interno, mas me mantive firme: rezei, fiz até dança. E deu certo, Deus me ouviu e o tempo abriu.

Pocah lança clipe de 'Passando o Rodo' com Mc Mirella, Tainá Costa e Lara Silva (Foto: Reprodução / Mateus Aguiar)

Pocah lança clipe de 'Passando o Rodo' com Mc Mirella, Tainá Costa e Lara Silva (Foto: Reprodução / Mateus Aguiar)


MC: Atualmente, estamos acompanhando um momento dentro da indústria musical em que as mulheres estão se ajudando muito, fazendo feat juntas e se unindo para conquistar o mundo. O que você acha desse movimento?

P: Eu acho incrível. Há 11 anos, quando comecei, só eu sei o quão difícil foi para mim o meu lugar, e conquistar o meu espaço. Eu não tive padrinho, eu não tive madrinha, nada disso. Não tive ninguém por mim, alguém que me apresentasse e falasse ‘olha, essa é a nova promessa’ e tudo mais. Quando eu ia nos festivais, o line era quase sempre 99% composto por homens. Às vezes, eu era a única mulher ali no meio. 

"Eu sempre penso que o funk é gigantesco, então por que não podemos estar no palco principal?"

Pocah

Em especial as mulheres. Porque uma mulher, funkeira, não pode estar no palco principal de um festival? Eu ainda luto diariamente para conquistar o meu espaço. Então se eu vejo uma mulher com potencial, com vontade de crescer, eu seguro na mão dela e faço o que nunca fizeram por mim. Eu me disponibilizo a ajudar, a divulgar uma música. Se nós dermos as mãos, conseguimos chegar mais longe. É uma honra poder abraçar outras mulheres. Não tem que existir disputa, nem competição.


MC: Você conseguiria nos definir o que é ser uma artista, funkeira, dentro do Brasil em 2021?

P: É você entender que as pessoas sempre vão julgar, seja pela roupa, pela forma como você fala, até pelo jeito que você anda. Óbvio que ser mais reservada também é uma escolha e as pessoas são felizes dessa forma.

"Ser mulher no Brasil é difícil, então imagina dar a cara a tapa em um clipe, usar a roupa que você quer e rebolar, ser livre. Isso assusta, sabe? E assusta até mesmo outras mulheres que gostariam de ser livres assim também."

Pocah

A gente enfrenta muito machismo, com homens querendo mandar nas nossas vidas. Então, se você não curte o estilo de uma mulher, não se vista igual. Se não gosta de funk, não escute. Se não acha legal ser lésbica, ou bissexual, não seja, mas cada um precisa cuidar da sua vida, e eu sinto que é isso que está faltando. A outra pessoa não tem que achar nada sobre você, isso na minha cabeça é algo muito bem resolvido, queria que fosse na cabeça dos outros também.

MC: Falando sobre ser uma mulher livre, você lançou, há quatro meses, o clipe de ‘Muito Prazer’, e ele foi censurado. Como você lida com esse tipo de situação?

P: A primeira coisa que eu gostaria de dizer é que: não é com todo mundo que isso acontece. Se fosse, eu pensaria que é uma regra geral da plataforma, mas não. Se você abre o YouTube, vai ver diversos vídeos musicais objetificando a mulher, canções com letras extremamente machistas.

Tem agora os podcasts, que são monetizados, as pessoas estão lucrando, mas dentro de alguns deles tem falas extremamente problemáticas, e eles seguem ali, no ar, sem ninguém fazer nada. Por que na maioria das vezes isso acontece com mulheres dentro do funk? Um homem cantando absurdos, tudo bem, mas não podemos falar sobre sexo ou sexualidade.

MC: Em dezembro, você se prepara para a volta aos palcos. Está ansiosa?

P: A covid-19 não nos dá um minuto de paz, né? Por esse motivo, foi uma escolha minha só voltar em dezembro, porque estava previsto que a população estaria 100% vacinada. Nesse período, eu venho ensaiando bastante sobre como será essa volta. O show está lindo e estou ansiosa, mas é óbvio que temos uma atenção gigantes nos ensaios com os bailarinos, todo mundo da equipe, na verdade. A regra é que todos estejam vacinados. Isso é necessário.

Eu fiz um evento em Fortaleza que só entrava quem tinha feito PCR e estava com o exame negativado e as duas doces da vacina. É o principal, tem que ter segurança, tem que se cuidar. Em primeiro lugar, vem a saúde.

MC: Atualmente, muitas mulheres que atuam começam também a cantar, e vice-versa. Você já pensou em expandir a sua carreira para além da música?

P: Eu amo música, gosto de dançar, cantar. Mas também gosto daquela área de publicidade, fazer comerciais, reproduzir algum texto. Eu já falei algumas vezes que gostaria de aprender a atuar, mas eu não estou com muito tempo. A Carlinha (Carla Diaz) me incentiva demais nisso. Lá no BBB nós já falávamos de fazer algo juntas nessa área. Queria fazer uma vilã, participação em algum filme, série, qualquer coisa. Então não nego que tenho essa vontade dentro do meu coração. O que eu não gosto é de ficar parada. Eu nasci para estar em constante expansão.

MC: Na resposta anterior, você citou a Carla Diaz, e eu gostaria de saber quais são as outras mulheres que você admira e usa como inspiração?

P: Nossa, se eu fosse realmente falar sobre cada uma delas, não teria espaço nessa matéria (risos). Admiro muito a luta da mulher, principalmente dentro desse cenário machista que vivemos. Eu me inspiro muito na Anitta, que está conquistando o mundo, isso me incentiva demais. A Rebecca, a Lexa, todas as meninas que gravando ‘Passando o Rodo’ comigo, a Iza. A própria Carinha e, claro, a minha mãe, que é uma mulher excepcional.

MC: Pocah, neste ano você lançou várias músicas, clipes. Como você analisa a sua carreira nesse momento?

P: Hoje eu posso dizer que consigo ter tudo aquilo que fui privada de fazer no começo da minha carreira. Eu sempre fui uma mulher livre, e hoje sou 100% dona da minha carreira. Claro que tenho gravadora, produtores, e eu os escuto muito, mas, no final das contas, sou eu. Não tenha dúvidas de que eu faço aquilo que o meu coração manda. O artista precisa ter em suas músicas a identidade dele e a essência dele, então essa fase da minha carreira é 100% Pocah, e tenho muito orgulho disso.