• Roberta Malta
  • Do home office
Atualizado em
Marcos Palmeira, o Tadeu na versão original da novela Pantanal (Foto: Divulgação/ Ronaldo Nina)

Marcos Palmeira, o Tadeu na versão original da novela Pantanal (Foto: Divulgação/ Ronaldo Nina)

Desde que a Globo anunciou o remake de Pantanal, novela de Benedito Ruy Barbosa, exibida na extinta Rede Manchete, 30 anos atrás, não se fala de outra coisa. A região, que também ocupa os noticiários com áreas de conservação reduzidas e fauna ameaçada por incêndios, rendeu momentos memoráveis a elenco e equipe. É o que conta o ator Marcos Palmeira, que viveu Tadeu na versão original, seu primeiro (de muitos!) grande personagem na televisão.

O CASTING
“Quando soube que ia ter a novela, fui até a [REDE] Manchete e procurei o Jayme [Monjardim], que era o Boni de lá, mandava em tudo. Só o conhecia de ‘oi’, mas entrei na sala dele e disse que queria fazer [a novela]. Ele falou: ´'Você com esse sotaque carioca não dá'. Aí os atores que ele queria na época eram todos contratados da Globo e acabou sobrando para mim, para o Ângelo Antônio, para o Marcos Winter...”

O PERSONAGEM
"Eu não era um ator conhecido, tinha feito Vale Tudo [de Gilberto Braga] e Desejo na Globo, mas não gtandes papéis. E, como eu passava muito tempo com os peões do Pantanal, o povo de lá mesmo;, qs pessoas tinham a impressão de que eu era um peão de verdade. Elas escreviam cartas para a [Rede] Manchete perguntando como tinham conseguido um peão que conseguia decorar texto.

O ESTERIÓTIPO
“Antes de fazer Pantanal, tinha o rótulo de playboy carioca. Depois, veio [a novela] Renascer e eu virei o galã rural. Em seguida, fiz vários delegados e disseram que eu só fazia isso. Porque todo mundo, de alguma forma, procura um jeito de estigmatizar os atores. Mas isso nunca colou em mim.”

A HOSPEDAGEM
“Era todo mundo meio acampado. Os homens ficaram no mesmo quarto, improvisado com três beliches e quatro camas no lugar onde, originalmente, funcionava o açougue da fazenda. Erámos eu, Ângelo Antônio, Rômulo Arantes, Tarcisinho [Tarcísio Filho], Almir Sater, Marcus Winter... Os que dormiam separado eram o Sérgio Reis, o [Antônio] Petrin e o Cláudio Marzo, os mais velhos do elenco.”

O PERRENGUE
“A gente acordava às 4h da manhã, saía para filmar com o dia amanhecendo e voltava às 4h da tarde. Tinham duas equipes, e a disputa era para ver quem voltava mais cedo para jogar bola. Não tinha nem água quente nem televisão no Pantanal. Aí foi se aproximando a Copa do Mundo e a gente fez uma meia greve para assistir aos jogos. Então, o Benedito escreveu uma cena em que o Zé Leôncio [personagem principal da trama, vivido por Cláudio Marzo] instalava uma antena parabólica na fazenda. A gente conseguiu ver a Copa de 90, e ainda ganhou água quente.”

O SUCESSO
“Ficamos quase cinco meses no Pantanal direto, sem sair. Então, não tínhamos noção do sucesso. Até pegarmos um avião para gravar no Rio. Quando descemos no aeroporto, tinha uma multidão esperando pelo [grupo] Menudo, que estava chegando ao mesmo tempo que a gente. Quando desceu a Juma Marruá [vivida por Cristiana Oliveira] e o Juventino [personagem de Marcos Winter], a multidão largou os caras e veio correndo na nossa direção. Ali que demos conta do sucesso.”

O AUTOR
“Ali tive um grande encontro com o Benedito [Ruy Barbosa]. Percebi, por exemplo, que os peões andavam descalços e consegui escrever uma cena para eles com o Benedito. Peguei o número de todos e a [marca de calçado] Zebu deu uma bota para cada um. Contei que eles não tinham carteira assinada e o Benedito fez uma cena do meu personagem indo embora e cobrando ao pai por ter se dedicado a vida inteira a ele sem carteira assinada. E eu não sou de falar com autor, não ligo para pedir nada, mas eu criei um canal com ele nesse lugar.”

AS FESTINHAS
“Tinha festa todo dia, o Tuiuiú Dancing, no espaço em que ficava o figurino. Começava às 6 da tarde e ia até às 10 da noite. A gente botava as caixas de som, pegava cerveja e dançava até desligarem o gerador. Tocava de tudo: Paralamas, Lulu Santos... E era só a equipe, não tinha um barzinho perto.”

AS SERESTAS
“O Sérgio Reis, que é um passarinho, vive cantando ou assoviando, sempre tocava para a gente. O Almir [Sater], quando nos dava o prazer porque vivia estudando. A gente chegava perto dele, e ficava ali quietinho escutando. E de vez em quando, os dois faziam umas rodas de viola em torno da fogueira.”

OS ANIMAIS
“O Pantanal foi o meu maior choque, meu grande contato com os animais. Já timha vivido em aldeias indígenas, mas nunca tinha visto tanta arara, tanto tucano, tuiuiú, tatu, tamanduá, veado, garça, vários tipos de peixe... E no Pantanal, diferentemente de nas florestas, eles se mostram. Me aproximava de todos. sempre com a orientação dos caras de lá. O Rômulo Arantes nadava no rio cheio de piranha todo dia. O barco ia e ele ia nadando junto, de costas. Era lindo. Eu passava o dia montada num cavalo com os peões da região. Havia uma médica a equipe, mas, com tudo o que podia acontecer, não tivemos nenhum acidente durante as gravações.”

A COBRA
“Estava em cena o tempo todo porque Leôncio se transformava em cobra. Mas er domesticada. O cara dava uma fumaçada e ela ficava tranquila. Passava em cima do Marcos Winter, se relacionava com todos. Mas sempre com um biólogo acompanhando. Chamava Rafaela, vivia em uma caixa e se alimentava dos ratos que leveveam para ele

PANTANAL HOJE
“Para mim, isso é um claro reflexo de um Ministério do Meio Ambiente que não gosta do meio ambiente, de um governo mal-educado que se coloca contra as comunidades indígenas, contra a natureza, contra a ciência, contra a pesquisa. O que estão fazendo com o Pantanal não tem retorno, vamos todos chorar pelo mesmo cadáver.”