• Danielle Torres
  • Especial para Marie Claire
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Danielle Torres: colunista faz série especial de textos no Mês da Visiblidade Trans (Foto: arquivo pessoal)

Danielle Torres: colunista faz série especial de textos no Mês da Visiblidade Trans (Foto: arquivo pessoal)

Estava em um café de uma livraria quando uma jovem que ali trabalhava se aproximou. Visivelmente animada, disse que se sentia feliz por ver uma mulher trans como ela ocupando uma posição de destaque na sociedade. Agradeci a gentileza e afirmei que pessoas trans podem ocupar a posição que desejarem.
Algo que tem me desafiado quando penso nas minhas ações em prol da inclusão é o desenvolvimento das profissionais trans para posições de liderança.

Tenho experiência em mentorar carreiras femininas. Além da minha própria jornada, ao longo dos anos, mentorei mulheres cisgênero que vejo que hoje ocupando posições cada vez mais destacadas nas organizações, cada uma com o seu brilhantismo próprio. Não foram raros, porém, os momentos em que conversamos sobre a superação de aspectos específicos da ascensão da mulher no mercado de trabalho, como a síndrome da impostora.

Quando penso especificamente na carreira da mulher trans o desafio parece-me ainda maior.
Acho importante contextualizar que, não obstante os inúmeros desafios ainda enfrentados, a inclusão da mulher cis no mercado de trabalho de forma expressiva iniciou-se no século passado, enquanto para as mulheres trans estamos descrevendo algo que vem tomando corpo - ainda de maneira incipiente - somente nos últimos cinco ou dez anos.
Ainda dialogo, por exemplo, com pessoas que acreditam que os esforços de inclusão de uma pessoa trans terminam com a sua contratação. Nem preciso dizer o quanto a minha visão é completamente distinta desta.
É fato que ainda precisamos incluir um número expressivo de mulheres trans no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, não deixo de me sensibilizar que é necessário pensarmos em como vamos oferecer uma perspectiva de carreira para aquelas que conquistaram uma posição.
 

"Um dos aspectos mais difíceis é observar o nível de esforço que uma pessoa pertencente a uma minoria social relata empreender somente para ser notada"

Danielle Torres


Chama a minha atenção quando ouço de uma profissional trans em início de carreira que acredita que a posição que ocupa é o mais longe que irá alcançar. Não parece-me que essa percepção de que posições de entrada são o limite é um mero acaso. Imagino que considerem que por serem trans a probabilidade de desenvolvimento de suas carreiras é expressivamente menor.
Eu sei o quanto a transfobia é limitante. É algo que vivo e precisei aprender ao longo de muito tempo formas de diminuir os seus impactos em minha vida. Um dos aspectos mais difíceis é observar o nível de esforço que uma pessoa pertencente a uma minoria social relata empreender somente para ser notada.
Assim, considero a formação para incluirmos pessoas trans na liderança uma pauta prioritária nas minhas ações.