• Carolina Vasone
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Dossi�� do laser: tratamentos para renovar a pele (Foto: Getty Images)

Dossiê do laser: tratamentos para renovar a pele (Foto: Getty Images)

A palavra laser, inevitavelmente, remete à noção de tecnologia de ponta. E não é por acaso. A imagem de feixes de luz com capacidades altamente transformadoras habita o imaginário com referências a tratamentos de última geração, resultados grandiosos e alta performance. É um segmento que se renova a cada temporada e tem apresentado soluções ao bem-estar e à saúde da pele de maneira cada vez mais assertiva. Foi com essa motivação que a reportagem de Marie Claire mergulhou nesse universo de inovação e pesquisa, que atende a fins médicos desde 1960, para entender os benefícios e os avanços das descobertas mais recentes em relação a esse tipo de energia.
 “A luz pode ser considerada um laser quando tem um único comprimento de onda e seus raios seguem convergentes e paralelos. Eles agem de acordo com o conceito de fototermólise seletiva, ou seja: dependendo da extensão da onda (que varia de acordo com o tipo de laser), ela se conecta com um ‘alvo’, promovendo sua modificação física, química ou biológica”, explica a dermatologista Fabíola Rosa Picosse, coordenadora de Cosmiatria e Laser do Departamento de Dermatologia da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo). Esses “alvos” podem ser um pigmento do próprio organismo, como a melanina (presente nas manchas de sol), a tinta de uma tatuagem ou até mesmo a água, que tem a produção de colágeno novo ativada com o aumento de temperatura.


Se há 30 anos o principal laser do mercado para rejuvenescimento da pele era o CO2, que, na versão original, literalmente queima o rosto para renovar e reorganizar as células de colágeno (promovendo mais firmeza, uniformidade de textura e tom da pele até em casos de envelhecimento acentuado), hoje existem diversos tipos com intensidades e objetivos variados, muito menos dor, e o melhor: em alguns casos, sem a necessidade de tempo para recuperação. Existem também tecnologias baseadas em emissão de energia que não se caracterizam como laser, mas são consideradas tão eficazes quanto, que chegam a ser classificadas dentro da mesma categoria quando apresentadas em congressos especializados. A classe, amplificada, foi batizada de lasers and energy based devices (lasers e tecnologias baseadas em energia, em tradução livre), que inclui o festejado ultrassom microfocado, indicado para flacidez facial e corporal. As possibilidades são muitas e o mercado não para de se renovar. Para conhecer as novidades, reunimos um time estrelado de especialistas que apresentam suas impressões sobre os diferentes formatos, aplicações ideais e níveis de eficiência de cada uma delas.

Abre de beleza laser (Foto: Pamella Moreno)

Abre de beleza laser (Foto: Pamella Moreno)

Formas de ação
Os lasers são divididos em duas categorias principais que identificam como cada um age e quais são seus benefícios. “Os lasers ablativos destroem a camada córnea, que é a mais superficial, e também a epiderme, a derme, podendo alcançar até a derme profunda, quase chegando ao subcutâneo, dependendo da intensidade da máquina. Há uma chance grande de hiperpigmentação pós­inflamatória em peles morenas e negras (a partir do tipo 4, onde está a maioria dos brasileiros) e são mais agressivos, provocando edema, crostas e inchaço, com uma recuperação entre uma e duas semanas”, conta a dermatologista Claudia Marçal, de Campinas, membro da AMSL (American Society for Laser Medicine and Surgery). Segundo ela, usam-se cada vez menos no Brasil, mas, em casos de peles claras muito envelhecidas, são eficazes em apenas uma sessão. “Já os não ablativos passam pela primeira camada sem destruir o extrato córneo e a recuperação acontece em 24 horas. A barreira cutânea fica intacta, mas lá dentro o colágeno está sendo todo remodelado”, completa.
Um recurso adicionado tanto aos ablativos quanto aos não ablativos é o de fracionar os pulsos de luz para que atinjam uma área específica da pele e deixem a outra intacta. A dermatologista Katleen Conceição, chefe do setor de Dermatologia para Pele Negra do Grupo Paula Bellotti, do Rio de Janeiro, e membro da Skin of Color Society, explica que isso torna o tratamento menos agressivo e mais direcionado, cuidado fundamental no tratamento de peles escuras. “É importante não agredir a epiderme, onde se concentra a maior quantidade de melanina. Por isso deve-se evitar o CO2, que queima para renovar. Em peles negras, essa queimadura mancha porque o organismo libera melanina de forma descontrolada para se proteger”, esclarece.
Mas a tecnologia que tem criado mais buzz atualmente diz respeito à velocidade com que o calor toca a pele: em tese, quanto mais rápido o contato, mais pontual será a lesão, com menos danos. Nessa gama entram os lasers de nanossegundos ou Q-switched, indicados para remover pigmentos como tatuagens e manchas e também para melhorar a textura da pele (como poros, viço e linhas finas). É o caso do famoso Spectra, um laser de nanossegundos utilizado para remoção de manchas e melasma. Na relação precisão x velocidade, a grande novidade com melhores resultados são os lasers de picossegundos.

Abre de beleza laser (Foto: Pamella Moreno)

Abre de beleza laser (Foto: Pamella Moreno)

Veloz e furioso
Uma trilionésima parte de um segundo. Essa é a velocidade da ação do laser denominado picossegundos. A dermatologista Juliana Mendonça, da clínica JM Dermatologia, de São Paulo, e membro da Associação Americana de Dermatologia, foi uma das primeiras a utilizar esse tipo de aparelho, assim que ele chegou ao Brasil. “Houve um grande avanço em laser entre 2001 e 2010. Depois disso, foram lançadas máquinas com nomes diferentes, mas com as mesmas tecnologias. Aí, em 2018 (aqui já no começo de 2019), surgiu o picossegundos, que representa uma revolução, pois consegue atingir o ponto a ser tratado sem lesionar o que está em volta, evitando inflamações e tornando a recuperação mais rápida”, diz a médica.
O laser de picossegundos foi desenvolvido inicialmente para a remoção de tatuagem, mas tem apresentado resultados muito positivos em manchas de sol (melanoses), senis e melasmas resistentes. Também responde bem para suavizar cicatrizes de acne, estrias, e para promover rejuvenescimento geral, uniformizando tom e textura da pele. No Brasil, Picoway e Picosure são as marcas comerciais de picossegundos mais potentes, além do Discovery Pico Plus, conhecido também como Pico Quanta, que chegou em meados de 2020. Aqui, vale uma ressalva, feita por Fabíola Rosa Picosse: muitas empresas anunciam lasers de nanossegundos como se fossem de picossegundos. As máquinas de picossegundos ainda são muito caras e há poucos médicos no país que compraram as originais.
“O picossegundos, de fato, é o mais novo e é muito bom, mas não o único nem o melhor tratamento para tudo. Cada laser tem sua recomendação”, pondera Claudia Marçal. Ela prefere o Lavieen, laser fracionado tipo Thulium lançado na metade de 2020 no Brasil, que tem a opção de ser nanossegundos e fracionado ablativo ou não ablativo, para tratar questões como poros abertos, cicatriz de acne mais superficial e até melasmas leves, localizados entre a primeira e a segunda camadas da pele. Para estrias, tanto ela quanto Fabíola também preferem os fracionados não ablativos, por acreditarem que penetram com mais eficácia na derme, onde se encontram as fibras de colágeno rompidas.
Entre tantas opções, é importante alinhar a tecnologia por trás da máquina com a sua condição de pele, sempre levando em conta que a calibragem feita pelo médico deve ser específica para o seu caso.

Abre de beleza laser (Foto: Pamella Moreno)

Abre de beleza laser (Foto: Pamella Moreno)

CASO A CASO

Rosácea e microvarizes
“Para os problemas de vasos sanguíneos (como a rosácea), o laser é a primeira opção, porque tem uma boa resposta”, diz Fabíola. Ela cita o Nd:YAG (nanossegundos, da categoria Q-switched), o Dye Laser e a luz pulsada como boas opções. Já Juliana prefere o laser de picossegundos. No caso da rosácea, Fabíola lembra que é uma doença crônica, o que significa que depois de um tempo ela tende a voltar. A sugestão é fazer sessões de manutenção, em quantidade a ser definida pelo dermatologista.

Melanose solar (manchas solares ou manchas senis)
Para o rosto, as mãos ou outras partes do corpo, Katleen e Juliana indicam o laser de picossegundos. “Ele é mais rápido e causa uma microfragmentação, ou seja, o pigmento é dividido em pedaços muito menores, o que facilita a eliminação pelo organismo, com menos efeitos colaterais”, diz Katleen. Fabíola também indica os lasers tipo Q-switched de últimas gerações, como as versões novas de Rubi. 

Cicatrizes de acne
“Para cicatrizes mais superficiais, estilo ‘gelo picado’, os lasers não ablativos, como o Lavieen, dão bons resultados”, diz Claudia. Fabíola usa, dependendo do tipo de acne, tanto lasers não ablativos, como o Lavieen, como o CO2 fracionado. Juliana trata com cinco sessões do laser de picossegundos Picoway.

Estrias
No caso de estrias, Juliana também recomenda cerca de cinco sessões de laser de picossegundos. “Ele estimula a produção de colágeno, para corrigir o dano das fibras”, diz. Lasers não ablativos e ablativos fracionados são outra opção.

Rejuvenescimento facial (rugas, poros, textura, viço da pele) e flacidez facial e corporal
Para casos mais acentuados de linhas e texturas, tanto Fabíola quanto Claudia indicam o CO2 fracionado (uma sessão em geral é suficiente). Para Juliana, o melhor é o picossegundos, com menos dor, sem necessidade de tempo para recuperação, e com indicação de três sessões (o CO2 é uma). “Estamos em 2021, não precisamos passar por aquele sofrimento”, pondera Juliana. No caso da flacidez, a indicação não é exatamente um laser, mas o ultrassom microfocado. Nesse caso, o considerado “padrão ouro”, no jargão dos dermatologistas, é o Ulthera. Para o corpo, Katleen indica o Scizer, um ultrassom macrofocado: “Por meio de um resfriamento inteligente, ele elimina gordura subcutânea sem danificar a epiderme. O Scizer também atua superficialmente na derme, estimulando a produção de fibras de colágeno e diminuindo a flacidez.” 

Melasma
Aqui, valem muitas ressalvas antes da indicação. “No caso de melasma, o laser nunca é minha primeira opção. Tem todo um tratamento clínico antes, desde uso de protetor solar até cremes tópicos, peelings, medicamentos via oral e microagulhamento. Se nada melhorar o melasma, aí você faz o laser”, diz Fabíola. Toda essa preocupação tem um motivo: é que o melasma tende a piorar com o calor, fonte do laser mesmo em suas versões mais suaves. Nesse caso, o laser de picossegundos é o mais indicado, já que, por ser ultrarrápido, traz menos chances de inflamações e irritações indesejadas. “O melasma precisa estar controlado e a pele preparada, com tratamento prévio. Nesses casos, pode-se ter um ótimo resultado”, diz Juliana, que recomenda três sessões de Picoway.