Katleen Conceição, dermatologista (Foto: Divulgação)

Katleen Conceição, dermatologista (Foto: Divulgação)

Viver em quarentena, confinado a um espaço limitado durante um longo período, é uma realidade que estamos aprendendo a incorporar e adaptar. E muitas práticas novas entram na rotina, sobretudo ao que se refere a cuidados pessoais. Por isso, convidamos a dermatologista Katleen Conceição, do Rio de Janeiro, para conversar com nossa editora sênior, Paola Deodoro, em uma live no instagram, sobre os cuidados com a pele durante essa nova realidade. Mas como Katleen é uma pessoa múltipla, o assunto foi além, passando por detalhes de sua especialidade, que é tratar pele negra, até as questões emocionais que envolvem viver uma fase como essa. E sim, é claro, um pouquinho sobre os seus pacientes famosos, como Lázaro Ramos, Ludmilla, Isabel Fillardis, Hugo Gloss - um time de fãs que encontraram nela a referência e a competência que precisavam para tratar suas questões de pele.
A seguir, alguns trechos da conversa:
 

Álcool gel + água e sabão
"As pessoas lavam muito a mão, usam muito álcool, e estào tendo muita dermatite, muito ressecamento na pele. E você não precisa gastar com hidratantes caríssimos. Pode usar um óleo de coco, até mesmo um óleo de cozinha se não tiver problema com cheiro, óleo de amêndoas, e passar nas mãos sempre após ter o contato com o álcool. As unhas também ficam ressecadas, então é importante passar um hidratante localizado ali na unha. Esse auto-cuidado é importante".

Vitamina D
"O vidro não consegue fazer síntese de vitamina D. Então o sol que entra pela janela fechada não ajuda nessa reposição. Se você tiver uma varanda ou uma área no prédio que possa descer de máscara, deve se expor ao sol. Essa exposição pode ser sem protetor solar durante meia hora para pessoas de pele branca e para quem tem pele negra, no máximo por 1 hora e 40 minutos, evitando o horário das 10h as 15h. Pode expor braços, colo, pernas. A vitamina D é importante para evitar depressão, deficiência óssea, alterações metabólicas e até causar a queda de cabelo. Para os obesos é muito importante repor a vitamina, pois a gordura sequestra a vitamina D. Então tentar se alimentar bem, tomar leite, comer atum, sardinha, iogurte, a alimentação ajuda bastante na reposição".

Queda capilar
"A falta de vitamina D também é fator para a queda capilar. As pessoas estão tendo queda de cabelo - e nem sempre é nutricional, porque todo mundo, provavelmente, está comendo muito mais. Tem fatores emocionais também, essa queda pode ser por stress por não saber o que vai acontecer, por ter salários reduzidos. Então é importante cuidar dos cabelos. Muitas gente, por estar em casa direto, decide lavar uma vez na semana, e quando for lavar o cabelo vai cair mesmo. Mas não porque você lavou e sim porque os fios estavam ali presos e quando você lava eles se desprendem do couro cabeludo. Por isso pode lavar o cabelo, usar xampus hidratantes, usar máscaras de hidratação normais, que compra em farmácia mesmo, com óleo de coco, óleo de argan. E paralelamente você também pode acessar os médicos que estão atendendo online para solicitar exames e entender o quadro. Mas o que eu estou vendo, em sua grande maioria, é por stress mesmo. Não é carência vitamínica e nem nada. É o stress que está fazendo as pessoas perderem cabelo mesmo".

Acne
"Quem usa máscara no trabalho durante o tempo todo tem desenvolvido muita acne. A oclusão da máscara faz uma hiperprodução de sebo. E a ingesta de carboidratos, chocolates, que são coisas que talvez a pessoa não comia tanto e aumentou agora, também prejudica. Então o ideal é que a pessoa passe um hidratante específico para pele oleosa antes de sair de casa. Também pode usar um filtro solar, também para pele oleosa. Mas, se não quiser, já existem máscaras com tecidos com proteção UV. E depois à noite, lava o rosto e passa o hidratante novamente. Quando estiver de folga, nos finais de semana, pode usar uma máscara facial de argila verde, que vai ajudar a diminuir um pouco a oleosidade que a pele faz quando usa a máscara de proteção".


Outros tratamentos
"A gente está vivendo um momento muito complicado, e nem todo mundo está conseguindo tornar os períodos livres produtivos, como todo mundo sugere. Mas, eu acho que este é um momento em que, se você tiver sanidade mental de poder se olhar, nem todo mundo está em condições de ter essa preocupação, é uma boa hora para fazer tratamentos com ácido glicólico, ácido retinóico. Fazer uma renovação celular, usar clareadores. Ficar atento ao filtro solar, por conta das luz visível, reaplicar de 3 em 3 horas. As pessoas que tem melasma, por exemplo, estão muito melhores, porque estão tendo menor ação da luz e do sol.Mas não precisa ser um filtro cremoso, melequento. Existem pós, séruns, produtos mais leves, que tem para todos os tipos de pele. Fica mais fácil de reaplicar".

Katleen Conceição, dermatologista (Foto: Divulgação)

Katleen Conceição, dermatologista (Foto: Divulgação)

Laser para pele negra
"Eu comecei a receber muitos pacientes negros querendo fazer laser e eu nunca podia imaginar que os tratamentos seriam tão diferentes. Eu estudei dermatologia e nunca me questionei que eu não estava me vendo no livro. Então não foi uma oportunidade que eu vi, um público que eu encontrei. Foi uma carência. As pessoas chegavam e eu ficava com vergonha de não atender às expectativas deles. E aos poucos eu fui entendendo as diferenças para fazer um peeling, um laser. Por quê? Porque a pele negra tem maior quantidade de melanina, que é o que confere o tom escuro da pele, e mancha com muita facilidade. A grande questão é que os médicos precisam saber manejar o laser, e ainda, resolver um problema que venha a aparecer. A pele pode escurecer depois de 2, 3 dias se tiver alguma questão, a pessoa esteja mais bronzeada. Por isso a dificuldade: o laser na pele negra mancha por qualquer coisa. A luz pulsada eu quase não uso mais em pele negra. O peeling de fenol é um procedimento que não pode ser feito em pele negra. As fluências do laser de depilação precisam ser baixos. A questão do cabelo também é importante. Eu faço muito laser capilar para estimular o crescimento por alopécia de tração. Hoje, ainda bem, as pessoas dão valor para a volumização. Mas é preciso entender que o cabelo étnico é um cabelo diferente. Ele tem menos água, menos ceramidas, tem mais tendência a formar nós".


Negros, consumidores de beleza
"As pessoas tem que parar de rotular que nós, negros, não temos condições. Se for importante para a pessoa, ela vai fazer. Meu pai [o dermatologista João Paulo Conceição] sempre me ensinou: passe o que tem de melhor para o paciente. Cabe a ele decidir se vai comprar ou não. Tá certo que a questão financeira para a comunidade negra ainda vai demorar. Quem vai colher mesmo vai ser os netos das nossas filhas. A pessoa negra, mesmo que não tenha condições, mas tem auto-estima, vai procurar um serviço de qualidade, coloca isso em sua lista de prioridades".


Clientela estrelada
"Todos os famosos negros que chegaram em mim - e que a gente construiu uma história juntos - vieram para mim com patologias típicas da pele negra, não era tanto vaidade. O Lázaro Ramos, que foi o primeiro paciente assim, muito famoso, que é uma benção, e o Mumuzinho, chegaram até mim por causa de foliculite. Preta Gil tinha muita olheira, a Ludmilla tinha hiperpimentação por acne. Fernando Torquato, que não é negro, mas acha que é..., tinha flacidez nos olhos. Hugo Gloss também queria tratar a pele. Eles vinham com patologias. Não era só para ficar mais bonito. Na verdade eles já se achavam bonitos, mas queriam melhorar a pele. A Isabel Fillardis teve uma patologia chamada liquen plano pigmentado. Na época eu fui estudar e tinah 0,1% da população com essa doença. O único artigo que tinha era da China, era uma coisa que não existia quase! Um patologista que deu o diagnóstico e a gente comprou a briga, começou a estudar a Isabel. São doenças, doenças graves, e a gente acaba criando uma relação. Eu não consigo não consigo não ser intensa, porque eu preciso cobrar muito os meus pacientes. Se eles não fizerem o tratamento, não vai adiantar. E eu sou assim com todos. E vira uma relação muito intensa. Os meus pacientes famosos são muito generosos, eles me indicam, me citam, e não precisariam me ajudar. Nessa troca eu saio ganhando muito".