O Brasil passa pela maior epidemia de dengue dos últimos anos. De acordo com levantamentos do Ministério da Saúde, já são 1.253.000 casos notificados até o último dia 5 de março. A preocupação com a alta de infecções atinge principalmente os grupos de risco para casos graves da doença, como crianças até 2 anos e gestantes.
Por isso, pesquisadores da S Cosméticos do Bem, empresa-filha da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estão desenvolvendo um repelente de baixa toxicidade que pode ser utilizado por esses grupos.
A dengue é transmitida pela picada de mosquitos fêmea da espécie Aedes Aegypti, o que torna o uso de repelente uma das principais medidas de prevenção. A Anvisa não contraindica o uso de repelentes do mercado para gravidas, mas proíbe a utilização de produtos à base de n,n-Dietil-meta-toluamida (DEET) em menores de 2 anos. Essa substância pode ser tóxica se sua concentração ultrapassar 10% e tem risco de causar irritação na pele dos pequenos ou em pessoas mais sensíveis.
O produto desenvolvido pela S Cosméticos do Bem foi obtido a partir da planta Artemísia (Artemisia annua) com ajuda tecnológica da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. O ativo principal do repelente é a artemisinina, um óleo essencial extraído da planta e com uma série de propriedades cosméticas e farmacêuticas.
Além de ser cinco vezes menos tóxica do que o componente menos tóxico do mercado, a loção ainda será hidratante, tornando o produto ideal para o uso por gestantes e crianças.
“A nossa expectativa é que o repelente esteja no mercado ainda este ano e que possa começar a entregar segurança, saúde, bem-estar e prevenção, principalmente contra dengue, zika vírus e chikungunya, em populações especiais como crianças e gestantes”, diz Soraya El Khatib, fundadora da empresa, em comunicado.
A extração dos ativos biológicos foi realizada sob orientação da professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate, da FEA Unicamp. O diferencial da técnica utilizada pelos pesquisadores é o uso de apenas água e CO2 reutilizado de processos industriais. Estima-se que, durante todas as etapas de extração, exista uma emissão de CO2 de apenas 2%.
De acordo com a S Cosméticos do Bem, a empresa funciona como uma derivação de pesquisas realizadas na Unicamp com o objetivo de levar essas tecnologias ao mercado consumidor. Outros produtos que levam bioativos da Artemísia, que possuem aplicações antienvelhecimento, antimaláricas e antivirais, também estão sendo desenvolvidos em laboratório.