Um estudo apresentado na conferência da União Geofísica Americana (AGU) em São Francisco, nos Estados Unidos, em dezembro de 2023, sugere que a Placa Continental Indiana pode estar se dividindo em duas.
A pesquisa, que ainda não revisada por pares, foi publicada em 14 de novembro de 2023 no site ESS Open Archive. Segundo o site IFLScience, o estudo indica que a Índia, em vez de se romper verticalmente para formar um novo microcontinente (como o leste da África), pode estar se dividindo horizontalmente ao se chocar com a Eurásia.
Isso pode separar o país asiático em duas camadas, cada uma com cerca de 100 km de espessura. Além disso, a hipótese pode explicar o levantamento do planalto tibetano e da colossal cordilheira do Himalaia.
Pesquisadores acreditam que o planalto do Tibete e o Himalaia são resultados do movimento da Índia para o norte a uma taxa de 1 a 2 milímetros por ano, avançando em direção à Eurásia no processo. No entanto, isso ainda é alvo de muita discussão.
Uma hipótese diz que a Placa Indiana é muito flutuante para afundar no manto, fazendo com que ela deslize sob a Placa Eurasiática; o que, por sua vez, produz a protuberância onde está o Tibete. Já outra linha de pensamento sugere que essa placa está encurvando, o que criaria a "lombada" no território tibetano.
No entanto, na conferência da União Geofísica Americana, uma terceira opção foi apresentada. Os cientistas afirmam que a Placa Indiana está "delaminando". Ou seja, sua base densa está se desprendendo e afundando no manto, enquanto sua metade superior mais leve continua sua jornada logo abaixo da superfície.
A parte superior, segundo os cientistas, é espessa o suficiente para explicar a enorme altitude do Tibete. Enquanto isso, a seção inferior está se comportando de maneira semelhante à forma como as placas oceânicas são forçadas sob as placas continentais – por exemplo, onde a América do Sul encontra o Pacífico.
![Mapa mostra localização da Placa Continental Indiana — Foto: Wikimedia Commons](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/1cZWL3GAAI5ZwAFOornZ2QEFAM4=/0x0:1019x906/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/A/Z/AcJgadRRi3nvLrG3iRLg/indianplate.png)
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores reuniram dados de 94 estações sísmicas dispostas de oeste a leste no sul do Tibete e os combinaram com informações de ondas anteriormente coletadas, segundo o site Science Alert.
Um dos autores do estudo, Simon Klemperer, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, ficou intrigado com uma área perto do Butão onde a zona de subducção se curva, tornando-a um local privilegiado para possíveis rupturas. “É aí que as coisas ficam feias”, disse ele, à revista Science. A suspeita o levou a buscar pistas sobre a violência subterrânea por vários anos.
Os cientistas também coletaram evidências a partir de medições isotópicas de hélio que borbulham nas fontes tibetanas. Eles percorreram estradas de terra e atravessaram riachos para recolher amostras de cerca de 200 fontes naturais ao longo de quase mil quilômetros no sul do Tibete.
As amostras de gás ricas em hélio-3, um isótopo raro na Terra, que sobra da formação do planeta, sinalizaram rochas do manto sob os pés. Já aquelas empobrecidas em hélio-3 provavelmente surgiram da crosta enterrada.
Klemperer aponta que o rasgo recentemente proposto na Placa Continental Indiana também pode estar influenciando os riscos de terremotos no Tibete hoje. Entender as fronteiras e limites das placas à medida que se movem juntas não só facilita a compreensão de como nossa superfície chegou a ser como é, mas também pode informar futuros métodos de previsão de tremores.