Ciência

Por Redação Galileu

Uma equipe de astrofísicos da Universidade de Toronto, no Canadá, descobriu como a duração lenta e estável do dia terrestre causada pela atração corrente da Lua foi suspendida por mais de um bilhão de anos. A descoberta foi relatada em pesquisa publicada na revista científica Science Advances na quarta-feira (5).

O estudo revela que, de 2 bilhões de anos a 600 milhões de anos atrás, uma maré atmosférica conduzida pelo Sol contrapunha o efeito da força gravitacional da Lua, mantendo o índice rotacional terrestre estável e a duração do dia em constantes 19,5 horas.

Sem essa pausa de um bilhão de anos, que desacelerou a rotação do planeta, os dias terrestres atualmente teriam mais de 60 horas em vez de 24.

Evidência geológica utilizada por cientistas — Foto: G.E. Williams
Evidência geológica utilizada por cientistas — Foto: G.E. Williams

Há muito tempo...

Quando a Lua se formou, há mais de 4,5 bilhões de anos, o dia tinha menos de 10 horas. Desde então, a força gravitacional do satélite na Terra tem desacelerado a rotação do nosso planeta, resultando em dias cada vez mais longos. Atualmente, essa duração continua aumentando — mas numa taxa de 1,7 milissegundos por século. Por isso que não a percebemos.

A Lua desacelera a rotação do planeta ao puxar os oceanos, criando as chamadas protuberâncias de marés em partes opostas da Terra. É assim, inclusive, que temos marés altas e baixas nos mares. A força gravitacional da Lua nessas protuberâncias, junto à fricção entre as marés o chão oceânico, age como um freio na movimentação do planeta.

"A luz solar também produz uma maré atmosférica com os mesmos tipos de protuberância", explica Norman Murray, físico teórico do Instituto Canadense de Astrofísica Teórica na Universidade de Toronto, em comunicado. "A gravidade do Sol puxa essas protuberâncias atmosféricas, produzindo uma atração na Terra. Mas, em vez de desacelerar a rotação da Terra como a Lua, isso a acelera."

Animação mostra a rotação da Terra — Foto: NOAA/NASA EPIC Team

A atmosfera ressoa numa frequência determinada por vários fatores, como a temperatura. Em outras palavras, as ondas – como as geradas pela erupção do vulcão Krakatoa na Indonésia em 1883 – viajam numa velocidade determinada por seu sistema.

Dois bilhões de anos atrás, as protuberâncias atmosféricas eram maiores porque a atmosfera era mais quente. Além disso, a ressonância natural atmosférica (ou seja, a frequência pela qual as ondas se movem por ela) tinha a mesma duração do dia.

Durante a maior parte da história da Terra, a ressonância atmosférica esteve fora de sincronia com o índice rotacional do planeta. Hoje, cada uma das altas marés atmosféricas leva 22,8 horas para viajar pelo mundo; ou seja, a diferença entre essa volta e a duração de um dia é pequena.

No entanto, durante o período de mais de um bilhão de anos que foi analisado pela Universidade de Toronto, as marés atmosféricas viajavam pela Terra num período de cerca de apenas 10 horas. Além disso, em determinado momento dessa época, a rotação da Terra atingiu 20 horas.

Segundo os autores do estudo, quando a ressonância atmosférica e a duração do dia tornaram-se fatores pares – 10 e 20 –, a maré atmosférica foi reforçada, as protuberâncias tornaram-se maiores e a atração do Sol ficou forte o suficiente para contrapor a força de maré lunar.

A Terra e a Lua vistas de Marte em 2012 — Foto: NASA
A Terra e a Lua vistas de Marte em 2012 — Foto: NASA

"É como empurrar uma criança no balanço. Se o seu empurrão e o período do balanço estiverem fora de sincronia, a criança não irá muito alto. Mas, se esses dois fatores estiverem sincronizados e você estiver empurrando ao mesmo tempo em que o balanço para no fim de uma volta, o empurrão aproveitará o momento do balanço para levar a criança ainda mais pra cima. É isso que acontece entre a ressonância atmosférica e a corrente", explica Murray.

Mudança climática

Além de terem usado evidências geológicas, Norman Murray e seus colegas chegaram aos seus resultados usando modelos globais de circulação atmosférica para prever a temperatura da atmosfera naquele período. Esses modelos são os mesmos utilizados por climatologistas para estudar o aquecimento global.

"Conversei com pessoas céticas em relação à mudança climática, as quais não acreditam nesses modelos de circulação global que apontam para uma crise climática", conta o astrofísico. "E eu digo a elas: nós usamos esses modelos na nossa pesquisa e eles acertaram. Eles funcionam."

O especialista acrescenta que o aumento da temperatura terrestre por conta do aquecimento global faz com que a frequência atmosférica ressonante aumente. "Estamos movendo nossa atmosfera para longe da ressonância. Como resultado, há menos força do Sol e, por consequência, a duração do dia vai aumentar mais cedo do que se pensa", ele aponta.

Mais recente Próxima Odor das mãos revela sexo biológico – e pode ajudar investigações policiais
Mais de Galileu

Cientistas observaram região acima da Grande Mancha Vermelha com o telescópio James Webb, revelando arcos escuros e pontos brilhantes na atmosfera superior do planeta

Formas estranhas e brilhantes na atmosfera de Júpiter surpreendem astrônomos

Yoshiharu Watanabe faz polinização cruzada de trevos da espécie "Trifolium repens L." em seu jardim na cidade japonesa de Nasushiobara

Japonês cultiva trevo recorde de 63 folhas e entra para o Guinness

Especialista detalha quais são as desvantagens do IMC e apresenta estudo que defende o BRI como sendo mais eficaz na avaliação de saúde

Devemos abandonar o IMC e adotar o Índice de Redondeza Corporal (BRI)?

Consumidores de cigarro eletrônico apresentam índices de nicotina no organismo equivalentes a fumar 20 cigarros convencionais por dia, alertam cardiologistas

Como o cigarro (inclusive o eletrônico) reduz a expectativa de vida

Artefatos representam as agulhas de pedra mais antigas que se tem registro até hoje. Seu uso para confecção de roupas e tendas para abrigo, no entanto, é contestado

Agulhas de pedra mais antigas da história vêm do Tibete e têm 9 mil anos

Cofundador da Endiatx engoliu durante palestra da TED um aparelho controlado por um controle de PlayStation 5 que exibiu imagens em tempo real de seu esôfago e estômago; assista

Homem ingere robô "engolível" e transmite interior de seu corpo para público

Pesquisadores coletaram amostras do campo hidrotérmico em profundidades de mais de 3 mil metros na Dorsal de Knipovich, na costa do arquipélago de Svalbard

Com mais de 300ºC, campo de fontes hidrotermais é achado no Mar da Noruega

Além de poder acompanhar a trajetória das aves em tempo real, o estudo também identificou as variáveis oceanográficas que podem influenciar na conservação dessas espécies

6 mil km: projeto acompanha migração de pinguim "Messi" da Patagônia até o Brasil

Estudo é passo inicial para que enzimas produzidas pelo Trichoderma harzianum sejam usadas para degradar biofilmes orais

Substância secretada por fungos tem potencial para combater causa da cárie dental

Lista traz seleção de seis modelos do clássico brinquedo, em diferentes tipos de formatos, cores e preços; valores partem de R$ 29, mas podem chegar a R$ 182

Ioiô: 5 modelos profissionais para resgatar a brincadeira retrô