Biologia

Por Redação Galileu

Um aie-aie chamado Kali foi flagrado enfiando seu próprio dedo de oito centímetros dentro do nariz para tirar meleca. A gravação em vídeo mostra que essa espécie noturna de lêmure faz parte do seleto grupo de primatas que tem esse hábito um tanto quanto nojento, chamado de rinotilexia.

Essa mania não é comum apenas entre os humanos: outras 11 espécies de primatas tiram muco do nariz com o dedo, incluindo chimpanzés e gorilas.

A filmagem foi feita no Duke Lemur Center, um centro de proteção aos lêmures mantido pela Universidade Duke, nos Estados Unidos. Assista abaixo:

O comportamento foi registrado por uma equipe internacional de biólogos em estudo publicado no Journal of Zoology. A primeira autora da pesquisa, Anne-Claire Fabre, ficou supresa com o gesto do aie-aie. "Colocar todo o seu terceiro dedo no nariz é bastante impressionante! Eu estava tentando imaginar para onde estava indo, o que ajudou a inspirar nosso artigo", afirma a professora associada da Universidade de Berna, na Suíça, em nota.

A espécie de Kali é endêmica de Madagascar e está ameaçada de extinção por conta da perda generalizada de seu habitat – as florestas da ilha. Por isso, muitos aie-aie estão em zoológicos e em instalações de conservação.

O animal é conhecido por ter seis dedos em cada mão, incluindo um pseudo-polegar que ajuda a agarrar objetos e dois dedos extremamente longos (medem cerca de 8 centímetros) usados para pegar alimento. Após o flagra, uma nova função pode ser atribuída a esses dedos compridos: o de coletar muco nasal.

Por ser um dedo extremamente longo e o animal conseguir enfiá-lo inteiro na cavidade, o coautor Roberto Portela Miguez decidiu realizar uma tomografia computadorizada para entender até onde ele alcança. “Ficámos chocados com a reconstrução de que o dedo do aie-aie pode entrar pelo nariz e chegar quase até ao fundo da garganta", diz Miguez.

O dedo de oito centímetros de comprimento do Aie-aie pode alcançar pelo nariz até o fundo da garganta,  — Foto: © Anne-Claire Fabre/Renaud Boistel
O dedo de oito centímetros de comprimento do Aie-aie pode alcançar pelo nariz até o fundo da garganta, — Foto: © Anne-Claire Fabre/Renaud Boistel

O exame mostrou que, quando inserido, o longo dedo vai além da cavidade nasal, terminando na faringe, entre a parte posterior da boca e o esôfago. Contudo, o exame não consegue explicar por que o aie-aie tem esse hábito de tirar ranho do nariz. Por isso, os pesquisadores compararam os animais com outras espécies capazes de manipular objetos com precisão ao redor do mundo. Eles concluíram que grande parte delas tendem a cutucar o nariz.

“Descobrimos que o comportamento tendia a ser relatado em espécies que têm um alto nível de destreza com os dedos”, diz Roberto. "Os não primatas podem não possuir a mesma destreza para cutucar o nariz e, portanto, pode ser apenas um fenômeno que ocorre entre de nós e nossas espécies intimamente relacionadas."

O muco nasal não é somente retirado com os dedos. Muitos primatas já foram vistos usando galhos como ferramenta para cutucar o nariz também. Porém, alguns dos animais já estudados vivem em cativeiro e, por isso, podem apresentar comportamentos anormais. Para os pesquisadores, isso não é o suficiente para descartar a possibilidade de que cutucar o nariz seja um comportamento generalizado que ainda precisa ser entendido adequadamente.

“A falta de estudo até agora pode estar relacionada ao fato de ser complicado de investigar, pois é o tipo de comportamento que você pode perder se não estiver observando um indivíduo o dia todo”, explica Anne-Claire. Além disso, a pesquisadora acrescenta que outro fator que complica a observação desses comportamentos é o de que mamíferos podem ser muito esquivos.

Aie-aies são originários da ilha de Madagascar, mas enfrentam uma série de ameaças  — Foto: Wikimedia Commons
Aie-aies são originários da ilha de Madagascar, mas enfrentam uma série de ameaças — Foto: Wikimedia Commons

Um outro motivo pode estar ligado com o tabu do ato. Cutucar o nariz — e ainda por cima comer o muco— é considerado socialmente inaceitável para muitas culturas.

Ainda sem explicação, algumas hipóteses afirmam que o hábito seria simplesmente uma resposta ao desconforto do muco, enquanto outras indicam que tirar meleca possa provocar uma pequena hidratação local. O que pode ser afirmado é que existe um aspecto evolutivo no ato, uma vez que ele está presente entre os principais grupos de primatas, defendem os pesquisadores.

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