• Marília Marasciulo
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Lucros da banda Beatles teriam sido investidos em pesquisas sobre o exame, mas há quem conteste isso (Foto: Reprodução)

Lucros da banda Beatles teriam sido investidos em pesquisas sobre o exame, mas há quem conteste isso (Foto: Reprodução)

Se hoje podemos ver o corpo humano por dentro, é muito graças ao físico alemão Wilhelm Roentgen, que em 1895 descobriu os raios X. Mas, de lá para cá, houve muita evolução. Uma delas foi a criação da tomografia computadorizada, que permite que se enxergue o corpo em 360 graus. Desde 1972, essa tecnologia já contribuiu para a investigação de doenças como câncer, AVC e a atual Covid-19, causada pelo novo coronavírus.

São muitas as inovações inclusas no desenvolvimento da tomografia. Para criar as imagens, o físico sul-africano Allan MacLeod Cormack e o engenheiro britânico Sir Godfrey Newbold Hounsfield tiveram que formular cálculos matemáticos para medir a descontinuidade da densidade dos tecidos do nosso corpo. Assim, eles conseguiram construir uma super máquina que emitia raios X em diferentes ângulos. Mas o mais interessante está por vir. Reza a lenda que tudo isso só foi possível graças aos Beatles — isso mesmo, os quatro garotos de Liverpool que formaram a banda de rock mais bem sucedida de todos os tempos.

Foi justamente por causa desse sucesso todo que a gravadora da banda, a Electrical and Musical Industries (EMI), teve tanto lucro que decidiu investir um pouco de grana em pesquisas. O ano era 1967 e Hounsfield, que trabalhava na área de radares e armas guiadas há 16 anos, foi um dos cientistas que receberam fundos para investir em projetos científicos. Anos mais tarde, ele revelou que teve a ideia durante uma caminhada no interior.

Teriam os Beatles ajudado a criar a tomografia computadorizada? (Foto: Flavia Hashimoto)

Teriam os Beatles ajudado a criar a tomografia computadorizada? (Foto: Flavia Hashimoto)

“Como era de se esperar, o projeto teve várias frustrações… E alguns incidentes curiosos, sem falar nas experiências de viajar por Londres usando transporte público carregando cérebros de bois para usar nas avaliações de um scanner experimental nos laboratórios”, escreveu o engenheiro em sua autobiografia. Na época, a máquina foi batizada de EMI-Scanner, em homenagem à patrocinadora.

A tomografia computadorizada foi usada pela primeira vez em um hospital de Wimbledon em 1971. No Brasil, ela chegou seis anos mais tarde, quando o primeiro tomógrafo foi instalado em São Paulo. Em 1979, Hounsfield e Cormack receberam o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia pela invenção.

Controvérsias

Entretanto, anos mais tarde a história começou a ser contestada. Para começar, talvez tenha havido um certo exagero na parte dos Beatles, que sequer sabiam como o dinheiro estava sendo utilizado. Mas, pior, o investimento da EMI não teria sido tão significante assim: segundo um estudo do National Center for Biotechnology Information, embora a gravadora tenha investido aproximadamente 100 mil libras na criação da tomografia computadorizada, o Departamento de Saúde e Segurança Social Britânico investiu seis vezes mais, totalizando 606 mil libras. No fim das contas, o único ponto irrefutável parece ser que a invenção mudou a forma como enxergamos o corpo humano.