No sítio arqueológico Passa Cinco III, em Ipeúna (SP), arqueólogos encontraram ferramentas construídas possivelmente entre 4 mil e 8 mil anos atrás pelos primeiros humanos a povoarem a região.
Os pesquisadores da A Lasca Arqueologia resgataram cerca de 2 mil artefatos. As relíquias foram analisadas em laboratório pelos especialistas Andrezza Bicudo da Silva, Beatriz Gasques Favilla, Camila Campos Olandim, Cleide Trindade, Hyrma Ioris, Journey Tiago Lopes Ferreira, Marcia Regiane Sodré dos Santos, Pedro Müller Jr e Yan Santos Trovato.
Além da análise laboratorial, os pesquisadores fizeram com uma inteligência artificial (IA) simulações de cenários e dos artefatos quando novos. Junto de uma técnica de edição de imagens, eles mostraram possíveis contextos cotidianos e sugeriram como seriam as ferramentas acrescidas de outros elementos que podem ter se decomposto com o passar dos anos.
Os especialistas resgataram o acervo de líticos (como são chamados os artefatos feitos de pedras) em profundidades de até 1 metro no sítio arqueológico. A coleção inclui artefatos de pedra feitos com a mesma técnica usada pelos primeiros humanos a povoarem a região onde está São Paulo atualmente. As peças serviriam para trabalhar fibras vegetais, madeira, pigmentos, além de auxiliar no processamento de carnes, ossos, tendões, chifres, dentes, couro, conchas, cascos, etc.
“O que chama atenção na coleção, além de seu ótimo estado de conservação, é a quantidade de peças, o que pode indicar que o local foi utilizado como acampamento e oficina de lascamento por centenas de gerações dos primeiros humanos a povoarem o que hoje é o estado de São Paulo”, afirma Lúcia Oliveira Juliani, geóloga pela Unesp e mestre em arqueologia pela USP, além de diretora da A Lasca Arqueologia, em comunicado.
O sítio de Passa Cinco III, segundo os pesquisadores da A Lasca, serviu no período pré-colonial como local para encontrar rochas usadas na fabricação das ferramentas e como área de acampamento. Os antigos humanos se estabeleceram lá até acabarem os recursos naturais disponíveis.
Para registrar em detalhes os métodos e as técnicas de fabricação das ferramentas, os pesquisadores trabalham em laboratório fazendo a higienização, quantificação, separação, medição, pesagem, fotos e análises de todas as peças.
Essa forma de estudar os artefatos é considerada rara; geralmente, as análises arqueológicas se concentram em tipos de ferramentas que são considerados mais relevantes para caracterizar o acervo. Um a um, os cientistas estão analisando desde pontas de lança e machados de mão até os menores fragmentos, denominados estilhas.
“O principal desafio da análise lítica é resgatar uma memória que a maior parte da humanidade já perdeu", afirma Caroline Rutz, arqueóloga coordenadora dos trabalhos de laboratório da A Lasca. "Com exceção das pontas de flecha e dos machados, que possuem um formato reconhecível até hoje, os instrumentos líticos se assemelham ao cascalho comum aos olhos destreinados”.
Os arqueólogos esperam poder relacionar as técnicas usadas na fabricação das ferramentas ao que se sabe sobre a tecnologia humana na área nos períodos iniciais da Pré-História brasileira. O trabalho foi realizado como parte das pesquisas que acompanham o processo de licenciamento ambiental relacionado à instalação de uma usina de compostagem na região.
Após a análise no laboratório da A Lasca Arqueologia, as peças do Passa Cinco III irão para o Museu Municipal Elisabeth Aytai, localizado do município de Monte-Mor (SP).