Arqueologia

Por Redação Galileu

Um novo estudo publicado no último dia 6 de janeiro na revista Science Advances sugere que um antigo calendário maia e olmeca usado até hoje por indígenas pode datar de 1,1 mil a.C — séculos antes do que se acreditava.

O calendário chamado cholq'ij (significa "ordem dos dias"), encontrado na região maia do México e da América Central, serve para anotar o tempo com combinações de 13 números e 20 símbolos, sempre na mesma sequência. Por exemplo, 6 de janeiro de 2023 seria “6 Coelho”, conforme os maias.

Os 260 dias do calendário correspondem a alinhamentos entre estrelas, características arquitetônicas de edifícios e marcos naturais. Esta forma de organização pode ter ajudado em decisões políticas, de agricultura e religião.

Anteriormente, a evidência mais antiga deste calendário veio de um mural contendo um pedaço de escrita hieroglífica encontrado em San Bartolo, na Guatemala, datado de 300 a.C. Na esperança de encontrar evidências mais permanentes, Ivan Šprajc, arqueólogo do Instituto de Estudos Antropológicos e Espaciais da Eslovênia, recorreu a uma técnica de mapeamento a laser (Lidar), que pode revelar estruturas antigas escondidas e seus alinhamentos cósmicos.

Imagens mostrando exemplos de orientações solares. As 20 plataformas de borda em El Cacho (marcadas por números) provavelmente representam a unidade básica do calendário mesoamericano — Foto: Ivan  Šprajc et.al
Imagens mostrando exemplos de orientações solares. As 20 plataformas de borda em El Cacho (marcadas por números) provavelmente representam a unidade básica do calendário mesoamericano — Foto: Ivan Šprajc et.al

Šprajc fez uma parceria com o arqueólogo Takeshi Inomata, da Universidade do Arizona (EUA), que publicou há dois anos a maior pesquisa Lidar até hoje das terras baixas da Costa do Golfo do México, revelando quase 500 monumentos antigos.

Juntos de Anthony F. Aveni, da Universidade de Colgate, em Nova York, os especialistas analisaram 415 desses complexos para ver como eles se alinhavam com o nascer e o pôr do Sol, a Lua, Vênus e outros corpos celestes.

Os cientistas descobriram que a maioria dos complexos apresentava alinhamento leste-oeste. Quase 90% deles tinham pontos arquitetônicos alinhados com o nascer do Sol em datas específicas: 11 de fevereiro e 29 de outubro do calendário gregoriano, datas com 260 dias entre elas.

O eixo corresponde ao pôr do sol em 30 de abril e 13 de agosto, que pode ter sido observado da pirâmide mais alta até uma menor a oeste  — Foto: Ivan  Šprajc et.al
O eixo corresponde ao pôr do sol em 30 de abril e 13 de agosto, que pode ter sido observado da pirâmide mais alta até uma menor a oeste — Foto: Ivan Šprajc et.al

O mais antigo dos complexos data de cerca de 1,1 mil a.C., sugerindo que o calendário é possivelmente tão antigo quanto. Outros monumentos apontados para o nascer do Sol tinham intervalos de 130 dias, marcando meio calendário.

Já outros correspondiam ao nascer do Sol separados por múltiplos de 13 ou 20 dias, refletindo os 13 números e 20 signos do sistema de notação do calendário e correspondendo a equinócios e solstícios.

Além disso, a orientação de alguns complexos combinava com os ciclos de Vênus e da Lua, associados à estação chuvosa e ao cultivo de milho. Conforme Šprajc conta a revista Science, o calendário pode ter sido útil para mostrar quando certos recursos estavam mais abundantes, estando intimamente ligado ao ciclo de crescimento desse grão, que era um alimento básico das culturas mesoamericanas antigas e modernas.

O sistema também pode ter se alinhado com o período da gravidez humana, que dura, em média, 260 dias. Enquanto isso, outros complexos não pareciam ter uma orientação específica, o que levanta mais questões sobre outros possíveis alinhamentos cosmológicos, segundo Šprajc.

Nos dias atuais, o indígena Willy Barreno Minera, do grupo Maya K’iche’, da Guetamala, usa o holq'ij para aconselhar sua comunidade sobre quando começar a preparar o solo para plantar milho, por volta de meados de fevereiro. Ele atua como ajq'ij, um guardião do dia e guia espiritual.

A esposa dele, Ixquik Poz Salanic, diarista e advogada, usa os ciclos lunares e o calendário para oferecer conselhos médicos e ajudar parteiras no nascimento de bebês. Até pouco tempo, a comunidade também usava o holq'ij para marcar quando era hora de mudar as administrações do governo.

“Mesmo quando não temos mais uma grande arquitetura maia, nunca perdemos a conta dos dias”, diz Minera. “Dizemos que quando os colonizadores [espanhóis] chegaram, queimaram os livros, destruíram as estelas. Mas eles não queimaram o céu, eles não queimaram o Sol”.

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