• Redação Galileu
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Novos estudos alertam para aumento de queimadas e desmatamento na Amazônia (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Novos estudos alertam para aumento de queimadas na Amazônia (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) revelam que o Brasil bateu um novo recorde: junho de 2021 registrou o maior número de focos de calor na Floresta Amazônica desde 2007, na comparação com o mesmo mês dos anos anteriores.

Os 2.308 pontos de calor identificados por satélite representam um aumento de 2,6% em relação a junho de 2020, quando o recorde da série histórica já havia sido quebrado com 2.248 focos de queimadas.

Para ambientalistas, o resultado não é surpreendente. Na avaliação de Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, a moratória do fogo, que proíbe o uso das queimadas legais em território nacional por 120 dias, e o envio de tropas militares para o combate de atividades criminosas em estados amazônicos até 31 de agosto não resolvem o problema. “Além de ser por um período mais curto do que nos anos anteriores, o próprio decreto já avisa desmatadores e grileiros onde serão feitas as fiscalizações", observa, em nota.

O Greepeace também destaca movimentações de Brasília que são desfavoráveis à conservação. Os Projetos de Lei 2633 e 510, que tramitam no Congresso Nacional, procuram flexibilizar os critérios de regularização fundiária, anistiando grileiros e estimulando o desmatamento.

Há ainda o PL 490, que visa abrir terras indígenas para atividades predatórias. "A floresta e seus povos estão sendo atacados por todos os lados, seja por desmatadores, grileiros, madeireiros e garimpeiros que avançam sobre a floresta ou territórios, seja por meio do Congresso e do Poder Executivo, que não combatem crimes e danos ambientais e os estimulam por atos ou omissões", afirma Batista.

Tendência de agravamento

E a situação pode piorar mais. Uma área de quase 5 mil quilômetros quadrados da Amazônia — praticamente quatro vezes o tamanho do município de São Paulo — está sob alto risco de incêndio. O diagnóstico foi feito por membros do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), no Brasil, e do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, nos Estados Unidos.

De acordo com os especialistas, trata-se de regiões no sul com vegetação derrubada e seca desde 2019. Nesse caso, a queimada é a última etapa do desmatamento, sendo a forma mais barata e rápida de limpar um terreno para uso futuro.

Mais de um terço da área que merece maior atenção está distribuída por dez municípios de quatro estados: Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia. "Saber que existe essa quantidade de combustível esperando para queimar já seria suficiente para determinar ações em campo que coíbam a prática", observa, em nota, Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam.

A análise alerta também para a seca intensificada pelo fenômeno La Niña. Juntos, esses dois fatores podem aumentar a incidência do fogo na Amazônia. A preocupação é especialmente grande porque queimadas que acontecem em áreas recém-derrubadas podem facilmente escapar para florestas vizinhas, resultando em um incêndio maior e mais difícil de controlar.

Apesar de as informações que podem embasar decisões de gestão estarem disponíveis, o planejamento governamental não tem atendido às expectativas dos especialistas. Entre os 10 municípios sob condições secas ou de extrema seca, que somam 283 mil quilômetros quadrados de áreas desmatadas e não queimadas, apenas um — Lábrea (AM) — faz parte da lista dos 26 que receberão as Forças Armadas em 2021, segundo o decreto de Garantia de Lei e Ordem (GLO).

"A nova GLO determina 26 municípios prioritários em cima dos dados do passado em vez de incorporar tendências do presente", comenta André Guimarães, diretor-executivo do Ipam. "Boa ciência deveria ser a base para a tomada de decisão”, finaliza.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.