• Redação Galileu
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Pesquisa comprova que geleira localizada na Antártida pode ultrapassar ponto de inflexão (Foto: Danting Zhu/Unsplash)

Estudo mostra que geleira localizada na Antártida pode cruzar seu ponto de inflexão (Foto: Danting Zhu/Unsplash)

Pesquisadores da Universidade de Northumbria, na Inglaterra, conseguiram comprovar, pela primeira vez, que a geleira de Pine Island pode ultrapassar um ponto de irreversível em seu processo de degelo. O estudo, publicado no último dia 25 de março no periódioco The Cryosphere, alerta para a possibilidade de que o fenômeno leve a um derretimento rápido e irreversível, com expressivas consequências globais relacionadas ao nível dos oceanos.

Localizada na região oeste da Antártida, a Pine Island é a geleira que mais tem perdido gelo no continente. Junto ao glaciar Thwaites, atualmente ela corresponde a 10% da elevação do nível dos oceanos. “O potencial que essa região tem de cruzar um ponto irreversível já tinha sido levantado no passado, mas o nosso trabalho é o primeiro a confirmar que a geleira de Pine Island pode, de fato, ultrapassar esse limite”, afirma, em nota, Sebastian Rosier, autor principal do estudo.

Por meio de um modelo de última geração que analisa o fluxo de gelo, os pesquisadores conseguiram distinguir três pontos de inflexão. “Várias simulações de computador ao redor do mundo estão tentando quantificar como as mudanças climáticas podem afetar o manto de gelo da Antártida Ocidental, mas é desafiador identificar se um período de recuo é um ponto de inflexão”, relata Rosier.

Os dois primeiros pontos mencionados na pesquisa não são muito expressivos, mas representam um aumento considerável do nível do mar. O terceiro, por sua vez, é o que mais preocupa os especialistas. Ele seria provocado pelo aquecimento dos oceanos em cerca de 1,2 ºC e causaria um recuo irreversível da geleira — cenário que poderia iniciar o colapso do manto de gelo da Antártida Ocidental, que tem gelo suficiente para aumentar o nível do mar em mais de três metros.

Acredita-se que essa situação seja cada vez mais provável. Na análise dos cientistas, o aquecimento a longo prazo das Águas Profundas Circumpolar e a mudança nos padrões de ventos no mar de Amundsen são dois fatores que podem expor a plataforma de gelo da geleira de Pine Island a águas mais quentes por longos períodos.

Para o pesquisador Hilmar Gudmundsson, a pesquisa representa um grande passo para compreender a dinâmica de Pine Island. “Estou animado por finalmente termos respostas mais concretas, mas as descobertas do estudo também me preocupam”, observa. “Se a geleira entrar em derretimento irreversível e instável, o impacto no nível do mar será de metros e, uma vez que o recuo começar, pode ser impossível pará-lo”, alerta Gudmundsson.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com