• Redação Galileu
Atualizado em
Extensão do desmatamento no estado de Rondônia (Foto: Wikimedia Commons)

Extensão do desmatamento no estado de Rondônia (Foto: Wikimedia Commons)

Cerca de 97% da área terrestre do nosso planeta já não está mais ecologicamente intacta, de acordo com estudo publicado nesta quinta-feira (15) na revista científica Frontiers in Forests and Global Change. A pesquisa revela que vivemos um cenário sombrio, no qual boa parte dos habitats foram perdidos para a intervenção humana.

A maioria dos trabalhos anteriores concentrava-se em imagens aéreas de regiões desflorestadas para mapear a influência humana nos habitats. Estimava-se que entre 20 a 40% da superfície terrestre do planeta estava intacta de perturbações como a construção de estradas, assentamentos e poluição sonora.






Porém, um time internacional, liderado por especialistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, adotou uma abordagem diferente no novo estudo: eles consideraram as áreas-chave de biodiversidade (KBAs, na sigla em inglês), aquelas que ainda mantêm todas as suas espécies, sem nenhuma perda de abundância natural.

Para determinar se um local era mesmo uma KBA, os experts compararam a região com o que ela deveria ter sido no ano 1500 d.C, que é a data utilizada para incluir animais na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

A pesquisa também utilizou imagens aéreas e analisou a presença de diferentes tipos de espécies da fauna. Além disso, avaliou a integridade funcional, isto é, se o número de exemplares de animais caiu a ponto de prejudicar o funcionamento do ecossistema como um todo.

Mapa da pesquisa revela quantidade de espécies extintas em várias regiões ao redor do mundo (em cinza o país, em cores as áreas conforme a quantidade de espécies que estão extintas) (Foto: Divulgação/Andrew J. Plumptre et.al)

Mapa da pesquisa revela quantidade de espécies extintas em várias regiões ao redor do mundo (em cinza o país, em cores as áreas conforme a quantidade de espécies que estão extintas) (Foto: Divulgação/Andrew J. Plumptre et.al)


Com isso, os pesquisadores descobriram que apenas 2 a 3% da superfície terrestre da Terra está ecologicamente intacta – estimativa que é aproximadamente 10 vezes menor do que a esperada anteriormente. 

“O que isso significa basicamente é que apenas 2 a 3% da superfície terrestre do mundo pode ser considerada semelhante a 500 anos atrás, tanto em termos de habitat intacto quanto de fauna intacta”, explica Andrew Plumptre, primeiro autor da pesquisa, ao site Inverse.

Outra informação alarmante é que apenas 11% dessas áreas remanescentes são consideradas protegidas. Entre as áreas intactas estão tundras e biomas boreais do leste da Sibéria e norte do Canadá; partes das florestas tropicais da bacia do Amazonas e do Congo, além do deserto do Saara.

Apesar do declínio notável dessas áreas silvestres, os pesquisadores dizem que ainda há esperança de preservá-las. Eles estimam que até 20% da superfície terrestre poderia ser restaurada por meio da reintrodução de apenas algumas espécies no habitat remanescente.






Plumptre defende que as áreas intactas também deveriam ser pauta das negociações da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). O tratado internacional multilateral da Organização das Nações Unidas (ONU), assinado por mais de 160 países, tem como foco a conservação da biodiversidade da Terra.

"Foi demonstrado que o habitat intacto tem benefícios importantes para a vida selvagem e as pessoas e, como resultado, precisa ser um alvo crítico das negociações em andamento da Convenção sobre Diversidade Biológica, estrutura de biodiversidade global pós-2020”, comenta Plumptre, em comunicado.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com